Resenha da obra “Pesquisa em Educação: métodos e epistemologias”, de Sílvio Ancísar Sánchez Gamboa.

Rogério Duarte Fernandes dos Passos

Palavras-chave: Sílvio Ancízar Sánchez Gamboa. Pesquisa da pesquisa. Métodos e epistemologias da educação.

Resumo: Resenha da obra “Pesquisa em Educação: métodos e epistemologias”, redigida pelo professor Sílvio Ancízar Sánchez Gamboa, professor da Universidade Estadual de Campinas, discorrendo sobre referenciais da pesquisa na área educacional e trazendo outros temas acerca da investigação na área.

GAMBOA, Sílvio Ancísar Sánchez (2008). Pesquisa em educação: métodos e epistemologias. Chapecó: Argos, 1ª reimp., 193 p.

A obra “Pesquisa em Educação: métodos e epistemologias”, de autoria do professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Brasil, Sílvio Ancísar Sánchez Gamboa, é uma contribuição para a reflexão e o aprofundamento das questões atinentes aos métodos e epistemologias envolvidas na pesquisa educacional.

Através de pesquisas diversas realizadas em sua trajetória acadêmica, o autor constrói uma obra que investiga a realidade educativa, considerando referenciais empíricos, metodológicos e filosóficos, bem como as contribuições de pensadores para a investigação epistemológica.

Analisando epistemologicamente alguns métodos, se transita desde a prática científica da Escola de Frankfurt às críticas que consideram a perspectiva positivista, cotejando as diferentes abordagens dos objetos que são objeto da pesquisa científica.

Na estruturação de um projeto de pesquisa, o autor ressalta a necessidade do estabelecimento de uma “pergunta-síntese” que represente a problemática que se pretende pesquisar, havendo, igualmente, a necessidade da existência de um ponto de partida e outro de chegada. Também se ressalta a dificuldade de se definir preliminarmente o paradigma epistemológico – um erro – visto a possibilidade de se criar uma falsa expectativa em face dos modelos clássicos, inclusive inibindo a liberdade do pesquisador.

Para o sucesso de uma pesquisa, a leitura de outras se coloca como fundamental, devendo-se realizar uma leitura diferenciada (leitura epistemológica), no que há a necessidade do grupo de pesquisa em que se insere o pesquisador de fazer a avaliação de tendências, revelação de métodos, teorias e paradigmas predominantes, culminando no periódico balanço de sua produção.

Por sua vez, a “pesquisa da pesquisa” se alavanca como algo de grande relevância, especialmente por fornecer as bases de uma análise que considere a qualidade da produção e que seja capaz de identificar correntes filosóficas e epistemológicas que estruturam a atividade de investigação.

Já o peculiar “esquema paradigmático” do professor Gamboa, evidentemente supõe um conceito de paradigma, edificando uma lógica reconstituída com a organização de diversos recursos envolvidos no ato da produção do conhecimento, no que, igualmente, se consideram os elementos que constroem o paradigma de consenso nas ciências humanas. Assim, a realidade e a ciência são forjadas pela visão de mundo do pesquisador, com grande influência das diferentes concepções de mundo da psicologia individual.

Por oportuno, na obra encontra-se um “roteiro” de compreensão do papel do sujeito face ao conhecimento, considerando as pesquisas que cotejam o universo de interpretação e a abertura para a polissemia (pesquisas fenomenológico-hermenêuticas) e as análises contextualizadas a partir de prévio referencial teórico fundado no materialismo histórico (pesquisas crítico-dialéticas).

A abordagem gnosiológica na pesquisa não fica indiferente na obra de Gamboa, donde se tecem considerações relacionadas às concepções de objeto e sujeito e respectiva relação no processo cognitivo, da mesma forma que os pressupostos ontológicos, que nas pesquisas consideram as visões de homem, história e realidade, em abordagens que, não raro, apresentam-se implícitas no interior dos trabalhos acadêmicos.

Ora, não se investigam temas, e sim, problemas. Com essa advertência, se ressalta a importância da pertinência das perguntas no interior dos projetos de pesquisa, às quais, se faz o uso da metodologia – por que não dizer, dos próprios referenciais epistemológicos – para a obtenção da resposta.

Acrescente-se que a compreensão da pedagogia como ciência da ação educativa se ressente da consolidação de um estatuto epistemológico, de maneira que o fenômeno educativo acaba por ser objeto de estudo de ciências as mais diversas, no que, por conseguinte, há a contribuição de diferentes tradições científicas para este objetivo, que bebem da filosofia, sociologia e de todas as áreas do conhecimento que possam oferecer recursos para a elucidação do fenômeno educativo.

Não se olvide então que construir o objeto na pesquisa educacional é trabalho de grande importância, em prática que reflete a realidade social como um todo maior, capaz de integrar a instituição escolar, o projeto pedagógico, a experiência empírica oriunda da sala de aula, e claro, a própria educação inserida em um sistema social.

Lembra o professor Gamboa acerca do questionamento dos modelos tradicionais que hodiernamente têm sido feitos pelos pesquisadores, refletindo diferentes visões de mundo na sociedade. A compreensão da ação educativa como ideal implica, portanto, no enfrentamento de um processo de elucidação das diferentes abordagens da pesquisa, em consideração aos pressupostos filosóficos e à própria concepção de homem.

Os esclarecimentos devem continuar, assim como a “pesquisa da pesquisa”. Persistem as interrogações. Mas, por certo, o trabalho do professor da Universidade Estadual de Campinas coloca-se como relevante para a construção de um referencial teórico-prático na pesquisa educacional e na estruturação da educação como área do conhecimento capaz de caminhar rumo à construção de metodologias e epistemologias próprias no universo das ciências humanas e sociais.

Esse é um ideal transformador, que exige profundidade de reflexão e compreensão dos pesquisadores de sua atividade em face da sociedade, e, por óbvio, do modelo educativo em que suas pesquisas estão inseridas.