RESENHA

 

Criança, a Alma do Negócio.

Vanessa Ruffatto Gregoviski[1]

 

            A infância tornou-se algo banalizado. Não conseguimos mais perceber na rua crianças que de fato se vistam como tal, são raras as que o fazem e quando vemos isso acontecendo o que mais nota-se são as roupas de marca. O que percebemos são adultos em miniaturas, meninas com cinco anos com os lábios pintados de vermelho e usando salto alto. Mas a que se deve tudo isso? Por que as crianças perderam tão precocemente a capacidade do imaginário infantil?

            A mídia cada vez mais direciona as propagandas para um novo público: as crianças. A criança precoce tornou-se o consumidor assíduo. No filme podemos observar que a psicóloga mostrou para as crianças frutas e perguntou para elas qual o nome das mesmas, a maioria não soube responder. Em seguida, a psicóloga mostrou pacotes de salgadinhos e fotos com telefonias de celulares, todas sabiam responder rapidamente o nome das marcas. O consumismo infantil alcançou níveis preocupantes, em outro questionamento da profissional, as crianças afirmaram em unanimidade que preferem sair para ir ao shopping fazer compras do que brincar.

            Ao longo do documentário, uma mãe de uma das garotas entrevistadas afirma que a filha possui inúmeras Barbies e busca cada vez adquirir mais acessórios para a mesma, porém não brinca com a boneca. Notamos claramente aqui algo assustador: o público infantil está cada vez visando mais o “ter”, esquecendo completamente de todo o objetivo da brincadeira. Não é só na questão de comprar para consumir e não para saciar a vontade de brincar e fantasiar que a mídia mudou a vida das crianças. Até mesmo o tipo de alimentação mudou, as crianças que antigamente comiam mais comidas saudáveis hoje em dia são as mesmas que só pedem McDonalds ou Burger King. A obesidade infantil nunca esteve em níveis tão elevados quanto está.

            O que devemos fazer quanto a isso? A perversidade dos meios de comunicação está cada vez mais evidente. Muitos países de primeiro mundo como a Noruega e a Suécia proibiram a veiculação de propagandas direcionadas ao público menor de 12 ou 16 anos. Seria essa uma solução viável? Quanto a noção de ética e falta da mesma está sendo levada em conta pelas indústrias e publicitários?

            Uma forte conscientização da mídia é algo necessário. De que nos adianta falarmos para crianças com cinco anos que comprar alguma coisa de marcas que não passam na televisão vai ter a mesma qualidade que comprar a de um produto extremamente conhecido se a realidade que é transmitida para ela não é essa?

Parecemos estar vivendo num retrocesso ao século XII, aonde a criança não era tratada como tal. É importante voltarmos a ter noção de infância, do quanto ela é importante e como devemos nos esforçar para que as futuras gerações possam vivenciá-la no tempo correto, sem se preocupar cada vez mais em amadurecer e se tornar adolescente com menos que dez anos de idade.

 

 

[1] Acadêmica do Curso de Psicologia da Universidade de Passo Fundo