RESENHA CRÍTICA DO FILME “O DILEMA DAS REDES”

Acadêmica: Francisca das Chagas Sousa Araújo Oliveira[1]

 

                                                                  FICHA TÉCNICA DO FILME:

                                                                  Título do filme: O Dilema das redes

                                                                   Direção: Jeff Orlowski                   

                                                                   Produção: Larissa Rodes

                                                                   Ano: 2020

                                                                   Duração: 89 minutos

 

1. ENREDO (SÍNTESE)/ IDEIA OU MENSAGEM CENTRAL DO FILME: -

A Netflix lançou em 2020 um documentário intitulado “O Dilema das Redes”, que traz a participação de ex-funcionários das maiores redes sociais como, Google, Facebook e Twitter, onde apresentam uma crítica dessas redes sociais como ferramenta de manipulação. De acordo com o documentário somos como avatars onde recebemos comandos de manipulação no nosso psicológico, sem que tenhamos dado conta disso.  A maneira como nos conduzimos na rede social, o algorítimo funciona para que sejam mostrados no feed somente conteúdos que sejam do nosso interesse, dessa maneira ficamos num ciclo vicioso de uso das redes sociais, ou seja, sob a bolha da informação.

O documentário deixa explícito que as redes sociais, utilizam-se de mecanismos de controle com base nas predisposições psicológicas de seus usuários. Outro ponto importante que merece destaque no Dilema das Redes, é que mostra o usuário como produto, assim as empresas investem dinheiro para possuírem as informações de seus internautas, desse modo, de acordo com a mensagem do filme, o usuário é conduzido através do algoritmo a informações, conteúdos elaborados de forma estratégica mediante as preferências do internauta, assim, cria uma dependência emocional do ambiente virtual.

2. CENA DE MAIOR IMPACTO. JUSTIFIQUE. 

O depoimento de Justin Rosenstein aos 69:00 minutos onde diz: “Algoritmos e políticos manipuladores estão se tornando tão bons em aprender como nos provocar ficando tão bons em criar fake News que absorvemos como se fosse a realidade, nos confundem a acreditar nessas mentiras é como se tivéssemos menos controle sobre o que somos e no que acreditamos”. Além de outros efeitos colaterais, como suicídio, solidão e distanciamento das relações pessoais, as redes sociais tem forte impacto no contexto político e conforme apontado pode até decidi eleições. Isso nos faz pensar, que por ser plataformas onde viciam pessoas de todas as idades, os políticos se aproveitam para fazer suas campanhas, muitas vezes através das Fake News.

3. CONTRIBUTO DO FILME PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA: 

As Ciências Sociais desempenham um papel importante para compreensão das questões culturais e comportamentais dos indivíduos e dos grupos sociais. A partir dos estudos, é possível identificar problemas sociais, investigar e propor soluções que colaborem com o desenvolvimento das sociedades.

Desse modo, do ponto de vista sociológico o filme Dilema das Redes corrobora para o entendimento e análise de como funciona o mercado capitalista através das empresas de tecnologias, bem como as influências que as redes exercem sobre a vida das pessoas em sociedade. Daí podemos fazer os seguintes questionamentos: Quais os impactos das redes sociais sobre a vida dos jovens? Como as redes sociais afetam as relações pessoais? De que forma as plataformas digitais podem se tornar um instrumento de manipulação? Qual o objetivo das redes sociais? Seriam elas um negócio rico de ganhar dinheiro, ou um instrumento de diversão para os seus usuários?

Mediante algumas cenas do filme, podemos traçar ideias, ainda que rasas com relação a complexidade, mas que de certa forma, traz um contributo para a compreensão de nossos comportamentos enquanto indivíduos e pertencentes ao grupo social, frente a estas tecnologias.

O documentário busca trazer uma mensagem de alerta sobre o uso de redes sociais, pois podem trazer um impacto devastador sobre a democracia e a humanidade. O uso das redes é uma forma de manipulação de seus usuários cujo objetivo caminha para gerar lucros para as empresas dessas plataformas. Dessa maneira, as redes sociais usam técnicas do capitalismo de vigilância, onde monetiza dados adquiridos. Demonstram como cada elemento do design das redes visam nutrir o vício dos seus internautas, exerce influência política, e ainda gera impacto na saúde mental de adolescentes, corroborando para o aumento dos números de suicídios.

Logo no início do filme aos 15:04 minutos numa espécie de entrevista, Shoshana Zuboff diz:

Isso é o que todo negócio sempre sonhou ter, uma garantia de que se lançar uma propaganda ela será um sucesso é o negócio deles, eles vendem certeza, para ter sucesso nos negócios você precisa fazer grandes previsões e grandes previsões começam com uma necessidade. Você precisa de muitos dados. (DILEMA DAS REDES, 2020).

 

Neste sentido, pode – se afirmar que as redes sociais funcionam como um grande negócio, cujo produto é o próprio internauta, mesmo que não consuma os produtos anunciados nas plataformas. Suas preferências, a forma como personaliza sua rede ajuda o algoritmo que contribui com o mercado de consumo.

 Baudrillard (1995), um dos principais teóricos da pós-modernidade, coloca o consumo no mesmo status da linguagem e da cultura, na medida em que ele é um sistema de troca socializada de signos.

É legítimo, portanto, afirmar que a era do consumo [...] surge igualmente como a era da alienação radical. Generalizou-se a lógica da mercadoria, que regula hoje não só os processos de trabalho e os produtos materiais, mas a cultura inteira, a sexualidade, as relações humanas e os próprios fantasmas e pulsões individuais. Tudo foi resumido por esta lógica. Não apenas no sentido de que todas as funções, todas as necessidades se encontram objectivadas e manipuladas em termos de lucro, mais ainda no sentido mais profundo de que tudo é espectacularizado, quer dizer, evocado provocado, orquestrado em imagens, em signos, em modelos consumíveis (BAUDRILLARD, p. 205.).

Sem dúvida, as redes sociais como um veículo de alienação, ativam em seus internautas o desejo de consumo. Confunde-se o virtual com o real, daí do outro lado da tela de seus aparelhos as pessoas estão buscando usar os produtos que são mostrados, assimilam moda, gírias virtuais, costumes, enfim num constante ciclo vicioso e de consumismo.

Seguindo esse mesmo pensamento, Bauman (2013), “pensa-se sobre a juventude e logo se presta atenção a ela como ‘um novo mercado’ a ser comodificado e explorado”. Neste sentido, estamos diante de uma prática cultural que negocia todos os aspectos da vida das crianças, usando a internet e várias redes sociais, bem como demais outras mídias, assim as instituições empresariais caminham para colocar os jovens num mundo de consumo em massa, de forma ampla e objetiva, nunca vista até os dias de hoje.

Na cena do filme, Tristan Harris afirma que: “esse modelo de negócio é chamado de “capitalismo de vigilância. “Capitalismo lucrando a partir do rastreamento infinito onde quer que alguém vá. Feito por grandes empresas cujo modelo de negócio é garantir que os anunciantes tenham o máximo de sucesso possível”.

            Na mesma linha de raciocínio Shoshana Zuboff faz um depoimento aos 15:48 minutos onde diz: “esse é um novo tipo de mercado [...] que negocia exclusivamente futuros de humanos ... e esses mercados produziram os trilhões de dólares que fizeram das empresas de internet as mais ricas da história da humanidade”.

Diante disso, seria possível concebermos hoje um mundo sem o uso das plataformas digitais?

O levantamento, realizado pela plataforma CupomVálido, afirma que o Brasil é o 3º país que mais usa as redes sociais no mundo, com uma média de 3 horas e 42 minutos por dia, de acordo com estudo que reuniu dados da Hootsuite e WeAreSocial sobre o uso dessas mídias a nível mundial, sendo que esse tempo aumentou significativamente nesse tempo de pandemia. Diante disso, pode -se dizer que o brasileiro não consegue mais se ver desconectado das redes sociais visto que através delas são desenvolvidas suas atividades diárias, que vai desde o trabalho, estudo até horas de lazer, descontração que imediatamente são publicadas afim de receber curtidas e coraçãozinhos no Facebook, Instagram ou outra rede social.

Contudo, é importante considerar efeitos colaterais do uso dessas mídias sociais, não só pelo efeito de consumo, mas também ondas de ansiedade, distanciamento das relações familiares em casa, preferindo assim, as amizades virtuais ao invés de contato pessoal. Os internautas passam horas a fio teclando com amigos virtuais que não veem o tempo passar, muitas vezes levando esses adolescentes ao ócio, indisposição, desinteresse escolar entre outros.

Um outro ponto relevante é o uso deste instrumento como forma de alienação política, pois elas são as favoritas para a disseminação de Fake News por grupos políticos e usuários como forma de abater o adversário. Por outro lado, ela também tem papel importante no exercício da cidadania, pois contribui significativamente para dar voz ao povo que a utilizam para expressar sua opinião e fortalecer, apoiar seus respectivos representantes políticos, como também tecer críticas aos governos.

O filme Dilema das Redes coloca as redes sociais como uma espécie de ameaça à democracia. Segue o trecho da fala a respeito das Fake News aos 75: 49 minutos:” se não concordarmos sobre o que é verdade ou que existe uma coisa como a verdade estamos ferrados”. Essa fala, traz uma inquietação sobre o seu sentido, pois por qual motivo a rede social seria uma espécie de ameaça à democracia?

Medo de guerra civil? Ficaremos reféns daquilo que é considerado Fake News pois ferem os grandes interesses dos poderosos que controlam o mundo? É motivo de preocupação quando eles falam que é preciso entrar em consenso do que seja a verdade.

Esse consenso por meia de dúzia de pessoas criadoras de plataformas, ou de organizações, não seria uma outra forma de manipulação, dessa vez não pelas indústrias, mas agora pelas próprias plataformas digitais que controlam o que é verdade ou fake?

Numa atitude mais madura, é preciso ponderar de que o discurso em si seja ele nocivo a liberdade dos usuários de poderem escolher o que considera importante, pois se apenas alguns, ditam o que é a verdade, então viveríamos não mais num regime democrático, mas totalitário.

Por quais meios então saberíamos a verdade das coisas? Pois, todo veículo de informação é carregado de interesses consumistas, ideológicos e todos sem exceção alienam e manipulam o seu público e usuários, pois agregam valores, sentimentos, conduzem comportamentos e constituem instrumentos importantes de construção cultural.

 

4. RELACIONE AS CONTRIBUIÇÕES DO FILME PARA A SUA FORMAÇÃO PROFISSIONAL.

O educador como profissional que contribui na formação do pensamento crítico e reflexivo de seus alunos, deve está atento às questões de manipulação através de plataformas digitais e demais outras redes. É preciso checar as informações que chegam até nós. Bem como orientar nossos alunos sobre a importância de desapegar um pouco do mundo virtual e valorizar mais as amizades pessoais e a relação com a família.

5. COMENTÁRIOS FINAIS E/OU SUGESTÕES:

As mídias sociais uniram pessoas do mundo inteiro, trouxeram para perto pessoas distantes, através delas a distância é vencida e as chamadas de vídeos são as preferidas para unir, amigos, familiares, além das reuniões de negócios, estudos etc. Durante a pandemia elas tiveram papel fundamental para nos deixarmos conectados das pessoas que amamos visto que a covid-19 nos distanciou uns dos outros. As tecnologias são desenvolvidas para suprir as necessidades humanas, contudo é importante que se tenha cuidado ao utilizá-las, pois tudo em excesso produz efeitos colaterais adversos.

 

 BIBLIOGRAFIAS.

 

BAUMAN, Zygmunt. Sobre Educação e Juventude; conversas com Ricardo Mazzeo. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.Capítulo 9: O jovem como lata de lixo da indústria de consumo. Pag. 32-34; Sobre combustíveis, faíscas e fogueiras. Pag. 68-70.

LIMA. Daiane. Resenha - O Dilema das Redes (2020). Internacional da Amazônia. 25 de novembro de 2021. Disponível em:< https://internacionaldaamazonia.com/2021/11/25/resenha-o-dilema-das-redes-2020/>. Acesso em 24/01/2022.

 

PISANE et al. Análise crítica do documentário “O dilema das redes”. Centro de Crítica Midiática. 08 de dezembro de 2020. Disponível em:< https://blogfca.pucminas.br/ccm/analise-critica-do-documentario-o-dilema-das-redes/#:~:text=Jogando%20luz%20sobre%20os%20bastidores,ent%C3%A3o%20voc%C3%AA%20%C3%A9%20>. Acesso em 24/01/2022.

 

Tudo celular.com. Brasil é o 2º país que mais passa tempo n internet e também o 3º que mais usa redes sociais. 23 de setembro de 2021. Disponível em:< https://www.tudocelular.com/seguranca/noticias/n179995/brasil-pais-que-mais-usa-redessociais.html#:~:text=O%20Brasil%20%C3%A9%20o%203%C2%BA,dessas%20m%C3%ADdias%20a%20n%C3%ADvel%20mundial>. Acesso em: 26/01/2022

 

[1] Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, 7º período. Licenciada em Pedagogia pela IBERLAAR, especialista em Psicopedagogia pela Faculdade de Teologia Hokemãh - FATEH.  Especialista em Libras pela Universidade Cândido Mendes. Contato: (98) 98499-3385 e-mail: [email protected].