REPRESENTAÇÕES DE MEIO AMBIENTE E NATUREZA COMO INSTRUMENTO PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM MARCELÂNDIA- MT

RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo identificar as representaçõesde meio ambiente paraalguns grupos sociais do entorno da Escola Pública Municipal Castro Alvesem Marcelândia- MT. Constatou-seque a representações ambientais do público alvo,estruturam-se basicamente naspráticas cotidianasrelacionadas à luta pela sobrevivência. Os resultados mostraram que se faz necessário direcionar estratégias de práticas de educação ambiental,especialmente com atividades escolares. Aeducação ambiental críticacom propostas pedagógicas poderápromover uma experiência dialógica entre a escolae a comunidade. O envolvimento da comunidade com a gestão públicatambém poderá contribuir com mudanças significativasna percepção e na realidade socioambiental, onde o indivíduo passe a se integrarno ambiente e a buscar formas de conciliar a preservação da natureza com a subsistência da sociedade local.

INTRODUÇÃO

Este trabalho buscou envolver alunos da Escola Castro Alves em discussões sobre questões ambientais com atores sociais da Vila Esperança, uma comunidade de baixa renda do município de Marcelândia, localizada no extremo Norte do Estado do Mato Grosso.

Trata-se de uma tentativa de desenhar a adoção de pontos de vista, o comportamento, o modo de pensar e agir os dilemasambientais da atualidade, segundo Hogan & Vieira, 1992.

Partindo-se do pressuposto de que na base da problemática ambiental está a relação homem-natureza, sociedade humana-natureza, supõe-se que o estudo das representaçõessociais de natureza apresenta-se como um fértil campo para a aquisição de conhecimento, interpretação e reflexão dos diferentes olhares, valores, interesses, posições e práticas que circulam entre os grupos sociais acerca desse objeto (MOSCOVICI, 1978).

A expectativa é de identificar não apenas as diferentes representações que se supõe existir sobre meio ambiente, mas também as ideias e os valores comuns aos grupos e que possam estar conduzindo as práticas sociais que contribuem para a construção e reconstrução da realidade ambiental.

O diálogo sobre as representações sociais de meio ambiente, poderácontribuir com o debate das questões ambientais no lugar, trazendo à memoria o resgate da consciência ecológicados envolvidos. Poderá também, fornecer subsídios para a identificação de estratégias a serem utilizadas nas práticas educacionais e pelos segmentos sociais, com relação àmelhorias da qualidade de vida da comunidade.

Além disso, o primeiro passo para a educação ambiental, deve ser a identificação destas concepções das pessoas envolvidas no processo educativo (REIGOTA, 1995). Este autor considera como representações sociais “um conjunto de princípios construídos interativamente e compartilhados por diferentes grupos que através delas compreendem e transformam sua realidade”(p.70).

METODOLOGIA

Este trabalho baseou-se em uma amostragem pontual com aplicação de métodos qualitativoscom realização de entrevista semiestruturada.

A pesquisa foi elaborada e desenvolvida com envolvimento de alunos do 7° ano da Escola Pública Municipal Castro Alves.

A primeira fase da pesquisa foi a discussão sobre o tema e elaboração de questionário pelos alunos. Para coleta e tratamento dos dados optou-se por uma abordagem metodológica cujo termo indutor das perguntas foi meio ambiente, onde foram abordados temas sobre: Representação de meio ambiente e natureza, Futuro da natureza local e conflitos decorrentes do uso/ocupação.

As questões apresentadas no questionário objetivaram diagnosticar a concepção dos entrevistados, quanto a assuntos relacionados ao meio ambiente, contribuindo assim para o resgate da consciência ecológica e uma reflexão das ações tomadas em defesa da natureza, no intuito utilizar o diálogo como ferramenta para promover educação ambiental na escola e fora dela.

A segunda fase da pesquisa foi a identificação do público alvo da entrevista e divisão em grupos.Foram identificados cinco grupos: professores, sitiantes, alunos, comerciantes e moradoresque interagem no entorno da Escola Castro Alves.

A terceira fase foi a aplicação de50questionários contendo perguntas abertas sobre representações de meio ambiente e natureza.

A quarta fase foi a análise das respostas e divulgação dos resultados.

As respostas foram analisadas juntamente com o grupo social a que cada indivíduo pertence,a fim de verificar se esse fator influenciou a visão dos entrevistados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Estrutura das Representações de Meio Ambiente aos Grupos Sociais 

A pesquisa foi marcada por uma nítida variação na faixa etária dos grupos sociais: os comerciantes, sitiantes, professores e moradores possuem idade entre 33 e 55 anos. Os alunos possuem idade entre 11 e 16 anos. Duas geraçõesforam identificadas, fator que implicou em uma oportunidade para enriquecimento da pesquisa, tanto pela possibilidade de comparação das faixas etárias, quanto dos grupos sociais.

Ao analisar as respostas sobre o que o meio ambiente representa, as respostas dos sitiantes e moradores direcionaram que meio ambiente é o ar puro, rio, peixes, passarinhos, pomar, mata virgem, campo, floresta e madeira, remetendo-se aos recursos naturais locais.

No grupo de comerciantes a maioria respondeu que meio ambiente está relacionado ao verde da floresta, floresta esta que emprega grande parte da população do município.

Para o grupo de professores, verificou-se quemeio ambiente representa vida, criação, tudo na terra, etc.Outra dimensão especificada neste grupo foi a dimensão espiritual, quando alguns entrevistados falaram em Deus como o criador de tudo que existe.

De modo geral, na pergunta “O que o meio ambiente representa?” os alunos responderam que representa a natureza. Somente um aluno mencionou fazer parte do meio ambiente, quando diz que é tudo o que existe. Em sua pesquisa Marçal (2005) também verificou que, para a maior parte dos estudantes do Ensino Fundamental, o meio ambiente tem o mesmo significado de natureza, não sendo considerada a participação da sociedade. No entanto, a mudança de atitudes a favor da melhoria da qualidade de vida da sociedade depende de que, primeiramente, o indivíduo se reconheça como parte do ambiente, se sensibilize com os problemas e se sinta responsável por eles (SANTOS, 2000).

Percebeu-se que a maior parte das concepções não considera o caráter social comoparte  do  natural,  isso  porque  não  incluem  o  ser  humano  como  parte integrante da natureza e do meio ambiente. Entendemos que a compreensão destes deve  ir  além  da  descrição  dos  recursos  naturais. Desta forma, compreendemos que a Educação Ambiental crítica poderá proporcionar discussões que se proponham a ressignificar esses valores, justamente por seu objetivo que, segundo Carvalho (2006), centra-se na construção de sujeitos ecológicos.

Através desta pesquisa tornou-se evidente a grande necessidade da inserção de atividades de educação ambiental com propostas pedagógicas que abordem a realidade socioambiental da localidade, onde o aluno passe a se integrar.

De acordo com Leff (2004) a educação ambiental fomenta novas atitudes nos sujeitos sociais, a fim de, educar para formar um pensamento crítico, criativo, e prospectivo, capaz de analisar as complexas relações entre processos naturais e sociais, para atuar no ambiente com uma perspectiva global, mas diferenciada pelas diversas condições naturais e culturais que o definem.

Assim como o termo o meio ambiente, o termo natureza assumiu duas representações principais: natureza provedora e natureza degradada.

Aprimeira foi defendida pelos comerciantes, sitiantes e moradores, onde a natureza teve representação enquanto provedora das necessidades (fonte de empregos, fartura, fonte de sobrevivência, fonte de vida,). Um forte exemplo de natureza provedora foi identificado no grupo de sitiantes, quando relataram a natureza como sendo de sua propriedade e para seu uso. Para alguns entrevistados a natureza local representa a alimentação, trabalho, bem estar, paz, segurança, beleza e prazer. Com isso, entende-se que a natureza possui valor porque lhes oferece os recursos.Esta é uma concepção já revisitada por (Passmore, 1995; Thomas, 1989; entre outros).

A segunda representação evidenciadaem todos os grupos foi a natureza local como degradada ou em processo de degradação.

Entre os grupos foi unânime a preocupação para com a natureza que está sendo destruída. Alguns falaram que o modelo de desenvolvimento vigente na região é o responsável por tal degradação. O grupo de moradores, sitiantes e comerciantes relatou que a natureza local está pressionada com o desmatamento e que nem sempre é possível que esta atividade seja realizada de forma legal, mas é preciso ter empregos, revelando desta forma preocupação com o bem estar social e econômico.

Os moradores expressaram preocupação com um futuro de escassez,falaram com ênfase de uma natureza como fonte de trabalho e de recursos naturais que garantia uma grande porcentagem da mão de obra local. Segundo aSecretaria Municipal de Meio Ambiente até o ano de 2005 a indústria madeireira era responsável por 80% da economia municipal e aproximadamente 65% após o ano de 2011.

Todos os grupos com representantes com faixa etária acima de 20 anos trouxeram falas e ilustrações de destruição da natureza local. Os depoimentos foram na direção de que há poucos anos a natureza era rica, a biodiversidade era maior, havia rios na cidade para tomar banho e que tinha tudo com fartura. No grupo de moradores e comerciantes foi relatado que havia matas e onças ao redor da cidade e hoje a floresta está mais longe, esta é uma evidência de que há percepção de que a natureza local está em processo acelerado de degradação.

Embora, vários representantes dos grupossociais demonstraram preocupação com a natureza, estes não mencionaram ter participado ou realizadoações ambientais que contribuíram com a mudança desta realidade. Fator que denota à ausência dos poderes constituídos na efetivação de tais atividades.

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