Resenha de biografia de Allan Kardec.

Rogério Duarte Fernandes dos Passos

MAIOR, Marcel Souto. Kardec: a biografia. Rio de Janeiro/ São Paulo: Record, 2ª ed., 2013, 364 p.

1. Sobre o autor.

Marcelo Souto Maior é jornalista, roteirista e escritor com grande reconhecimento no mercado editorial brasileiro, trazendo à baila “Kardec: a biografia”, ao lado de outras obras em que retrata temas do Espiritismo.

O presente livro abordado igualmente obteve êxito, inspirando a produção de “Kardec – O Filme”, cinebiografia brasileira produzida em 2018 e que contou com a direção de Wágner de Assis.

2. Sobre a obra.

Exercitando tentativa de distanciamento diante do tema pesquisado, Marcel Souto Maior traz na presente obra resenhada a vida de Hipolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), o educador francês discípulo de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), que saiu da “vida civil” para assumir o pseudônimo de Allan Kardec na tarefa de codificar os fenômenos que, sistematizados, iniciaram a jornada da Doutrina Espírita.

Allan Kardec – nome recebido em encarnação no tempo dos druidas – torna-se a identidade para diferenciar a obra da codificação espírita dos seus demais trabalhos de natureza pedagógica, sendo a referência de um movimento iniciado na efervescente França ilustrada e que se substancia no Brasil em missão de aperfeiçoamento e difusão.

Se os fenômenos estudados por Kardec não foram exclusivos da França, será naquele país e com Kardec que eles adquirirão um sentido maior e um mais coerente entendimento, especialmente na medida em que objetivam despertar o ser humano da órbita material e da existência finita, em ínterim confirmador da bondade não mensurável de um Pai que é causa primeira e inteligente de todas as coisas.

Contudo, o professor Rivail não se entrega a conclusões de primeira jornada. Observa os fenômenos, as circunstâncias e põe a prova não apenas os fatos, mas, preliminarmente, a si mesmo. E é a partir daí que os leitores da obra se perguntam: em princípio Kardec foi um cético?

A resposta advém da própria prática do codificador. Não se amedrontando por caminhar em terreno até então desconhecido – e equivocadamente explorado por tantos outros – o professor aloca a sua observação na perspectiva científica, aceitando os desafios de desvelar uma realidade que lhe trouxe por parte de muitos a incompreensão, embora estivesse ciente do auxílio espiritual para cumprir a missão restituidora aos melhores ensinamentos que a humanidade já recebeu. 

Kardec confia na luz emanada do conhecimento e na própria magnanimidade da jornada. Afastando-se dos sincretismos, identifica os sinais para a completude da missão de Jesus Cristo como insígnia de amadurecimento moral e intelectual, guiando-se pela evidência da existência multidimensional e espiritual do ser, até como manifestação maior de sua razão.

Por meio do método socrático de perguntas e respostas, Kardec elabora as obras da codificação com o alerta da espiritualidade acerca das dificuldades do porvir, materializadas em manifestações de insciência e entendimento incompleto. Apesar disso, prevalece no momento hodierno a mensagem, em especial, de compreensão daquilo que ressoa na razão e na convicção, suscitando a existência de Deus como essência presente na consciência e no coração dos indivíduos e da própria humanidade.  

Na missão do codificador tem-se o Consolador prometido, substanciando uma jornada de estudo, reflexão, trabalho e caridade como mote maior da salvação e do progresso inexorável, na qual o Brasil terá papel fundamental.

Em ínterim de trabalho do codificador, não se olvide da enorme importância de Amélie Gabrielle Boudet (1795-1883), professora, artista e esposa de Kardec, a tenaz companheira e alicerce nos momentos difíceis, a trabalhadora que não buscou glórias ou louros, doando e testemunhando a si mesmo em favor do conhecimento maior, da caridade e da Doutrina.

Para conclusão, ao lado dos trabalhos pioneiros do médium e trabalhador cristão francês Henri Sousse (1851-1928), o primeiro biógrafo de Allan Kardec, “Kardec: a biografia”, de Marcel Souto Maior, traz significativa contribuição para a Língua Portuguesa na direção do conhecimento da vida do codificador e do ambiente social presente no processo de sistematização do Espiritismo.