RODRIGO, Lídia Maria. Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino médio. Campinas: Autores Associados, 2009.
Rogério Duarte Fernandes dos Passos
Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Docente na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Lidia Maria Rodrigo publicou em 2002, Maquiavel: educação e cidadania, e, em trabalho de 2009, nos traz Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino médio, onde discute diretrizes sistemáticas e didáticas para o ensino da Filosofia enquanto componente curricular do ensino médio, em especial a partir da obrigatoriedade instituída pela Lei nº 11.684/2008.
Trazendo ao leitor um histórico da disciplina no ensino secundário, a autora não prescinde da contribuição de educadores estrangeiros da área no bojo de suas reflexões, sem olvidar dos necessários aspectos didático-pedagógicos da docência filosófica. A questão atinente à possível vulgarização e descaracterização do saber filosófico ante a sua enunciação para leigos ou não-iniciados não é desprezada, onde sem deixar de lado o rigor epistemológico desse saber, são propostas estratégias que contemplem o rigor filosófico com a bagagem cultural do estudante, em processo de introdução e mediação pedagógica, que sublinhem a estratégia didática. Essa dimensão se materializa em paradigma de respeito à especificidade do saber filosófico, visto que a leitura de excertos de textos filosóficos possui lugar central nessa estratégia, no que se soma um método que proporcione acesso à obtenção de competências lógico-discursivas inerentes à área em questão, e que permitam a problematização, argumentação e conceituação (p. 27).
As dificuldades de trabalho no ensino médio atual, sublinhado pelo seu maior acesso verificado nas últimas décadas igualmente não são ignoradas, no que a esparsa bagagem cultural dos alunos implica em atividade de reinvenção e autocriação do professor em termos de estratégias didático-pedagógicas, de sorte que a obra traz referências deveras oportunas para orientação e posicionamento do docente em face da composição dos conteúdos que proporcionem a democratização do acesso à filosofia, sem perda substancial do rigor do saber filosófico, constituindo-se em verdadeira proposta de trabalho, sem prejuízo de outras que se apresentem na realidade vivenciada pelos profissionais da educação em sala de aula.
O "como" e o "o que" ensinar igualmente são enfrentados, muito embora possa persistir a discussão se a filosofia ela mesma não represente uma didática, onde o seu ensino, em tese, não necessite dos referenciais das ciências da educação para transmissão e aprendizagem. Debates à parte, a autora registra a crescente necessidade de conhecimento e aprendizado da filosofia no âmbito do ensino médio, em especial pelo pioneirismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que, desde 1996, introduziu o componente nas exigências da primeira e segunda fase de seu vestibular para todos os candidatos, no que se seguiu na Federal de Minas Gerais (UFMG), que em 2007, indicou aos candidatos do vestibular do curso de direito a leitura de três obras filosóficas, além de outras, como a Federal do Paraná (UFPR), Estadual de Londrina (UEL) e Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
A sensibilização capaz de despertar o interesse do aluno e seu respectivo incentivo, no interior de toda a estratégia, coloca-se como relevante, visto que a partir daí poderá ? em processo de "amalgamento" ? adquirir sentido em um processo de reconstrução e ressignificação da bagagem cognitiva interior e anterior, no que, então, ter-se-á a maior motivação.
Por derradeiro, a obra Filosofia em sala de aula: teoria e prática para o ensino médio se coloca como pioneira e relevante contribuição para a uma eficaz reintrodução da filosofia enquanto componente curricular obrigatório no ensino médio brasileiro, permitindo inclusive maior compreensão de sua dimensão e local no interior da educação secundária, que dentre os seus objetivos, pode, por certo, com a inclusão do estudo atinente ao saber filosófico, igualmente colaborar para a construção no ambiente escolar de um ideal de cidadania.