BIELSCHOWSKY, Ricardo. Estratégia de desenvolvimento e as três frentes de expansão no Brasil: um desenho conceitual. Economia e Sociedade, Campinas, v.21, p. 729-747, dez. 2012. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ecos/v21nspe/v21nspea02.pdf>. Acesso em: 10 set. 2015.

Introdução

Contribuindo para a discussão e formulação de uma estratégia para o desenvolvimento de longo prazo no Brasil, Bielschowsky (2012) sugere a utilização do que denominou de “três motores do desenvolvimento” já existentes no país: consumo de massa advindo de um grande mercado interno e a possível expansão da estrutura produtiva; vastos recursos naturais e investimentos em infraestrutura. Dessa forma, as demandas originadas dessas três frentes de expansão impulsionam a capacidade produtiva do país, que deve ser traduzida em “expansão do investimento” de forma a proporcionar o desenvolvimento. É interessante destacar que as exportações de produtos industrializados não se constituem em um “motor do desenvolvimento”, uma vez que possuem somente um papel complementar em relação ao mercado interno. Entretanto, apenas os motores do desenvolvimento não são suficientes, pois é necessário que eles sejam “turbinados”, por meio da inovação tecnológica e da revitalização dos encadeamentos produtivos tradicionais. Com relação a inovação, esta permite que: atividades produtivas ainda iniciantes se transformem em “núcleos estruturantes” da economia brasileira; que a biodiversidade seja melhor utilizada e que os encadeamentos produtivos sejam disso, no ano em questão (2012), a China estava começando a desapontar como centro dinâmico da economia mundial, levando o Brasil a decidir se aceitaria ter sua economia “reprimarizada” ou se, a partir da valorização das exportações de matérias primas, passaria a fortalecer as atividades primárias e a indústria nacional. (BIELSHOWSKY, 2012, p. 732). 1 O estágio atual do debate brasileiro sobre desenvolvimento O pensamento desenvolvimentista, (favorável a atuação do Estado na economia), foi amplamente aceito no Brasil a partir da década de 1950, momento no qual o processo de industrialização ocorria de forma acentuada e rápida por meio do planejamento estatal. Porém, a partir dos anos 80, em um contexto marcado por alta inflação, crise externa e fiscal, perda da articulação do Estado e estagnação econômica, a ideologia desenvolvimentista perdeu sua influência. Assim, a partir do final da década de 80, o neoliberalismo (que defende o livre mercado, isto é, a não intervenção do governo), passa a ser a ideia de pensamento predominante. (BIELSCHOWSKY, 2012). Todavia, Bielschowsky aponta que essa “ transição de pensamento”, não ocorreu de forma tão definida, uma vez que a liberalização comercial e financeira ocorreu em um momento em que a ideologia neoliberal ainda estava amadurecendo no país. Foi entre 1995- 1998, que o neoliberalismo se tornou mais expressivo, quando o Congresso Brasileiro perdeu força e várias empresas nacionais foram privatizadas. Entretanto, pode-se dizer que nas últimas décadas, houve um equilíbrio entre o pensamento neoliberal e desenvolvimentista no campo da alocação dos recursos; e entre o pensamento ortodoxo e heterodoxo no campo da macroeconomia do país. (BIELSCHOWSKY, 2012). Apesar da ascensão do pensamento liberal, Bielschowsky (2012) salienta que a produção acadêmica sobre o desenvolvimentismo continuou e até mesmo aumentou a partir do fim da década de 80. Tal fato ocorreu, pois, instituições da “era desenvolvimentista” como o BNDES e o IPEA ainda estavam atuantes, mantendo sua “missão original” delineada na época em que foram criadas. Outro fator é a expansão do número de professores de Economia e de centros acadêmicos no país. Todavia, a temática dos trabalhos desenvolvimentistas mudou com o passar do tempo: antes dos anos 80, a discussão estava centralizada na industrialização, vista como um processo de longo prazo e previsível. Porém, com a estagnação da economia e da própria indústria a partir do fim da década (em um contexto de grandes transformações internacionais, devido a globalização e expansão tecnológica), a discussão sobre o desenvolvimento ficou incerta, sem ter referência de qual estratégia poderia ser adotada para o Brasil. (BIELSCHOWSKY, 2012, p. 735). A partir do início dos anos 2000, com a melhora no balanço de pagamentos do país (importações chinesas de matérias primas cresceram significativamente), uma nova “onda” de discussões sobre o desenvolvimento começou a surgir, abrangendo tanto fatores macroeconômicos, como as formas de alocar recursos para transformar a estrutura econômica do Brasil. Neste cenário, Bielschowsky destaca três estratégias que surgiram dos novos debates: “ i) Crescimento com redistribuição de renda pela vida do consumo de massa (PPA 2004-2007); ii) Investimentos em infraestrutura (PAC); iii) Inovação (PITCE, PDP, Plano Brasil Maior). ” (BIELSCHOWSKY, 2012, P. 736). Porém, não houve uma articulação entre essas estratégias e na prática, nenhuma delas surgiu como um “condutor” do desenvolvimento nacional. Em suma, uma estratégia para o desenvolvimento ainda estava por ser feita. [...]