Resenha de biografia de Allan Kardec
Publicado em 14 de abril de 2020 por Rogério Duarte Fernandes dos Passos
Resenha de biografia de Allan Kardec.
Rogério Duarte Fernandes dos Passos
MAIOR, Marcel Souto. Kardec: a biografia. Rio de Janeiro/ São Paulo: Record, 2ª ed., 2013, 364 p.
1. Sobre o autor.
Marcelo Souto Maior é jornalista, roteirista e escritor com grande reconhecimento no mercado editorial brasileiro, trazendo à baila “Kardec: a biografia”, ao lado de outras obras em que retrata temas do Espiritismo.
O presente livro abordado igualmente obteve êxito, inspirando a produção de “Kardec – O Filme”, cinebiografia brasileira produzida em 2018 e que contou com a direção de Wágner de Assis.
2. Sobre a obra.
Exercitando tentativa de distanciamento diante do tema pesquisado, Marcel Souto Maior traz na presente obra resenhada a vida de Hipolyte Léon Denizard Rivail (1804-1869), o educador francês discípulo de Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), que saiu da “vida civil” para assumir o pseudônimo de Allan Kardec na tarefa de codificar os fenômenos que, sistematizados, iniciaram a jornada da Doutrina Espírita.
Allan Kardec – nome recebido em encarnação no tempo dos druidas – torna-se a identidade para diferenciar a obra da codificação espírita dos seus demais trabalhos de natureza pedagógica, sendo a referência de um movimento iniciado na efervescente França ilustrada e que se substancia no Brasil em missão de aperfeiçoamento e difusão.
Se os fenômenos estudados por Kardec não foram exclusivos da França, será naquele país e com Kardec que eles adquirirão um sentido maior e um mais coerente entendimento, especialmente na medida em que objetivam despertar o ser humano da órbita material e da existência finita, em ínterim confirmador da bondade não mensurável de um Pai que é causa primeira e inteligente de todas as coisas.
Contudo, o professor Rivail não se entrega a conclusões de primeira jornada. Observa os fenômenos, as circunstâncias e põe a prova não apenas os fatos, mas, preliminarmente, a si mesmo. E é a partir daí que os leitores da obra se perguntam: em princípio Kardec foi um cético?
A resposta advém da própria prática do codificador. Não se amedrontando por caminhar em terreno até então desconhecido – e equivocadamente explorado por tantos outros – o professor aloca a sua observação na perspectiva científica, aceitando os desafios de desvelar uma realidade que lhe trouxe por parte de muitos a incompreensão, embora estivesse ciente do auxílio espiritual para cumprir a missão restituidora aos melhores ensinamentos que a humanidade já recebeu.
Kardec confia na luz emanada do conhecimento e na própria magnanimidade da jornada. Afastando-se dos sincretismos, identifica os sinais para a completude da missão de Jesus Cristo como insígnia de amadurecimento moral e intelectual, guiando-se pela evidência da existência multidimensional e espiritual do ser, até como manifestação maior de sua razão.
Por meio do método socrático de perguntas e respostas, Kardec elabora as obras da codificação com o alerta da espiritualidade acerca das dificuldades do porvir, materializadas em manifestações de insciência e entendimento incompleto. Apesar disso, prevalece no momento hodierno a mensagem, em especial, de compreensão daquilo que ressoa na razão e na convicção, suscitando a existência de Deus como essência presente na consciência e no coração dos indivíduos e da própria humanidade.
Na missão do codificador tem-se o Consolador prometido, substanciando uma jornada de estudo, reflexão, trabalho e caridade como mote maior da salvação e do progresso inexorável, na qual o Brasil terá papel fundamental.
Em ínterim de trabalho do codificador, não se olvide da enorme importância de Amélie Gabrielle Boudet (1795-1883), professora, artista e esposa de Kardec, a tenaz companheira e alicerce nos momentos difíceis, a trabalhadora que não buscou glórias ou louros, doando e testemunhando a si mesmo em favor do conhecimento maior, da caridade e da Doutrina.
Para conclusão, ao lado dos trabalhos pioneiros do médium e trabalhador cristão francês Henri Sousse (1851-1928), o primeiro biógrafo de Allan Kardec, “Kardec: a biografia”, de Marcel Souto Maior, traz significativa contribuição para a Língua Portuguesa na direção do conhecimento da vida do codificador e do ambiente social presente no processo de sistematização do Espiritismo.