REPROVAÇÃO ESCOLAR NO BRASIL

Itamar Dias

Resumo:  Este artigo é fruto de pesquisa feita no Município de Guarapari/Es, nele discutiremos sobre reprovação escolar no ensino fundamental II. (6º) ano, tendo em vista que reprovação é um velho paradigma que permeia nas escolas públicas do Brasil. Vale lembrar, que o tema em questão tem sido objeto de estudos e reflexões de educadores e pesquisadores há várias décadas, porém, os resultados das pesquisas continuam apontando altos índices de reprovação no ensino público brasileiro. Desta forma, o tema continua merecendo atenção para estudos e pesquisas.

Palavras chaves: Educação, reprovação, escola.

Introdução:

A reprovação escolar é um assunto bastante complexo, visto que envolve questões educacionais, familiares, culturais e podemos dizer que até mesmo emocionais. No entanto quando existe um olhar voltado para o ensino e para o ambiente escolar em uma sociedade de classes, encontram várias explicações e condições que podem por si só explicar o alto índice de reprovação, no entanto continuam a atribuir as causas da reprovação à teoria da carência cultural e a falta de acompanhamento dos pais na trajetória escolar dos seus filhos. Nesse sentido o presente artigo se justifica por fornecer uma importante contribuição para a sociedade e pesquisadores acerca do assunto, ajudando a compreender o fenômeno que é a reprovação escolar.

Ensino Fundamental I séries iniciais

          Pesquisa recentes apontam que nas primeiras séries do ensino fundamental I (1° ao 5º ano), apenas 1,5% dos alunos abandona a escola ao longo do ano letivo. Mas o cenário se agrava a partir do 6° ano, quando a taxa de abandono atinge em média 4,6% dos alunos, isto significa três vezes mais do que a verificada nos anos iniciais da etapa. As taxas de rendimento escolar, divulgadas pelo (INEP) Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, revelam que a “porta de saída” da escola se abre logo no início do segundo ciclo do ensino fundamental e o problema cresce à medida que os anos seguem, atingindo um pico na última fase da educação básica (ensino médio).

           Os dados publicado em 22/05/2012, apontam que o abandono é um problema quase residual quando a criança está iniciando sua trajetória escolar, com uma taxa que varia entre 1,4% e 1,7% entre o 1° e o 5° ano do ensino fundamental. É no segundo ciclo que começa a crescer. O índice mais alto foi registrado no 6° ano (4,6%), caindo para 4,3% no 9º ano, última série da etapa.  INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas. Dados preliminares do Censo da educação escolar. Disponível em: www.inep.com.br. Acesso em: 09/ março de 2016.

Transição séries iniciais para a serie finais 6º ano

          É sabido que o segundo ciclo do ensino fundamental (séries finais) não é foco nem das políticas públicas nem dos pesquisadores que estudam os problemas do sistema escolar no Brasil. Nesta fase a rotina do aluno passa por uma grande mudança quando ele entra no 6° ano, mais disciplinas compõem o currículo e vale lembrar que o conteúdo se torna mais complexo. Por volta dos 11 anos, a criança passa a conviver com mais professores de diferentes disciplinas, em oposição as séries anteriores que tinha apenas um ou dois profissionais que ministrava todos os conteúdos. Ao se depararem com novos professores, cada um com seu estilo e método de ensino e seu próprio manejo de sala, é frequente os alunos enfrentarem dificuldade de organização, com consequente prejuízo acadêmico.

           Esses fatores podem explicar o aumento da taxa de abandono. Atrelado a isto, a escola espera que o aluno ao ingressar no 6º ano já tenha maior autonomia na realização de suas atividades e passem a ter uma supervisão escolar bem menor em relação às séries anteriores isto é, ele já deve ser capaz de anotar na agenda e realizar, com responsabilidade, as atividades que precisam ser feitas.  Em contra partida, a escola por sua vez, em suas práticas, ao mesmo tempo em que valoriza essa atitude, passa a mensagem de que gostaria de ter a família mais presentes na escola, pois acredita que o envolvimento dos pais com a escola é fundamental para a aprendizagem e sucesso dos alunos.

           Nesse sentido, não basta que os pais saibam que o filho vai todos os dias para as aulas e realiza as tarefas, eles precisam entender o objetivo que cada tarefa consiste, e mostrar que estarão ali, apoiando seus filhos. De acordo com LUCK, (2010) as escolas em que os pais estão mais presentes os discentes aprendem mais. Portanto, os pais devem participar ativamente da educação de seus filhos, tanto em casa quanto na escola. Principalmente se levar em conta a fase de transição isto é, da fase de criança para adolescência.

             Segundo estudo de ESCHILETTI PRATI & EIZIRIK, (2006), aponta a passagem do 5º ano para 6º ano do ensino fundamental como sendo um momento emblemático que envolve mudanças principalmente nas funções que pais, professores e alunos assumem, mesmo quando a instituição permanece a mesma.

        Neste contexto, responsáveis, professores, alunos acabam precisando encontrar outras formas de conviver.

Ao entrar na quinta série (6º ano), o espaço escolar assume vários significados. A troca de períodos, os pais não sendo os responsáveis pelo aproveitamento dos filhos, e, consequentemente, uma maior apropriação do processo de aprendizagem pelos alunos são algumas alterações que compõem esse momento escolar. Essas mudanças se refletem nas práticas compondo novas exigências e novos desafios. A quinta série (6º ano) não é necessariamente uma série mais difícil, mas uma série na qual alunos e pais são desafiados a corresponderem com expectativas diferentes. O convívio entre alunos e professores com formação específica gera um campo de estranhamento e criação que logo é compreendido e vivenciado pelos personagens da passagem como um campo de desafio e crescimento. (ESCHILETTI PRATI & EIZIRIK, 2006.)

            Vale dizer que há uma ruptura entre a passagem do quinto para o 6º ano, e essa passagem nem sempre é realizada de forma tranquila ou superada como etapa de transição. Desta forma, concluiu-se pela especificidade do 6º ano que marcou o início de uma etapa diferente das cinco primeiras séries do Ensino Fundamental I, com repercussões no desempenho escolar. As séries iniciais (1º ao 5º ano) e as finais (6º ao 9º) do Ensino Fundamental representavam para os alunos etapas diferenciadas de escolaridade. A segunda etapa nesse nível de ensino foi marcada pela variedade de disciplinas, de professores e por uma forma escolar que, algumas vezes facilitou e em outras dificultou a possibilidade de tornar o aluno com menor dependência dos professores.

          Essa passagem, por sua vez difícil de ser superada, muitas vezes, culminou em situações de reprovação escolar. Para os alunos que fizeram parte desta pesquisa, a transição entre quinto e o sexto ano acarretou dificuldades. A maioria dos estudantes descreveram a diferença existente entre as séries iniciais e finais do Ensino Fundamental na forma como os professores e estudantes se relacionavam e se organizavam. Eles destacam essa etapa da escolaridade aonde os alunos precisavam demonstrar maior seriedade, esforço, competência, qualificação e aprendizagem, também era reconhecida pelo risco da reprovação.

          Sobretudo,  para aqueles que vinham apresentando, desde as séries iniciais, dificuldades com os conteúdos escolares. O 6º ano é a fase onde os pais se distanciam da escola por conta de dá maior autonomia pleiteada pelos pré-adolescentes, pela necessidade de crescimento social que a fase de transição proporciona, pela disponibilidade de horário dos pais, ocupados com sua labuta, o que culminará de acordo com ESCHILETTI PRATI & EIZIRIK, 2006.Na:

[...] possibilidade dos alunos assumirem as responsabilidades por seus atos pode desencadear um processo no qual os alunos decidem sozinhos que atitudes terão na escola. Assim, os pais não ficam sabendo o que está acontecendo e os professores ficam sem apoio frente às atitudes que estão adotando. Isso desencadeia uma busca por apoio simultaneamente em paradoxo com a mensagem de autonomia dada fortemente pela escola. (ESCHILETTI PRATI & EIZIRIK, 2006. 297)

[...]