ASSIS, Joaquim Maria Machado. O Alienista Rio de Janeiro. Editora Ática, 1882, p.86.

Machado de Assis, escritor brasileiro, nascido no Rio de Janeiro em 1839, presidente da academia de letras até seu falecimento em 1908, em sua cidade natal Itaguaí, escritor de varias obras literárias, romantismo, contos, crônicas, dentre as mais conhecidas: Memorias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Poesias Completas, Quincas Borba, e O Alienista.

No conto O Alienista, o autor relata uma autocrítica da sociedade burguesia hipócrita brasileira do século XIX, para tal usa a figura da pessoa do Dr. Bacamarte, renomado médico brasileiro que depois de um período morando na Europa tomou a decisão de voltar a sua cidade natal Itaguaí. Após ter o apoio dos membros colegiados da câmera legislativa da cidade resolve construir um centro de pesquisa ou internação dos doentes mentais que se chamará, casa verde nome pelo qual fazia referência às cores das janelas. Os loucos daquela região seriam cuidados e tratados fazendo com que aprimorasse seus estudos sobre a loucura.

Por ser um médico renomado, ter estudado na Europa, conceber maior inteligência em relação ao conhecimento da cidade em que vivera e gozar da época da burguesia hipócrita seu poder de persuasão crescia extensamente em prol da obsessão dos seus experimentos, assim deteve privilégio e honra nada mais justo para tal período. Observa-se que a metodologia pregada só obteve sucesso devido aos fatores da sociedade daquele período histórico.

Entende se que os estudos realizados pelo Bacamarte primeiramente não deveria envolver os seres humanos muito menos as pessoas daquela cidade, pois segundo a lei dos direitos humanos não devem ser realizados experimentos que envolvam inferência e danos diretos na vida e conduta das pessoas.

A teoria preconizada pelo alienista relata “Onde há razão supostamente há um desequilíbrio,” neste contexto, a visão da loucura argumentada aparenta ser um desvio de conduta, porém não necessariamente deveria infringir o modelo de aprisionamento de pessoal ou reclusão destes vivenciada no conto.

Quando o Dr. Bacamarte resolve expor a teoria para o Padre Lopes, e este não concorda com a ideia achando a uma ameaça a tranquilidade da cidade. Este trecho deixa a intender a ironiza do autor sobre o papel e o poder da igreja no contexto histórico. Pois se não há tranquilidade como seria o convívio e a hegemonia da igreja.

O padre como representante da igreja tenta amenizar a situação dizendo a D. Evarista para convencer seu marido a dar um passeio ao Rio de Janeiro, pois estudar exacerbadamente “vira o juízo”. Compreende-se que, a igreja pelo seu representante usou de um artificio para que a soberania do seu clero permanecesse inabalável, porque, de certa forma o alienista estava prejudicando a autoridade religiosa e o convívio da comunidade.

Neste intuito, o pesquisador sábio que era passou a internar na casa verde boa parte das pessoas que frequentavam a igreja, inclusive o padre e posteriormente sua mulher, mostrando que nada nem ninguém poderiam confrontar suas ideologias nem mesmo os representantes da sociedade. Bem como visto quando um dos seus opositores, o “Porfiro” que era líder dos revoltosos movido por interesses meramente políticos resolve reunir com o Dr. Bacamarte, mas, ao invés de despedi-lo, junta se a ele e assim as internações continuam.

As ações de tratamento e reclusão de 75% da população de Itaguaí eram feitas de maneira igual pelo Bacamarte desta forma o mesmo passa a agir como se os indivíduos tivessem os mesmos transtornos. Deste modo as atividades realizadas pelo Simão assemelham-se com os modelos de tratamento dos manicômios e sanatórios. Estes também não respeitavam as individualidades e supostamente as sanidades de cada internato. Sabe-se que para cada tipo de doença exige terapêutica diferenciada, bem como, para cada paciente.

Neste sentido a população indigna-se com tamanho desrespeito das imensas internações e reivindicam que soltem todos os internados. Fato marcado pela historia e perceptível na luta antimanicomial que pregava o conceito de “reessocializar sim excluir não”.

Devido o médico soltar todos os pacientes e mudar de teoria concluir-se que, era o único com perfeito juízo e resolve se internar para estuda-lo algum tempo depois acabará morrendo. Percebe-se que nem mesmo o Dr. Simão tinha certeza da loucura nem os caminhos que o levariam a tamanha discrepância de pensamento.

Neste livro o autor de forma sarcástica ironiza a ciência da época e o modo como os estudiosos tentavam entender e esclarecer a doença mental, também vista como loucura. Cabe ressaltar como era a visão da loucura e como estes sucumbiam-se aos detentores do poder hipócrita da época.