Prof. Dr. Robson Luiz de França

                                                                                    Disciplina: PPC

                                                 Autora: Nilda Tavares da Silva Santos

                        UMA – Universidade da Madeira / Funchal - Portugal

 

 

 

Obra: LA TAILLE, Yves de; OLIVEIRA, Marta Kohl de; DANTAS, Heloysa. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.

 

            Esta obra foi escrita por professores especialistas da Universidade de São Paulo que através de dois anos de Reuniões Anuais da Sociedade Brasileira de Psicologia de Ribeirão Preto, traz uma discussão entre os três principais teólogos da psicologia que tentam entender a evolução do ser humano tanto nos fatores biológicos e sócios, como também, nos aspectos afetivos e cognitivos.

            O livro está dividido em três partes que subdividi em subcapítulos onde trata do tema em questão na visão dos três teóricos: Piaget na visão de La Taille, Vygotsky na visão de Oliveira e Wallon é comentado por Dantas. A primeira parte traz um debate entre os fatores biológicos e sociais do desenvolvimento humano sobre a linha de Piaget, o qual faz um diálogo sobre o lugar de interação social, na concepção de Vygotsky o debate é sobre o processo de formação de conceitos e na teoria de Wallon, onde é discutido o ato motor ao ato mental do indivíduo.

            Na segunda parte a questão em foco é a afetividade e cognição com Piaget. O tema é o desenvolvimento do juízo moral e afetividade. Na linha de Vygotsky o debate é sobre o problema da afetividade e na visão de Wallon a afetividade e a construção do sujeito na psicogenética. E finalmente, na terceira parte o leitor pode tirar algumas dúvidas sobre os três teólogos, pois no apêndice podem-se encontrar perguntas sobre a universalidade, à autonomia do sujeito e a falsidade das respectivas teorias na visão Vygotskyanos (p. 104), Wallonianos (p. 107) e Piagetianos (p. 109).

            Inicialmente faz-se uma introdução sobre o lugar das interações sócias na obra de Jean Piaget, evidenciando que o mesmo não desprezou a importância dos fatores sociais no desenvolvimento da inteligência do indivíduo, pois, o homem é impossível de ser pensado fora da sociedade em que vive.  No entanto, o homem normal não é social da mesma maneira aos seis meses que aos vinte anos de idade devido aos fatores biológicos e sociais que o sujeito avança qualitativamente e passa a interagir dentro da sociedade a qual está inserido transformando o meio em que vive ou ajustando para favorecer o seu bem estar social.

            Ressaltando a existência de dois aspectos nos estudos do epistemológico, ou seja, o entendimento o qual se deve ter por ser social e os fatores sociais que explicam o desenvolvimento intelectual, La Taille (1992) afirma que, a lógica final para Piaget é o equilíbrio das ações apresentados no período sensório motor, onde a criança vai esquematizando a lógica das ações e das percepções, a qual será interiorizada pela mesma no processo de socialização.

            Nesse contexto, o sujeito evolui a partir das experiências pessoais transmitidas através das interações vividas no meio, e um bebê não tem o grau de maturação que tem um adulto. Para tanto, a socialização passa pela qualidade nas trocas intelectuais e vai evoluindo através das fases de desenvolvimento da criança. O autor demonstra esse raciocínio na aplicabilidade de uma equação em que para as trocas intelectuais Piaget pressupõe um perfeito equilíbrio e uma interação de pensamentos. Tal equilíbrio das reações sociais só é possível entre indivíduos que tenham atingido o estágio operatório de pensamento fazendo uma panorâmica sobre as etapas do desenvolvimento cognitivo relacionando o desenvolvimento das operações lógicas aos estágios de desenvolvimento social.

            Sobre concepção de Vygotsky, Oliveira (1992) traz uma discussão sobre o processo de formação de conceitos a respeito dos fatores biológicos e sociais no desenvolvimento do psicológico. No entanto, as funções psicológicas do indivíduo são formadas ao longo de sua trajetória no contexto social em que vive. Nesse processo de formação de conceitos, a linguagem humana exerce um papel mediador entre o sujeito e o objeto de conhecimento.

            Segundo Oliveira (1992), isto é, além de servir ao propósito de comunicação entre indivíduos, a linguagem simplifica e generaliza a experiência, ordenando as estâncias do mundo real em categorias conceituais cujo significado é partilhado pelos usuários dessa linguagem. O estudo sobre Vygotsky na formação de conceitos aponta para duas linhas de investigação que são: o conhecimento do cérebro que opera sem a influência do meio, e do outro lado, a cultura contribuindo para o processo de formação do fator biológico do sujeito.

            Em relação à Wallon, Dantas faz uma síntese sobre a vida, ressaltando que sua principal obra surgiu a partir de sua tese de doutorado que foi transformada no livro L’enfaut Turbulent (Infância e Turbulência) concluído após observações e experiências minuciosas com 214 crianças de 2 a 15 anos de idade, com profundas perturbações de comportamento. Nesta obra o autor descreve etapas do desenvolvimento psicomotor como estágio impulsivo, emocional, sensório-motor e projetivo, e também analisa as características e sintomas das morbidades psicomotoras, com um intuito não só de pesquisa, também para que seja viabilizada a cura para estes pacientes.

            Dessa forma, Wallon, ao estudar a psicopatologia, dedicou-se ao desenvolvimento da criança que tinha como questão fundamental o estudo da consciência, considerando o melhor caminho para compreendê-la e com isto, tendo como foco principal a sua gênese que através de sua pesquisa de campo explorou as origens biológicas da consciência do indivíduo.

            A partir dos apontamentos enfatizados na obra entende-se que para La Taille (1992), Piaget faz uma clara distinção entre dois tipos de relação social: a coação e a cooperação. Na coação o individuo recebe a afirmativa do adulto como verdadeira sem refletir sobre o que foi dito, ou seja, corresponde a um nível baixo de socialização, enquanto que nas relações de cooperação são as que permitem esse desenvolvimento efetivamente. Portanto, o autor evidencia que se tem em Piaget uma teoria que resgata a dimensão ética e política dentro do desenvolvimento da inteligência do homem permitindo transparecer na sua análise uma perspectiva interacionista como referencial e fundamento básico do seu raciocínio.

            Somando a isso, Ferreiro e Teberosky (1999) pontuam elementos que fazem associações condizentes e amplia a discussão sobre desenvolvimento intelectual e socialização do indivíduo. Assim:

O sujeito que conhecemos na teoria de Piaget é aquele que procura ativamente compreender o mundo que o rodeia e trata de resolver as interrogações que este mundo provoca. Neste contexto, o indivíduo é um ser cognoscente que está o tempo todo buscando aprimorar seus conhecimentos (FERREIRO E TEBEROSKY, 1999 p 29).

 

            No entanto, a sua psicogenética descreve as primeiras etapas do desenvolvimento psicomotor como estágios impulsivo emocional que vai de 0 a 1 ano, quando a criança vivência atividade global ainda não estruturada, com movimentos bruscos, desordenados de enrijecimento e relaxamento muscular que irá indicar mal-estar ou bem-estar, e a partir do terceiro mês de vida já é conhecido padrões emocionais diferenciados como medo, alegria, raiva, entre outros.

            O sensório motor e projetivo inicia de 1 aos 3 anos de idade, nesse período a criança começa a explorar o espaço físico agarrando, segurando, sentando, engatinhado, etc. Esta fase instrumenta efetivamente e cognitivamente o indivíduo para o próximo estágio, o personalismo vai dos 3 a 6 anos de idade, nesta etapa inicia o processo de discriminação entre o EU e o OUTRO, no categorial que vai de 6 a 11 anos acontece a melhor organização do mundo físico, e de 11 anos em diante acontece à puberdade e adolescência determinada pela busca de explorar a si mesmo que tem como ponto de partida o patológico. Ao fazer essas análise apresenta em seguida as síndromes psicomotoras.

            Para Wallon, a afetividade é o eixo central na construção do conhecimento durante todo o processo de sua vida, ora com ações exteriores e em outros momentos refletindo consigo mesmo. Nesse sentido, Dantas (1992) afirma que na concepção de Wallon, o ato mental - que se desenvolve a partir do ato motor - passa em seguida a inibi-la, sem deixar de ser atividade corpórea. Para tanto, o grande eixo da questão é a motricidade que trabalha no organismo como uma orquestra harmoniosa movimentando órgãos, músculos e as estruturas cerebrais em busca de conhecer e interagir com dos os componentes da sociedade a qual pertence, ou seja, essa busca constante do indivíduo irá favorecer o seu desenvolvimento mental.

            Vale salientar que, haverá uma descontinuidade entre o ato motor e o ato mental na medida em que for se fortalecendo com o domínio de signos culturais, enquanto que, o ato motor vai reduzindo os seus movimentos a partir do segundo ano de vida que irá dá mais espaços de tempos cada vez mais longos de imobilização.

            Sobre o desenvolvimento do juízo moral e afetividade na teoria de Piaget, que fala em sua obra “Le jugement moral chez I’ enfant”. O desenvolvimento do juízo moral da criança está enraizado entre a afetividade e cognição, ou seja, impossível de ser pensado separadamente, pois o indivíduo descobre a afetividade no meio em que vive, e através do contato com os outros o desenvolvimento da sua personalidade é formado através de percepções, assimilação, experiências e informações vivenciadas pelo sujeito. Nesse sentido, Munari (2010 p.102) expressa que, “a questão da influência do meio sobre o desenvolvimento e o fato de que as reações características dos diferentes estágios sejam sempre relativas a certo ambiente”.

            Nesse sentido, para Piaget, as vivências impõem regras, as quais só poderão ser confirmadas a partir do respeito que o sujeito tem por estas regras baseado em sua moralidade. Pois, toda moral consiste num conjunto de normas a ser seguida, e toda sua essência está no respeito a estas normas. Para facilita a compreensão, Piaget apud La Taille (1992) classifica em três etapas de evolução da prática e da consciência da regra que são: anomia: de 5 a 6 anos quando a criança não seguir as regras coletivas criando suas próprias normas à medida que se sentirem ameaçadas no transcorrer do processo em que está participando; heteronomia: de 6 a 9 anos quando não compreende, mas seguir; e autonomia: de 9 a 10 anos quando seguem as regras e compreende o acordo firmado coletivamente visando favorecer o bem comum.

            No entanto, o dever moral acontece a partir das normas estabelecidas pelos pais e os adultos que vivem no seu dia a dia, e também pelo respeito que elas tem sobre tais regras que podem ser traduzido como realismo moral caracterizado por três etapas distintas como: é bom todo ato de obediência, culpem ao pé da letra e o julgamento é feito pelo ato e não pela intencionalidade.

            Todavia, a noção de justiça reúne todas as noções morais que regulam e determinam as normas dentro da sociedade, incluído as ideias matemáticas e outras. Fato bastante curioso e equivocado é o símbolo da justiça ser determinado pela imagem da balança como forma de estabelecer o direito e igualdade para todos, mas não poderão esquecer-se dos seus deveres e o respeito ao próximo. No entanto, cada cidadão que se sentir ameaçado ou prejudicado poderá recorrer às leis para que a justiça seja conquistada e o seu direito prevalecido.

            Sendo assim, a partir da investigação constante a criança desenvolve seus conhecimentos interagindo com o meio em que vive superando obstáculos conforme o grau de maturidade do mesmo. Nesse livro, Oliveira (1992) relata que Vygotsky aborda o problema da afetividade no campo de pesquisa da atividade cognitiva. Segundo Oliveira, Vygotsky é contrário o estudo da afetividade e cognição separadamente como faz a psicologia tradicional. Ele pesquisou os processos internos do desenvolvimento humano mostrando a importância de diferenciar as funções mentais elementares (involuntárias) e superiores que são as ações conscientes (voluntária) e também compreende que uma está ligada a outra não podendo ser dissociada uma da outra.

            Entende-se que, para Vygotsky a consciência é formada através de sua participação no meio em que vive, no qual o sujeito se relaciona e aprimora seus conhecimentos com base nas praticas sociais dos mais experientes tendo a linguagem Intersubjetividade que é a questão simbólica como meio facilitador dessa integração social que vai favorecer um processo de internalização deste contexto cultural para a formação da sua própria consciência (subjetividade). Segundo Vygotsky (1984) é a ideia de que os processos mentais superiores são processos mediados por sistemas simbólicos, sendo a linguagem o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos.

            Neste contexto, o referencial para se compreender essa linguagem é verificando o sentido e o significado das palavras como forma de mediação para o individuo compreender o mundo, sabendo que, o significado é exclusivo do domínio da consciência humano numa conexão entre o cognitivo e afetivo. Em primeira estância a linguagem tem a função de socialização pelo sujeito, e ao longo de sua trajetória ela é internalizada, passando a servir o próprio sujeito, o que Vygotsky considera de discurso interior.

            Segundo Dantas (1992), a afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon é um tema central em sua teoria que é genética (estuda o desenvolvimento funcional) e  dialética (indica direções e possibilidades), impossível de se pensar como processo direto que só vai adiante ao contrário tem  idas e vindas . Relatando assim, que a plateia desempenha o papel do oxigênio que alimenta a chama emocional. O ser humano não conseguiria vive sem o contrato com os outros, ou seja, toda atividade que envolva a emoção trabalha lado a lado com o social e o biológico.

            Para tanto, a emoção tem sua origem na vida orgânica do sujeito que ao nascer é mediado pelo afeto que simultaneamente envolve o social e o biológico criando no indivíduo uma ligação forte com o ambiente. A emoção pode ser classificada de natureza Hipotética (susto e depressão) e hiprotética (ansiedade). O sujeito é puramente afeto. Enquanto, segundo Wallon apud Dantas (1992) quando a inteligência e afetividade estão misturadas e ao longo da vida será marcado por momentos afetivos ou cognitivos.

            De forma que, para o sujeito se desenvolva é necessário que afetividade e inteligência simultaneamente estejam juntas. A partir do momento que a inteligência evolui a emoção também.  Para tanto, o ser está continuamente em construção não podendo ser considerado um sujeito acabado.

            Afirma-se então que, o livro retrata uma discussão sobre a psicologia genética tão indispensável para compreender como ocorre o desenvolvimento humano necessário para o estudo das diversas áreas afins.

 

Identificação dos autores: Yves La Taille, professor doutor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, na cadeira de Psicologia do Desenvolvimento. Marta Kohl de Oliveira, Professora doutorada Faculdade de educação da Universidade de São Paulo, na cadeira de Psicologia da Educação. Heloysa Dantas, professora doutora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, na área de Psicologia da Educação.

 

 

 

Nilda Tavares da Silva Santos: aluna do Curso de Mestrado em Ciências da Educação – Inovação Pedagógica da Universidade da Madeira. ([email protected]).

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

FERREIRO, E; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Tradução Diana Myriam, et.al. Porto Alegre: Artmed, 1999.

LA TAILLE, Y; OLIVEIRA, M. K; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Sammus,1992.

MUNARI, Alberto. Jean Piaget. Tradução e org. Daniele Sabeb.Coleção Educadores. Recife: Fundação Joaquim Nabuco. Massangana,2010.

 VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.