Resenha Crítica do livro

‘A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo’

Ashia Roberta Andrade e Silva

LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. Trad. Maria Lúcia Machado. São Paulo: Companhia das Letras.

O texto de Lipovetsky (2006) trata sobre a busca constante das pessoas pela felicidade e bem estar individual por meio do consumo desenfreado e por consequência disto o sentimento recorrente de desamparo e desilusão que os indivíduos possuem em detrimento das estruturas das nossas sociedades liberais. O autor esclarece que a sociedade do denominado por ele pós-modernista, está defronte a um consumismo puramente materialista que tem por objetivo exclusivo a satisfação pessoal dos indivíduos.

O autor descreve a qualidade de vida, a expressão de si mesmo e as preocupações quanto ao real sentido da vida como questões que os indivíduos buscam solucionar através do hiperconsumismo. Lipovetsky (2006) define que o consumismo passou por três fases, sendo a primeira iniciada no final do século XIX e terminada com a Segunda Guerra Mundial, para o autor a Revolução Industrial deste século não foi o único fator explicativo para o surgimento de um Capitalismo de Consumo, mas também se deve considerar uma construção cultura e social para o consumo de massa caracterizado pela compra de uma marca ao invés de uma coisa.

Lipovestky (2006) define o meio do século XX como o inicio da segunda fase do consumo de massa (era dos automóveis, televisões e aparelhos domésticos), que foi caracterizada pela redução da vida útil dos produtos estimulada pelo começo das produções em massa (era Fordismo). Conforme o autor, nesta fase a sociedade inicia o processo de consumismo como busca para a felicidade, desta forma, as decisões de consumo passaram a ser não mais de planejamento futuro, mas sim de satisfação imediata (hoje e agora).

A terceira fase é segundo o autor iniciada no final do século XX, mas especificamente por volta de 1970. Nesta época a sociedade capitalista passava por uma nova reformulação, com o advento de um mundo globalizado com empresas e marcas de escalas mundiais. O consumo passa a ser experiencial, ou seja, o hiperconsumismo passa então a ser ditado por gostos e critérios individuais (emocional). Os indivíduos deixaram de consumir para um objetivo de status social como ocorrido nas fases anteriores, para um objetivo de satisfação emocional. O consumo agora explicita as características e escolhas pessoais dos indivíduos.

Conforme o autor, esta fase também trouxe com o advento da tecnologia o consumo cibernético onde não há mais nenhuma relação com o vendedor. Lipovetsky demonstra ainda que o consumidor da terceira fase ainda que tenha se dissociado das culturas de classe, carrega consigo preocupações éticas quanto aos produtos consumidos. Com todas estas alterações na relação de consumo da sociedade, as campanhas publicitárias também alteraram a suas configurações, passando a ser de maneira segmentada, ou seja, direcionada para cada estilo de vida dos indivíduos e por vezes nem mesmo mencionando as características do produto oferecido.

Com o consumo de massificado e democrático resultante da terceira fase, os consumidores segundo Lipovetsky se veem muitas vezes desnorteados quanto aos fundamentos das suas escolhas de consumo, uma vez que não existem mais a escolha apenas entre as necessidades e o luxo, pois o acesso é relativamente amplo á todas as classes. O autor descreve que a nova relação de consumo é cada vez mais individualizada, comprovada pelos cuidados e exigências com a saúde bem como com os gastos crescentes com viagens e lazer, demonstrado que os indivíduos não estão mais preocupados com as definições de status e sim com as realizações de seus próprios anseios.

Sendo assim o mercado passou a ser uma “produção personalizada de massa” para atender ao “consumidor rei” que sabe o que e como quer. A sedução aos produtos se dá pela inovação, conforto, variedade e renovação perpetua que geram a “lógica-moda” no processo de consumo das sociedades.