EPRESENTAÇÃO DA POESIA SOCIAL BRASILEIRA: UMA ANÁLISE A PARTIR DO PRISMA DO POETA CASTRO ALVES

RESUMO 

O presente artigo pretende lançar um olhar sobre o fazer literário do poeta Castro Alves, o maior representante da poesia social na terceira geração do Romantismo. Inspirado por Victor Hugo, Castro Alves é um poeta revolucionário que trouxe para a literatura brasileira a poesia social e humanitária, anunciando nos seus versos que um novo mundo seria possível. O desenvolvimento desta análise lança um olhar sobre o autor, englobando seu contexto histórico e literário, também com seus poemas líricos e sociais, mostrando o seu amor pelas mulheres e pelas classes marginalizadas e escravizadas.

INTRODUÇÃO

Castro Alves, um poeta brasileiro e revolucionário, conhecido como “Poeta dos Escravos” por todo seu envolvimento em questões abolicionistas, engajado em movimentos sociais, sempre lutou pela abolição da escravidão, expressando em seus poemas toda a sua indignação aos graves problemas sociais do seu tempo.  Denuncia a crueldade para com esse grupo de escravizados e clama pela liberdade, dando ao Romantismo um sentido social e inovador que o aproxima do Realismo.

É também o poeta do amor, sua poesia amorosa descreve a beleza e a sedução da mulher, transformando seus versos em um veículo de transmissão de suas ideias, com poemas criados para serem declamados em público e chegar a todos.

Líder do Condoreirismo no Brasil, movimento impulsionado por Victor Hugo, Castro Alves surpreende toda uma sociedade com seu modo de criar e declamar poesias, todas sempre contendo alguma crítica aos descasos e injustiças.

Sempre inovador Castro Alves demonstra, então, um maravilhoso talento para criar poesias que envolvem e comove as multidões, principalmente o público jovem. O poeta dos escravos, que anunciara um novo mundo torna-se fonte de egéria para futuras gerações, tendo em Manuel Bandeira um expoente de tal inspiração, visto que esse buscou retratá-lo tantas vezes em suas poesias, focando os aspectos românticos e sociais inseridos nos versos de poemas revolucionários e humanitários, como poderá ser observado no olhar que será lançado nessa análise.

APORTE TEÓRICO

  1. UM OLHAR SOBRE O AUTOR

Poeta inovador e intenso sentimentalmente, Castro Alves tomando a natureza em suas poesias como metáfora para a expressão de ideais elevados e de grande prazer do amor e do desejo, conforme nos diz em seus estudos Santos Souza (2015), apresenta olhares verdadeiros e expressivos, retratando ao lado de suas aspirações, paisagens brasileiras em versos de beleza incomparável.

Até mesmo, no que se dispõe a fazer critica social, é feito de forma diferente, já que implanta na literatura algo novo e importante, digno de elogios e admirações, expondo em sua época que o silêncio precisa ser rompido e que os homens deveriam e tinham o direito de serem livres no Brasil.

Assim, como a poesia social, toda a sua obra está atrelada à sua imagem. Com um olhar contemporâneo, Castro Alves seguiu pelos caminhos dos desejos, das angustias, da realidade escrava e cruel dos menos favorecidos. Foi um poeta à frente de seu tempo, com desejos de liberdade e com uma poesia que busca mover as pessoas e seus silêncios.

Mas Castro Alves não só escreveu poemas líricos. Segundo Zenóbia Collares (2010), em suas poesias, como “Teu laço de fita que faz parte de Espumas Flutuantes” único livro publicado em vida pelo autor, a sensualidade e o erotismo explícitos aparecem aliados a uma concepção poética do amor como sentimento vivido em sua plenitude, seja no ponto de vista emocional, seja no que diz respeito à fruição do amor carnal. As mulheres amadas são sensuais e desenvoltas, ao contrário da musa das gerações anteriores, que eram recatadas e intocáveis.

Sua poesia apresenta, então, uma nova imagem sobre a mulher, considerada como aquela que está próxima da figura sensual. E com isso, o amor de cunho platonizante, puro sentimento, tal como era idealizado pela primeira geração de poetas românticos, não tem lugar no lirismo desse renomado poeta. Esse sentimento, em sua lírica, é retratado sob a lupa da paixão, da sensualidade e do desejo amoroso. A mulher amada é envolvente, real, lasciva, ousada, e a paixão é a válvula propulsora que move o poeta a escrever versos de exaltação à relação amorosa que o envolve.

1.1 VICTOR HUGO: O MESTRE

A primeira metade do século XIX é influenciada pelas lutas políticas e pelas teses sociais. Numerosos escritores aderem às causas democráticas, e surgem obras de conteúdo sociais e monetários. Já a segunda metade do século é caracterizada pelo progresso da ciência e por sua influência na vida das pessoas.

É nesse contexto, segundo Lopes (2012), que se encaixa Victor Hugo, com seu malabarismo rítmico e o domínio da arte de escrever sobre temas medievais, sendo aclamado pelos jovens escritores da época, tornando-se porta-voz da nova escola literária: o Romantismo.

Victor Hugo sempre muito aristocrático e venerado pelos jovens literários criava obras com caráter sociais, geralmente expondo críticas sobre a sociedade e algumas vezes momentos da sua vida. Para ele a liberdade literária seria filha da liberdade política. E libertar-se da velha forma social; era libertar-se da velha forma poética. Ele defendia que um novo povo merecia uma nova arte.

César (2013) defende que uma das suas principais obra conhecida como Os Miseráveis é uma crítica a sociedade francesa, retratando através dela a miséria na sociedade que sempre acompanhou seu processo histórico, afligindo principalmente os membros do terceiro estado (camponeses e sans-culottes), mas é no fim do século XVIII e principalmente no século XIX, que ela se agravara, graça ao crescente desemprego, fome, crises econômicas, entre outros fatores, que acaba tornando o país em um barril de pólvora, detonado nas revoltas populares que assolaram a nação no período.

É essa vida miserável que o romance de Victor Hugo virá relatar como foco central, mostrando o panorama socioeconômico da população francesa. A riqueza imagística e formal de sua lírica fez de Victor Hugo o maior poeta francês, e um dos seus mais importantes prosadores. Hugo produziu várias obras-primas, em verso e prosa.

É inspirado nesse posicionamento de Victor Hugo que Castro Alves começa a se envolver em questões sociais tornando-se o maior representante da terceira geração do Romantismo no Brasil, diretamente envolvido na campanha abolicionista, que se tornou um dos temas centrais de sua obra, o que lhe rendeu o título de “Poeta dos Escravos”.

1.2 UM PARALELO ENTRE CASTRO ALVES E VICTOR HUGO    

Santos Souza (2015) defende a ideia de que os poetas adeptos do movimento condoreiristas, diferente do Romantismo, naturalmente egocêntrico, representam uma mudança profunda na essência desse estilo literário, cujo centro de preocupação da linguagem desloca-se do eu para o coletivo, ou seja, passa a dar voz a assuntos sociais como a abolição e a república, desenvolvendo uma poesia humanitária, através da produção de discursos nos sinceros nos quais se anuncia o “mundo novo”.

Esses poetas foram influenciados pelo escritor Frances Victor Hugo[1], por isso a geração condoreira também ficou conhecida como geração hugoana e Castro Alves foi um dos grandes adeptos e seguidores das idéias desse modo de fazer literário em nosso país.

Schneider (2011) chama a atenção para o fato de que Victor Hugo ao longo de toda sua existência de quase um século, recebeu títulos e distinções que ninguém recebeu. Este grande escritor, por seu talento, deixou de ser cidadão francês para tornar-se cidadão do mundo, uma vez que sua obra literária, suas palavras no campo da política, seus pensamentos e suas ideias filosóficas, seu ardente devotamento às causas sociais influenciaram o mundo inteiro e beneficiaram de uma maneira singular a todos os povos.

[1] Victor Hugo um poeta revolucionário, buscava sempre estar engajado aos movimentos literários da França, criador do movimento condoreiro e motivo de inspiração para poetas que possuíam o mesmo objetivo social.

Defensor das causas abolicionistas, Castro Alves interiorizou e, ao mesmo tempo externalizou os ideais de Victor Hugo, ficando, portanto conhecido como o poeta dos escravos, e tais atributos lhe são dados a esse grande mestre em virtude de sua habilidade em fazer da palavra um instrumento das causas sociais, haja visto que uma das vertentes que norteou suas criações foi exatamente a chamada poesia social. Influenciado, portanto, pelas ideias do escritor Vitor Hugo, cujo posicionamento ideológico era pautado por uma arte de cunho social.

Tal poesia propõe uma reflexão sobre a vida, sobre o significado do amor e sobre o direito de viver, assim, não se busca apenas abordar o amor voltado ao eu lírico, mas direciona-se também ao amor carnal, à luta de classes, dos oprimidos, dos marginalizados.

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