RESENHA

VIGARELLO, Georges. A história e os modelos do corpo.Pró-posições, v.14, n.2(41), 2003.

Marcio Garrit

PERSPECTIVAS TEÓRICAS DA OBRA

            O autor inicia seu artigo destacando a importância de analisar o corpo de inúmeras formas. O corpo muda conforme o tempo e sua forma de analisá-lo e percebê-lo no meio social também.   Dessa forma, o corpo precisa ser revisto através da diversidade cultural a qual está inserido.

            Vigarello, ao longo de seu artigo, insiste nas diversas formas de expressão corporal e sugere a conceituação de três faces corporais como uma maneira de analisar os "investimentos e singularidades, e, é claro, sua própria história"(p.2).  Nomina essas formas de princípios da eficácia, propriedade e identidade.  "Essas três faces demonstram o quanto a história do corpo pode revelar-se heterogênea"(p.3).  Além  dessas definições, marca-se as qualidades físicas que são atribuídas ao corpo conforme a história, a civilidade como ferramenta de atribuição a virtude em relação ao corpo e forma de análise da velocidade e tempo.  A forma como se conta e percebe o tempo, segundo Vigarello, dita a maneira como cada indivíduo se posiciona em relação ao seu corpo no cotidiano.

            Em resumo, o autor, durante todo o artigo deixa claro a importância de analisar o corpo sempre em relação a vários registros e modelos a qual esse corpo está inserido e que sem essa análise segmentada e imparcial não será possível entender o papel do mesmo no meio social, além das suas potencialidades.

 

IDÉIAS CENTRAIS DA OBRA

 

            O corpo não pode ser analisado exclusivamente por uma época ou por um povo.  Deve-se analisar toda a conjuntura que o circunda.  As influências que o mesmo recebe não são apenas subjetivas, mas também tem o poder de inserir mudanças físicas no mesmo.  Para que o corpo seja analisado de forma eficaz, será importante que o desfaça enquanto "unidade original" e o pense pelos aspectos diversos de seus registros culturais.

            A cultura deve ser pensada como grande orientador e formador desse corpo.   As profissões de cada época são formas balizadoras para essa afirmação, onde cada atividade em cada tempo mostra essa singularidade corporal.  Essa diversidade pode ser definida em três classificações, sendo elas: Principio da eficácia é onde se percebe a capacidade de ação do corpo sobre os objetos.  Principio de propriedade é a apropriação do que há de mais intimo do seu corpo para com o próprio sujeito, facilitando, inclusive a relação com o outro. E o Princípio de identidade, que marca a forma do expressar de maneira total, ou seja.  Não só com os outros, mas com a natureza e os sentimentos gerais que esse corpo carrega.  Esses princípios mostram o quanto esse corpo pode ser heterogêneo e aparentemente inconciliável.

            Se mostra importante analisar o gestual do corpo, as formas de sociabilidade que esse corpo apresenta onde a escrita não capta.  Essas análises tem por intuito a complexificação dessas representações corpóreas, mas ao mesmo tempo são importantes para reestruturar os conceitos de representação que temos de homem e mulher na contemporaneidade.

            Na análise da história do corpo, conceitos como força e destreza são de grande importância.  Vigarello cita os séculos XV e XVI onde não havia elogio algum a qualidades abstratas para esse corpo e apenas seus movimentos físicos e suas aptidões estéticas eram enaltecidas.  Esses conceitos mudam conforme uma renovação das virtudes da sociedade. É citado também o século XIX como instaurador da "velocidade como qualidade física e, ao mesmo tempo, um modo de funcionamento orgânico peculiar."(p.7)  É atribuído a esse século, também, uma nova forma de organização do tempo e sua consequente mudança do cotidiano.  Os corpos precisariam se adaptar ao fracionamento do tempo e as novas formas de se relacionar com a velocidade, fazendo-os redefinir suas qualidades.

            Vigarello conclui seu artigo demonstrando a necessidade de analisar o corpo como "modelos de corpo" e não como um corpo único.  Mostra a urgente necessidade de fragmentação conceitual e imparcial devido as nuances culturais e contemporâneas.  

APRECIAÇÃO CRÍTICA

            Se formos traçar um paralelo da análise das manifestação do corpo com as demonstrações dos mesmos no dia a dia no espaço escolar, poderíamos iniciar evidenciando a urgência de refletir sobre a subjetividade, sempre única, de como esse corpo se mostra e vem se "metamorfoseando" ao longo do tempo.

            O autor nos mostra que toda e qualquer análise desse corpo deve vir atrelada ao espaço cultural que ele esta inserido e é sabido pela nossa prática que tal espaço, principalmente nos últimos tempos, vem acelerando as mudanças éticas e morais em relação a esse corpo, invadindo-o e estimulando a uma quantidade de experiências muitas vezes inconciliáveis.  Tal estrutura acaba por refletir na alteridade desse corpo com o meio, trazendo nele certas obliterações conceituais em relação ao outro.  Todo esse campo de significações corporais precisam continuar a ser analisados em sua subjetividade para tentar trazer para o ambiente escolar não só uma unidade ética, como também a sensação de pertencimento de si do aluno em relação as potencialidades do seu corpo.

            Dessa forma, acreditamos, que o educador necessita se integrar as diversidades culturais que invadem as estruturas de manifestação desse corpo, e se colocar como agente entre o aluno e o meio escolar afim de auxiliar e tutoriar que este consiga se potencializar em relação ao meio trazendo tudo aquilo que seu corpo pode enquanto sensação de pertencimento de si.

CONCLUSÃO

            Com uma posição analítica e clara sobre a importância de analisar o corpo, Vigarello é preciso em afirmar a necessidade de refletir sobre os conceitos pré concebidos na contemporaneidade dos papeis de homem e mulher e a necessidade de ampliação de tais visões.  O corpo não pode se prender a analises fixas e muito menos em verificações fáceis. 

            Dessa forma, Vigarello conclui  afirmando que toda e qualquer mudança ao longo do tempo, marca o corpo, seja direta ou indiretamente e é necessário que estejamos atentos para isso.  A ausência dessa reflexão impede a inserção do corpo em seu papel enquanto agente transformador social.           

NOTA SOBRE O AUTOR:

Marcio Garrit: Filósofo e Psicanalista/RJ

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