Resumo 

O presente artigo tem por objetivo explicar a estrutura racionalista da metafísica cartesiana, levando em consideração a existência de Deus e a conclusão da verdade por meio da dúvida metódica, e tendo como parâmetro os comentários de Silva e Marcondes. Visto que os referidos autores apresentam um diálogo seguro a respeito do pensamento de Descartes. A matemática não será o ponto chave da filosofia cartesiana, estudada neste artigo, apesar de se constituindo como um importante método para se chegar a verdade. Foi a partir de uma noção clara de inteligibilidade e um rigoroso processo de análise que Descartes estabelecerá o conhecimento verdadeiro, sobre Deus. Possibilitando o surgimento da ciência moderna, cujos princípios primeiros são as perfeições racionais de Deus.  

Palavras-chave: Deus, método, dúvida, pensamento e ciência moderna.

 

Introdução

O objetivo do presente artigo é apresentar a filosofia racionalista de Descartes, por meio da descoberta de métodos científicos que por si só pensa a verdade, a partir do Discurso do método racionalizado. Ressalta-se, porém, que existe uma forte influência metafísica na construção do saber, ponderando e efetivando uma ligação conceitual entre todas as obras de Descartes, pois, seu primado sempre será os métodos e a razão presente na busca da verdade.

A presente pesquisa é de cunho bibliográfico e se fundamentam na análise do pensamento de Descartes por meio de Silva e Marcondes. Analisando a contribuição que o autor deu a construção da ciência moderna.

Quando Descartes discursa sobre um método de entendimento e de boa percepção sobre a verdade, fica claro que esse é o processo que remete ele ao conhecimento verdadeiro[1], sendo possível o entendimento.

Os argumentos teóricos sobre a racionalidade possibilitou a constituição de uma ciência moderna, com métodos definidos e claros e, diga-se de passagem, que todo o ponto de partida é o pensamento ou a ideia, criando assim, uma verdadeira epopéia lógica diante da teoria do conhecimento que temos de Descartes e as práticas cientificas contemporâneas.

A partir do sujeito pensante, que se estabelecem os parâmetros do conhecimento seguro e definitivo. Logo, fica claro que a negação é a premissa primeira para se chegar a verdade, não a indagação cética, mas, a dúvida que põe em questão a veracidade do conhecimento propriamente dito, é que será capaz de levar a pessoa a buscar o conhecimento verdadeiro.

Quando se fala em filosofia moderna, somos obrigados a se atermos ao fato de que Descartes é o filósofo mais citado e comentado. A filosofia vê nele uma figura muito importante para a construção de verdade, métodos e conceitos seguros, segundo Silva (2004, p. 6) Descartes é o filósofo que inaugura o pensamento moderno, colocando a questão da ruptura da filosofia objetiva com a forma subjetiva de se pensar e ao mesmo tempo uma continuidade.

Ainda segundo Silva, essa ruptura com a subjetividade se dá através da crítica e não do abandono pedagógico. Modificando a forma de pensar temas complexos anteriores. A metafísica é a raiz, a base epistemológica que sustenta toda uma cadeia de conhecimento, que se impulsionar com todas as ciências. É a parir deste primado que “Descartes” cria uma nova metafísica, admitindo a possibilidade irredutível de se pensar a realidade por meio dos métodos, pensando uma verdade por meio de duas realidades, uma aparente e outra pensante (abstrata) ou corpo e alma.

Tudo que Descartes concebe como verdade já teria sido tratada antes, só que por víeis da especulação teológica da fé, do acreditar somente por acreditar. Passando a abordar essas questões pelo víeis da nova ciência, como Descartes cogita uma metafísica da dúvida? Como se concebe o ser pensante?

Descartes: a dúvida e a razão

Descartes, de educação jesuíta à uma mente metódica, que colocava as coisas em dúvida antes de evidenciá-las, ou seja, criando métodos práticos para se chegar a uma verdade, a partir da construção e da relação entre o sujeito que conhece e o objeto a ser construído. A melhor forma de se buscar a verdade é duvidando da forma como a mesma se apresenta a ele. A dúvida é o caminho que leva Descartes ao método que o conduz ao conhecimento das coisas. O engano passa a ser digno de desconfiança para o resto da vida, e por isso, não merece confiança alguma. Passando do estágio de duvidoso para falso, pois, não apresenta juízo algum de valores, não é nem verdadeiro e nem tão pouco falso.

A formação aí recebida constituiu para Descartes objeto de meditação durante grande parte de sua vida, tanto para reconhecer os méritos do ensino que lhe foi ministrado quanto para criticar o que nele havia de dogmático de incerto e de vazio (SILVA, 2004, p. 14).

É possível que toda forma de se buscar ou se relacionar com a verdade (de forma dogmática), foi substituída pela filosofia analítica do conhecimento, dos ritos e principalmente da forma como as religiões estavam posicionadas politicamente.

É um verdadeiro avanço, principalmente se for levado em consideração à importância que é dada ao cientificismo do conhecimento (ou empirismo da razão). Descartes observa algo de bom e proveitoso, através do hábito de duvidar. É a partir de sua visão que o homem poderia conhecer tudo, e a sua cabeça só poderia ser superada pela suma sabedoria de Deus. Vale apena ressaltar que: mesmo depois de todas as descobertas científicas, Deus ainda continuava no centro do universo e o homem era a medida do conhecimento possível.

Segundo Silva (2004, p. 15) “a extrema valorização da cultura antiga e um certo dogmatismo, faziam o saber depender da autoridade mais que do exercício independente da razão.” Pois, foi através de Descartes que a busca do conhecimento e da verdade se dará através das abstrações do pensamento. Segundo Silva (2004, p. 14) “por isso ele dará ênfase, no seu trabalho, ao caráter sistemático do pensamento”, o objetivo principal da razão é compreender a realidade, através de métodos.

O método é a maneira mais fácil de descobrir meios de se chegar a uma reflexão eficaz, de se chega à verdade ou de se conhecer a realidade. Era o princípio de uma nova metafísica, quando ele começa a colocar em dúvida a forma como esse saber era adquirido, e exposto sem propósito, sem fundamento algum.

No fundo Descartes resolveu, por volta de 1618, procurar um outro tipo de se saber, cujos fundamentos e forma de aquisição pudessem ser examinados de maneira mais imediata. Vai então, estudar em si mesmo e no “livro do mundo”, ou seja, inteirar-se do que são as coisas e os costumes observando-os por si mesmo ao longo das oportunidades que a vida oferece (SILVA, 2004, p. 15).

Esta passagem evidencia a preocupação do autor em externar o espírito analítico da cultura, como forma de conceber um corpo social e político heterogêneo, com várias preocupações e falta, mas, a principal seria dogmática.

A dúvida é a maneira mais segura de se compreender a verdade, como princípio necessário para se construir uma ciência segura e verdadeira. Assim, o dogmatismo é combatido pelo rigor da metafísica metódica, pelo racionalismo e pelo poder de abstração do “Eu”, em detrimento da instância superior (Deus). Foi e sempre será a partir da alma que a filosofia de Descartes inaugura uma nova metafísica, é a metafísica do sujeito que pensa sobre si mesmo e sobre uma possibilidade do conhecimento verdadeiro. Contra o sujeito que acha que pensa, e com medo de está errado nunca colocou a validade do seu pensamento em dúvida. A Dúvida é a forma fidedigna de se chegar à verdade. Sim, foi a partir da verdade posta no divã que a dúvida estabeleceu o seu primado, tornando a razão o seu instrumento de negação das verdades constituídas de forma arbitrarias.

A abstração “Penso, logo existo” transformou o sentido dogmático das coisas na transcendência material, perceptível aos sentidos intelectuais, promovida pela ascensão da dúvida sobre o verdadeiro. Segundo Silva (2004, p. 6) “Descartes opera uma inversão radical das perspectivas metódicas, e o faz a partir de concepções metafísicas completamente diversas das que eram até então vigentes.”

Descartes buscará a verdade, através de seus métodos exercitados pelo próprio intelecto racional, recusando a força e o poder da autoridade imposta de forma arbitrária. A melhor forma que Descartes encontrou para externar a evidência do método como forma de se chegar à verdade, foi através da metafísica e de suas formulas, que exigem abstração e disciplina racional.

Portanto, o método para Descartes são regras que norteiam o percurso do espírito até a sua plenitude, ou como regras que ajudam o homem a atingir a verdade.

Crítica ao pensamento antigo

Dentro da concepção de verdade e construção do conhecimento cartesiano, a filosofia mística e especulativa está fora desta concepção de verdade, eis que Descartes separa de forma definitiva e irrevogável a ciência e a religião, principalmente a que se fundamenta no mistério. Todo o processo de construção da filosofia de Descartes concentra-se na dúvida das coisas que não estejam claras e distintas, divergindo dos gregos antigos e dos medievais, que tinham a crença na existência das coisas de forma casualmente.

Descartes rompeu definitivamente e conflituosamente com o pensamento antigo. Com o tradicional, sem abandonar a forma simples de projetar uma cultura a serviço do homem e da história. Toda sua filosofia passa pela reconstrução das ambigüidades da plataforma saber-verdade, sem que uma não possa existir sem a outra. Sem saber não existe verdade e sem verdade não existe saber. Passando assim a recusar a cultura escolástica, que fora concebida de forma enganosa e sem pilares científicos, se baseando apenas na fé e nada mais. A forma como concebe sua filosofia, causa um desconforto nos defensores da cultura antiga, cosmológica ou dogmática.

O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída, porquanto cada um acredita estar tão bem provido dele que, mesmo aqueles que são os mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa, não costumam desejar tê-lo mais do que já o têm.

Não é provável que todos se enganem a esse respeito. Ao contrário, isso prova antes que o poder de julgar e distinguir bem o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se denomina bom senso ou razão [...] a diversidade de nossas opiniões não se origina do fato de que alguns são mais racionais que outros (DESCARTES, 2007, p. 13).

Buscando a verdade suprema através da reflexão, do raciocínio lógico. Por meio da dúvida a verdade se torna mais evidente, esta é a nova ciência e seus métodos matemáticos de se chegar ao fundo das coisas. E a fonte de será buscada na ciência. Com isso, a razão humana, guia o homem para a verdade, fazendo uso da ideia de perfeição, do censo racional que se converte em pensamento, e existência. Querendo afirmar que não existe Ser mais inteligente que o outro, o que existem são caminhos percorridos para se cegar a verdade.

Eu venerava nossa teologia e pretendia, como qualquer outro, ganhar o céu. Tendo aprendido como algo muito seguro, porém, que o caminho até ele não está menos aberto aos mais ignorantes do que aos mais sábios e que as verdades reveladas que para lá conduzem estão acima de nossa inteligência, não me atreveria a submetê-las à fraqueza de meus raciocínios e pensava que, para compreender sua análise e obter êxito, era preciso receber alguma extraordinária assistência do céu e ser mais do que homem (DESCARTES, 2007, p. 17-18).

A teologia antiga parte da premissa de que jamais o homem poderia atingir sequer a ideia de Deus e, por conseguinte a perfeição, por isso, seria impossível conhecer Deus em sua totalidade. Os antigos admitiam a existência de Deus, mas, negavam o conhecimento humano em torno dele.

Com isso, a certeza da existência passa pela segurança do conhecimento externo, que facilmente compreendido por equações matemáticas e suas propriedades quantitativas de peso e medida, que a razão reconhece como certe e irrefutáveis.

A argumentação filosófica de Descartes gira em torno da proclamação da razão, e com isso, o homem atingiria a verdade absoluta, por meio do raciocínio lógico ele chegaria à primazia Deus.

Portanto, quando Descartes fala (no início do “Discurso do Método”) do bom senso, ele está atestando a capacidade humana de distinção entre o falso e o verdadeiro, dependendo do modo como se aplicará o método de investigação e suas categorias eu busca e processam as verdades absolutas.

O Método

O alcance a verdade ou ao conhecimento verdadeiro s dará por meio da sintonia das categorias do método, que julga Silva (p. 26) ser a metafísica da modernidade e: “tais frutos são obtidos independentemente de erudição ou de dons particulares de memória e argúcia.”

Ainda argumenta Silva (2004, p. 26) que:

Descartes valoriza a tal ponto o método que atribui a ele a capacidade de remediar em grande parte, serão mesmo substituir, talentos pessoais que em princípio suporíamos essenciais ao estudo da ciência e da filosofia.

De início, o filósofo da dúvida, assim como Aristóteles, elege quatro passos fundamentais para alcançar a verdade, sem que esta não contenha nenhum resquício de dúvida, como argumenta Marcondes (2005, p. 81) “Descartes formula suas regras do método científico, que consiste no centro de sua concepção de ciência.”

Ainda segundo Marcondes (2005, p. 81):

As quatros causas do método consistem na regra da evidência, que deve garantir a veracidade de nossos pontos de partida no processo de investigação cientifica; a regra da análise, que indica que um problema a ser resolvido deve ser decomposto em suas partes constituintes mais simples; a regra da síntese, que sustenta que uma vez realizada a análise devemos ser capazes de reconstituir aquilo que dividimos, revelando assim um real conhecimento do objeto investigado; e a regra da verificação, que alerta para a necessidade de termos certezas de que efetivamente realizamos todos os procedimentos devidos.

A primeira etapa do método científico cartesiano consiste em negar, ou tornar céticos as evidências apresentadas como verdadeiras, devendo ser cometido de cautela, o sujeito jamais deve anunciá-lo como verdadeiro, e somente tomar como verdadeiro quando não restar dúvida de sua veracidade. Em segundo lugar, o sujeito deve dividir o objeto em quantas partes possíveis, para assim, ser possível examinar melhor. O terceiro procedimento consiste em ordenar os pensamentos, começando pela parte mais complexa, só assim, poderia conhecer melhor o enunciado ou verdade. Essa etapa consiste em facilitar e ordenar as reflexões humanas diante do objeto a ser conhecido. Estas foram às três primeiras etapas do conhecimento, que visam concluir o levantamento completo dos procedimentos, que sempre no final seja possível a eliminação da dúvida por completo.

Mas, somente o duvidoso não pode ser concebido como definitivo, assim, se constituí o espírito inquieto em Descartes, que se desfaz de todo o preconceito e passa a duvidar de tudo, contra todo tipo de tradição e forma de pensar.

Para conceber o espírito duvidoso é preciso seguir alguns métodos racionais, a partir de regras não contundentes. Jamais formule juízos a respeito de tudo e todos, analisando o que se apresenta como verdade, ficando somente o que é conveniente à verdade, e isto é o que interessa. É a partir desses procedimentos que se decorre o processo de racionalização da verdade como ponto chave da metafísica de Descartes.  

É evidente que este processo cartesiano expõe categorias abstratas e simbólicas do pensamento (intelecto ou raciocínio lógico), que busca a consciência plena da verdade. Lógico que as categorias cartesianas são a priori indagações que encontraram fundamentos e ampara teóricos no raciocínio matemático, tendo em vista a forma como a fórmula é exposta no “Discurso do Método”.

Portanto, fica evidente que todo o processo de construção da verdade em Descartes, consiste em um primeiro instante por a verdade em dúvida, checando a possibilidade do conhecimento verdadeiro sem que se esgote as tentativas de desvendar como um todo, em um primeiro momento jamais poderá ser afirmado a veracidade do objeto sem que este sofra uma abstração racional. Por que existem saberes adquiridos que pode mediar o encontro do homem com a verdade. Foi assim, que Descartes desconstruiu a verdade dogmática que imperava.

Antes do benefício da dúvida toda construção era amparada legalmente pela força da tradição e da fé, que era exposta como força social, filosófica, científica e política. Por isso, era um período místico e vivia em constante crise analítica do sujeito.

Com Descartes a verdade deixa de ser vertical e se torna horizontal, a tal ponto que Deus possa ser um predicado científico, que não lhe atribuiriam apenas predicados morais, mas, filosóficos.

Em relação à dúvida, ela consiste na procura do fundamento último da verdade, que dará sustento a construção do saber. Rompendo com as concepções cosmológicas do pensamento medieval, assim, o pensamento de Descartes caminha para uma concepção científica, com base em princípios e métodos matemáticos, Descartes vai além do tradicional, abalando as estruturas da construção do saber, duvidando das construções epistemológicas tradicionais, passando a introduzir a razão científica como método de se chegar a verdade, sem que o mesmo possa ser questionado.

Portanto, com Descartes o objeto deve ter a sua clareza e distinção. Uma vez que está sujeita a análise e ordenação racional, permitindo a partir de então o acesso a verdade absoluta. Logo, o pensamento cartesiano afasta o sujeito dos preconceitos e dos julgamentos precipitados, afastando d senso comum da tradição.

Pensamento e Existência

Descartes estar afirmando que a consciência é a parte primordial para que haja um pensamento firme e verdadeiro, é a partir dos conteúdos analisados que a consciência toma como base para chegar ao fundo das coisas, das formas elementares. Segundo Silva (2004, p. 53) o pensamento é: “o conjunto dos conteúdos da consciência.” Os fatos e objetos (enunciados) são processados internamente pela consciência. Portanto, toda ação da alma está condicionada em forma de pensamento, porque o sentir (de sentimento) é tomar consciência da dimensão da verdade de dentro para fora.

O atributo pensamento, no entanto, não pode ser separado de mim, sendo por enquanto o único que me define. Os modos em que se da o pensamento, tais como sentimento e imaginação, podem ser considerados como outros tantos atributos que devem ser acrescentados ao conhecimento de mim mesmo? Não, se considerarmos os aspectos em que esses modos dependem daquilo que anteriormente foi colocado em dúvida (SILVA, 2004, p. 56).

A verdade se concentra na representação que o sujeito faz dela, a partir da consciência, é aí que se manifesta a forma moderna de se filosofar a partir da metafísica, pois, toda verdade é processada pela alma (razão) pensante. Logo, é visto que o pensamento é algo real e verdadeiro, devido a forma racional e imanente a todos os atos do espírito, a verdade do Ser reside no raciocínio lógico da razão humana.

Portanto, a existência é um fato real, constatado pelo ato de pensar, não necessitando de abstração, porque todo sujeito exerce esse ato, mesmo que seja involuntariamente e de forma desordenada, mas, mesmo assim é um ato racional e voluntário. E o ser cartesiano se afirma na metafísica lógica o pensamento, fora da matéria corpórea, e logo tudo será revelado através da razão. Como afirma Silva (2004, p. 55) “se o meu Ser contém algo mais que o pensamento, será através do pensamento que descobrirei.”

Deus é a realidade enquanto ideia

Quando uma pessoa procura a verdade primeiramente na ideia, ela está reconhecendo que a verdade existe enquanto abstração racional, pensamento. Segundo Silva (2004, p. 64) “a ideia em si mesma nos indica que a ideia [...] é, por si mesmo real.” Independente da representação moral do objeto. Portanto, é possível conhecer a verdade tomando como base ou parâmetro a sua representação, ou o próprio conteúdo. Segundo Silva (2004, p. 64) “esse conteúdo, no seu estatuto de ideia, é alguma coisa, e precisamente uma representação.” É possível conhecer Deus a partir da ideia representativa que é feita sobre ele, apesar do alto teor metafísico de sua essência.

Para esclarecer [...] e verificar se a ideia é autenticamente representativa, só há um caminho: partir para a própria ideia, examinar seu conteúdo e descobrir se essa análise me encaminha para alguma realidade fora da mente e seja causa da ideia (SILVA, 2004, p. 65).

A racionalidade cartesiana permite que o sujeito transcenda o espírito do raciocínio, onde se aplique apenas no conteúdo mental, mas, transcende abstratamente para a matéria representativa da realidade. Portanto, Descartes parte do interior para o exterior, e o que irá diferenciá-lo são apenas os métodos, (Agostinho) era extremamente dogmático e místico, enquanto que Descartes é racional.

Descartes estar colocando a questão da finitude, como princípio de existência de algo maior e exterior aos sentidos, existindo primeiramente enquanto ideia representativa, quando passa a criar uma hipótese segura a respeito da existência de Deus, relacionando uma atitude contemplativa com a racionalidade do Ser. Segundo Silva (2004, p. 65) “a dúvida, enquanto carência de conhecimento é uma prova de minha finitude.”

A causalidade cartesiana tem o seu princípio na ideia, essa forma é explicada pela lei da causa e efeito, logo, é fácil entender e aceitar a existência da ideia enquanto, verdade absoluta por causa dela própria, pensada e verificada, mas, deduzida exterior ao pensamento.

Usando os termos de Descartes, podemos então dizer que a presença no ser pensante finito de uma realidade objetiva infinita remete necessariamente a uma realidade formal infinita que é a causa da ideia cuja realidade objetiva é infinita. Sendo o efeito infinito, a causa deve também ser infinita (SILVA, 2004, p. 66).

A presença da ideia no sujeito é infinita e por isso, a sua causa (Deus) será infinita por essência e autonomia intelectual (racional). É por isso, que a existência de Deus é absolutamente provada e constatada enquanto ideia apenas, afastando todo o debate sobre a existência de Deus do material, ou seja, o sujeito toma conhecimento (consciência) de Deus pelo efeito da própria consciência racionalizada pela razão, porque Deus antes de tudo existe enquanto ideia. Segundo Silva (2004, p. 66) “a ideia que em mim representa o infinito é a ideia de Deus.” Por que somente Deus tem tal predicado de Ser e Ter todos os atributos infinitos.

Portanto, o Deus racionalizado por Descartes é infinito e detentor de soberania intelectual, como afirma Silva (2004, p. 66) que: “o próprio Deus, que teria, segundo descartes, deixado impressa em mim a infinitude como a marca do artífice em sua obra.” É claro que silva estar argumentando sobre uma razão antes de tudo metafísica anterior ao homem, como forma de reconstruir a existência humana, sem ser necessário recorrer ao dogmático para expressar tal argumento. 

Conclusão

Portanto, é pela sua lógica matemática, as bases serão construídas de forma que tudo que é finito também é ao mesmo tempo negativo e o que é infinito é positivo, com esses argumentos existe uma racionalidade matemática na existência, e pensar é a forma mais objetiva de comprová-la, e existe uma aproximação da lógica matemática com a filosofia tradicional. Assim, o Deus cartesiano é o verdadeiro motor imóvel, por que é anterior ao tempo e espaço e processado somente enquanto ideia.

Referencial teórico

SILVA, Franklin Leopoldo e. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo-SP, Coleção Logos. 8 ed. Moderna, 2004.

Descartes, René. Discurso do Método. Tradução: Ciro Mioronza. São Paulo, Escala-Coleção Grandes obras do pensamento universal-10, 2007.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia/Dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro, Jorge Zahar editor, 4 ed., 2005.



[1] O conhecimento pronto e acabado, que foi colocado em evidência pela dúvida.