RESENHA CRÍTICA: Linguagem e Ensino: exercício de militância e divulgação de João Wanderley Geraldi.

Amanda Gonçalves Bento¹        

Falar em aprendizagem da Língua Portuguesa é algo que muitos almejam dominar, isso não é novidade. Muitos estudiosos discute essa problemática presente na sala de aula. João Wanderley Geraldi já inicia sua ideia fazendo referência as contribuições que um estudo linguístico dispõe para a língua materna: (1) a forma de conceber a linguagem e, em consequência, a forma como define seu objeto específico, a língua o (2) enfoque diferenciado da questão das variedades linguísticas e (3) a questão do discurso, materializado em diferentes configurações textuais.

            Logo, afirma que nesse delineamento de pesquisa as Diretrizes para o Aperfeiçoamento do Ensino / Aprendizagem da Língua Portuguesa, elaboradas pela comissão Nacional nomeada pelo Ministério da Educação (MEC, 1986), sugerem um ensino centrado em três atividades que são: a pratica da leitura de textos, a prática da produção de textos e a prática da análise linguística.

            A reflexão linguística, terceira prática central desse texto, se dá pela prática da leitura, quando esta deixa de ser mecânica para se tornar construção de uma compreensão dos sentidos veiculados pelo texto, e à produção de textos, quando este perde seu caráter artificial de mera tarefa escolar para se tornar momento de expressão da subjetividade de seu autor, satisfazendo as necessidades da comunicação a distância ou registrando para outrem e para si próprio suas vivências e compreensões do mundo que participa.

            Mas nada disso poderia acontecer sem os utensílios de análise que a Linguística analisa: concepção de linguagem (uma capacidade humana de construir sistemas simbólicos, concebe-se a linguagem como uma atividade construtiva, cujo lócus de realização é a interação verbal).

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1. Acadêmica do Curso Licenciatura Plena em Letras VI Período – Faculdade de Itaituba – FAI.

            A língua é uma destas formas de compreensão, do modo de dar-se para cada um de nós os sentidos das coisas, das gentes e de suas relações. Não sendo a toa que Bakhtin (1974), percebeu que na linguagem há uma internalização de palavras alheias. As palavras alheias vão perdendo suas origens e gera novas expressões que são internas, do indivíduo. É nisso que a linguagem se torna uma atividade construtiva.

            Uma língua é um conjunto de recursos expressivos, conjunto não-fechado e sempre em constituição, o que deu origem a outro utensílio chamado de Variedade linguísticas (formas distintas da mesma língua). A estas mudanças no uso da língua, explicadas devido uma rede interligada de informações é que determinam a formação da palavra quer seja pela condição regional, faixa etárias distintas, costumes e etc.

Entende-se, que as variedades linguísticas constituem as variações que um idioma qualquer apresenta, em função da condição social, cultural, histórica e regional em que um indivíduo o utiliza. Constituindo-se como parte integrante do universo língua, as variantes possuem o objetivo principal de promover a comunicação interativa e verdadeiramente efetiva entre as pessoas.

            Foi pela disponibilidade e dedicação que linguísticos enxergaram a complexidade de cada um dos dialetos (regionais, sociais), suas diferenças e suas semelhanças.        Essa diversidade é aquela falada pelo grupo social que detém o poder (econômico, político, social). Esta variedade foi a base para construção da escrita, porque foi através do interesse em se desenvolver estudos por aqueles que disponibilizaram tempo para refletir sobre elas.

            Se hoje a criança sofre estranhamento ao aprender ler e escrever na escola é pelo fato de que compreender o mundo na sala de aula é totalmente diferente das formas que eles presenciavam no dia a dia. Porém, a diferença social ou econômica não a impede que aprenda por motivos de interferências entre uma e outra variedade, um aluno que fala diferente tem capacidade de compreender textos na mesma dimensão que outros.

            A questão que João Geraldi expõe não é a substituição de palavras por ser considerada mais correta que outras, mas propõe a possibilidade de construir novas interações sociais, culturais, na perspectiva de internalização de novos recursos expressivos e constatar as diferenças ou semelhanças entre as variantes.

             Mas qual o sentido de considerar a relação entre os sujeitos envolvidos na linguagem e as práticas históricas que se constituíram no processo diacrônico? A depreensão de que produzir textos ao longo do tempo resultou no surgimento de diversas configurações para cada tipo de textos tanto orais, quanto escritos.

Estamos ligados em grande proporção nos textos orais, a oralidade é a grande ferramenta que se destaca no convívio social e organizacional da sociedade. A necessidade de escrever bem é o que nos permite movimentarmos de um lugar para o outro através das indicações por escrita.

            O autor aponta que aprender a ler é ampliar portanto, a interlocução com pessoas que jamais serão vistas, mas que podem ser compreendidas, criticadas ou avaliadas por suas teorias ou conhecimentos de mundo, coisas, seres e suas relações, ou seja, tomam-se posições diante daquilo que é registrado e direcionado aos leitores.

            O ensino tradicional em toda a sua trajetória tem carregado o lema de que deve-se focar a atenção para a descrição da língua, na ideologia de ser uma espécie de reparação na fala. A escola tem seguido este mesmo parâmetro, impondo toda a teoria gramatical de forma sistematizada e estruturada, para que o aluno domine os conceitos em todo o período de escolarização.

Quais os resultados tem sido manifestados no processo de escolarização? A insuficiência na internalização (memorização) de regras gramaticais, resultando numa insegurança na comunicação, principalmente em situações formais, dificuldades na produção ou interpretações textuais em todos os níveis. Motivos? Relações sociais externas, onde o estudante a todo o momento ouve e armazena na sua consciência expressões novas e diferenciadas.

Obter conhecimento gramatical é importante sim, porque é através dela que se faz estudos da língua, do ensino, e que induz o indivíduo a selecionar e adequar a sua fala de acordo com o ambiente social, mas não é necessário quando se trata de aprender a ler de forma crítica e escrever com êxito.

Geraldi (1996) reconhece que a comunicação por meio de mídias como TVs está longe de ser transformada pelo ouvinte na mesma relevância como no diálogo presencial, sem deixar de recitar que uma mensagem é sempre produto do trabalho daquele que a recebe e dá a ela uma significação própria.

Sabendo dessas condições é que o Projeto Teleducação para o Trabalho desenvolvido pela Fundação Roberto Marinho sempre mantém uma relação de teoria (pontos de vistas teóricos assumidos nas diretrizes gerais do projeto) e atualidade do ensino da língua portuguesa enfatizadas nesta mesma referência aqui descrita.

            Em consequências disso, o autor eleva o privilégio que há nas análises pragmáticas e discursivas, estas que influenciam outros níveis essenciais para a compreensão global dos fenômenos da fala. Isso gera duas classificações, a primeira constitui os fenômenos interacionais (língua e linguagens na comunicação, interpelação verbal e contexto social, sujeitos na interação verbal, equívocos verbais, universo discursivo e o mundo dos acontecimentos discursivos.

            A segunda forma os suportes linguísticos: variação linguística, modalidades, Estrutura dos enunciados, o léxico e o significado e, estruturas textuais. Essas categorias não garantem o aprendizado na sua totalidade, mas é necessário considerar o conhecimento anterior do aluno, porque ao entrar na escola ele já é um falante e domina grande quantidade de informações, e criar meios que favoreçam o exercício da língua (pág. 76).

            O ensino da Língua Portuguesa baseado na prática da análise linguística contrapõem-se ao ensino anterior. A Língua é vista ou entendida como algo em constante transformação, cria e recria-se a todo momento, resultado das interações entre os sujeitos. A metodologia utilizada baseia-se na indução, ou seja, o aluno é estimulado a chegar a “resposta correta”, e a compreender todo esse processo, para isso parte-se de situações vivenciados pelos alunos ou de seus conhecimentos a respeito dos mesmos.

A língua, portanto, trabalhada é a dos próprios alunos, produzida pela interação entre os mesmos em diversas situações sociais. A produção textual é incentivada, sendo esses textos utilizados como objeto de trabalho, que não surgem da junção de fragmentos, mas reconstruídos com sua forma e sentido original, completo, assim como o próprio discurso, o qual é trabalhado em várias modalidades e funções, pois estes fazem parte da língua também.