RESENHA DO CONTO: A HORA E VEZ DE AUGUSTO MATRAGA

O conto “A Hora e Vez de Augusto Matraga” de João Guimarães Rosa voltado para questão da religiosidade gira em torno da história de conversão de Augusto Matraga, mais conhecido como “Nhô Augusto”. Um homem que passa por vários acontecimentos e mudanças, e os acontecimentos é que o fazem refletir e pensar melhor sobre sua vida, tendo como objetivo final salvar sua alma.

No início Nhô Augusto é um homem machista, quer mandar em todos, quer que todos o obedeçam, um valentão perante a sociedade, possuía seu próprio bando, pode-se dizer que é o típico “cangaceiro” do sertão. É um homem pecador, pois mesmo sendo casado e tendo uma filha, vive cometendo adultério, ele preocupa-se apenas consigo mesmo, não pensa em Deus.

Por causa de suas atitudes Nhô Augusto começa a perder as pessoas ao seu redor, primeiro sua esposa e sua filha que fogem com outro, depois seus capangas que vão trabalhar para seu rival. Nhô Augusto se acha muito valente e vai atrás de vingança, acaba se dando muito mal quase morre de tanto ser espancado por seus ex-capangas, mas ele consegue escapar rolando num barranco, um milagre, uma prova que Deus está dando mais uma chance a Nhô Augusto.

Pode-se dizer que é a partir deste momento que Nhô Augusto começa a sua jornada de penitência buscando a sua salvação. Ele é encontrado por um casal de negros que o abrigam no casebre deles e o aconselham a começar rezar e a pedir perdão a Deus por seus pecados, ele sabe que fez muitas coisas horríveis e questiona “-- Mas, será que Deus vai ter pena de mim, com tanta ruindade que fiz, e tendo nas costas tanto pecado mortal?!” (ROSA, 2001, P. 379). Ele tem medo que Deus não o perdoe, mas o padre o aconselha a ter fé e confiar em Deus. Então começou a fazer penitências para ir se redimindo e receber sua recompensa.

Nhô Augusto estava decidido mudar de vida e ir para o céu, “—Eu vou p’ra o céu, e vou mesmo, por bem ou por mal!...E a minha vez há de chegar... p’ra o céu eu vou , nem que seja a porrete!...”(ROSA, 2001, p. 381) aos poucos foi saindo do caminho do mal, da perdição e entrando no caminho do bem e da salvação. Durante o período de redenção ele passa por muitas provações e tentações, mas a vontade de salvar sua alma é maior e ele resiste a todas, tornando-se um homem da paz que admirava e achava beleza em tudo.

Matraga sabe que sua hora estava chegando e decide ir embora num jumento. Alguns autores comparam determinados fatos do conto com alguns trechos da bíblia, Segundo (GALVÃO, 2008) Matraga passa a ser nomeado o homem do jumento. A imitação de Jesus vai se acentuando, ou seja, há neste momento uma comparação do personagem com Jesus Cristo, pois Jesus entrou em Jerusalém montada a um jumento também. Isso fica nítido no seguinte trecho do conto, “E o povo, enquanto isso, dizia: __ Foi deus quem mandou esse homem no jumento, por mor de salvar as famílias da gente!...” (ROSA, 2001, p. 412).

Quando chega ao arraial do rala-coco Matraga passa por seu ultimo desafio, ele tem que enfrentar Joãozinho Bem-Bem que é como se fosse a encarnação do Nhô Augusto do mal e seu bando  que estão prestes a matar uma família por vingança, como prova de que Matraga está realmente mudado ele tenta convencer Joãozinho Bem-Bem a não matar a família, porém tem seu pedido negado e eles acabam lutando e morrendo. Matraga morre feliz, pois sua hora chegou, nos seus últimos suspiros ele pede a benção para sua filha e perdoa sua esposa e consegue o que mais desejava a salvação. A felicidade de Matraga durante na cena final representa a alegria dos mártires, da alma que, enfrentando a aprovação, reconhece que esta prestes a integrar-se em Deus, passando pelo sacrifício do corpo. Esse sacrifício, se não é voluntário e alegre, feito com a face resplandecente, não terá validade. Pois, do ponto do mártir, que prêmio maior pode ele visar senão a misericórdia divina de alcançar a coroa mediante o martírio. (GALVÃO, 2008, p.80).

Essa História não acontece só na ficção, mas principalmente na realidade, é da natureza de muitos seres humanos procurarem a Deus só no momento de dificuldade, de maior precisão, é preciso passar por um sofrimento para se lembrar de Deus. Fazem pedidos e promessas a Deus, quando são atendidos se tornam servos fiéis, uns na mesma religião outros trocam de religião. Felizes são aqueles que ainda agradecem, pois muitos, depois que estão bem se esquecem de Deus novamente.

REFERÊNCIAS

GALVÃO, Walnice Nogueira. "Matraga: sua marca". In Mínima mínica: ensaios sobre Guimarães Rosa. São Paulo, Companhia das Letras, 2008.

ROSA, João Guimarães. "A hora e vez de Augusto Matraga". In Sagarana. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2001

https://dialogosliterarios.files.wordpress.com/2012/10/112_pdfsam_scripta-alumni_n-7_2012.pdf

https://veele.files.wordpress.com/2010/02/a-hora-e-vez-de-augusto-matraga.pdf

https://www.youtube.com/watch?v=R0-qSc2NhO4 acessado em 05/08/2015