Prof. Dr. Frei Nilo Agostini e Profª. Rosana Mansini, Introdução à Teologia Moral: Guia de Disciplina – Caderno de Referência de Conteúdo, São Paulo: Centro Universitário Claretiano, Versào, 2007.

O trabalho a ser tratado nesta resenha é de autoria de Frei Nilo Agostini, Doutor em teologia, sendo também autor de várias obras relacionadas à Teologia Moral, hoje professor da Pontifícia faculdade N. S da Assunção, juntamente com a Profa Rosana Mansini, Mestre em Teologia Moral e especialista em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma), que também ministra aulas na Pontifícia faculdade N. S da Assunção e ocupa o cargo de Diretora Adjunta da Faculdade Dehoniana de Taubaté.

A obra em questão se trata de uma apostila oferecida aos alunos do curso de Teologia EAD do Centro Universitário Claretiano e que tem como principais objetivos elucidá-los sobre o conteúdo da disciplina "Introdução à Teologia Moral" e sobre como a mesma – fundamentada na revelação divina - responde às exigências da razão humana no que se refere à ética e a moral, conferindo aos alunos a capacidade de interpretar, captar, fundamentar e aprofundar de maneira sistemática os conceitos e princípios doutrinários da Teologia Moral dentro da evolução histórica do pensamento moral cristão.

No primeiro capítulo os autores procuram traçar um panorama da "crise atual da moral" em meio à sociedade de nossos dias, ressaltando que diante das profundas mudanças ocorridas na sociedade como o questionamento de instituições fundamentais como a família, a política, etc., bem como a emergência de uma perspectiva relativista, suscitam a busca de respostas frente a esse emaranhado de contradições e angústias que acabam por resultar em imoralidade, permissividade e amoralidade.

Para fundamentar a problemática os autores abordam o tema do "ethos" bíblico, a partir de sua etimologia grega designando-o como "costume" ou "caráter". Palavras que evidenciam o que há de mais profundo no ser humano, e que estabelece normas e valores aceitos por uma civilização. No "ethos" bíblico encontra-se também, segundo os autores, essa força que conduz ao cuidado de si, dos outros, do equilíbrio com a natureza e com o transcendente, pois de acordo com o AT, Deus é o modelo moral a ser seguido, sendo o homem feito à sua imagem e semelhança, bem como no NT, onde na figura de Jesus Cristo o "ethos" é evidenciado na benevolência e no amor, emanando forças éticas de convívio que são sustentadas pelo Espírito Santo que renova a face da Terra.

No Terceiro capítulo os autores perpassam a realidade da moral na história da Igreja, que de acordo com o decorrer das gerações, demonstrando como muitos valores e costumes sofrem modificações, como por exemplo no período da patrística onde a proximidade com o evento da Encarnação aflorou as ações pautadas no amor, na imitação de Cristo, na pertença a Igreja e na esperança. Fato que pode ser facilmente observado na contribuição de Sto. Agostinho, escritor da época, que priorizava o amor sobre as ações humanas, ainda que o mesmo faça isso com uma tendência dualista. Na seqüência, o séc. XII encontra na escolástica um período fecundo dentro dos mosteiros e universidades onde pensadores como Tomás de Aquino contribuíram para o desenvolvimento da Teologia Moral, tendo como ponto de partida a participação do ser humano no ser de Deus, sendo assim inata sua orientação para o onipotente. Até que os autores citam os nominalistas e neo-escolásticos que pouco acrescentaram ao pensamento da doutrina moral, chegando mesmo a serem legalistas e normalistas em suas teses. Até que, com o Concílio Vaticano II, liderado por João XXIII, a Teologia Moral chegou ao seu apogeu, tendo como centro o Cristo, para que seu mistério orientasse a vida cristã em todas as suas dimensões, inclusive quanto à liberdade.

Nesse sentido, os autores enfatizam os conceitos de liberdade e responsabilidade no capítulo quatro, e como estes se relacionam em conseqüência da lei moral, o seja, a obra reforça a idéia de que sendo o homem um ser social, este não poderá exercer sua liberdade sem que haja uso da responsabilidade perante a liberdade alheia. O que aqui se configura na tomada de consciência da vocação cristã. Assim, a responsabilidade moral, de acordo com Mansini e Agostini, foi objeto de várias tentativas de explicação como, por exemplo, a do esquema aristotélico-escolástico que a estruturava em Potência, Hábito e Ato moral que reforçava sobremaneira uma moral exterior do ato. No entanto, o Concílio Vaticano II deu mais ênfase à dimensão antropológica com o esquema da Opção Fundamental, Atitude e Ato, que coloca o ser humano como protagonista de sua história, dentro de uma liberdade fundamental.

O capítulo cinco - Sujeito Ético: consciência Moral e lei - é desenvolvido pelos autores sob o aspecto da liberdade junto à estrutura ética do comportamento e dos conceitos bíblicos, justificando que a consciência se situa entre a opção fundamental e as decisões concretas, tanto que se pode observar no AT e no NT uma valorização da consciência diante das escolhas. Mas ainda assim esta pode estar sujeita a influências às vezes determinantes como fatores genéticos, biológicos, familiares educacionais, sócio políticos e econômicos que podem comprometer o juízo perfeito, como também pode ser vítima de manipulações e direcionamentos sofridos por intermédio de outrem.

O sexto e último capítulo finaliza a obra quando os autores apresentam o discernimento moral como lugar da consciência, onde a partir deste, o ser humano passa a emitir juízos retos e verídicos donde se pressupõe o projeto de Deus, tanto que está explícito na moral neotestamentária o papel protagonista da fé como adjunta à consciência na capacidade de discriminar. De forma que esta fé, traduzida em decisão da moral, segundo os autores, supõe também uma metamorfose, uma renovação constante originada pela busca da vontade de Deus. Seria a ação do Espírito Santo que fortalece o ser humano para um testemunho vivo, impulsionando-o à plenitude da verdade.

Concluem Mansini e Agostini que a consciência moral não está isolada em seu discernimento, mas interage sempre com a comunidade, a lei e o próximo, em uma dinâmica na qual está inserida a Igreja como servidora da consciência na educação e no esclarecimento.