Existem algumas ideias tidas por verdadeiras que qualquer tentativa de mostrar que não são verídicas parece loucura, ou desonestidade intelectual. Uma delas é a de que a ciência contradiz a religião. Desde à ascensão do período chamado “Iluminismo” até os tempos atuais, àqueles que se envolvem com a ciência são conhecidos por buscarem a verdade, por não ficar somente no campo das especulações, mas por querer chegar ao conhecimento da verdade, independente de qualquer que seja. Enquanto àqueles que são adeptos ou creem em alguma religião são conhecidos por seu dogmatismo e inflexibilidade às descobertas científicas; são taxados em sua maioria de retrógrados e primitivos, por supostamente apelarem à uma divindade (ou ás divindades) para explicar àquilo que a ciência não pode ainda obter respostas.
Essa reação para com o aparente embate entre ciência e religião não é presente apenas entre pessoas leigas, como também entre pessoas do meio acadêmico. Por exemplo, o biólogo Richard Dawkins descreveu a ideia de Deus como “um conceito infantil muito ingênuo”. O mesmo também afirmou em seu livro “O Delírio de Deus que “um dos reais efeitos ruins da religião é que ela ensina a nós que estar satisfeito com o que não entendemos é uma virtude.”
Mas será que a religião realmente é um atraso para o progresso da ciência? Ou isso é algo considerado por muitos verdadeiro, mas que na verdade é um mito?
Há alguns fatos que mostram que a ideia de que há um conflito entre ciência e religião é uma farsa. O primeiro, de acordo com o filósofo Alvin Plantinga, é de que foi a certeza de que a natureza era controlada por leis imutáveis, definidas por um legislador imutável, que deu ao homem a coragem de enfrentar o desafio de descobrir tais regras. Ou seja, foi por saberem que havia alguém externo a esse mundo, que o havia criado com algumas leis fixas, que eles tiveram condições de descobrir mais sobre este mundo onde nós seres humanos vivemos.
O segundo, é de que não poucos cientistas no passado eram religiosos. Johann Kepler; Blaise Pascal; Robert Boyle, Isaac Newton; Carolus Linnaeus; Michael Faraday; Georges Cuvier; William Thomson (Lord Kelvin); Joseph Lister e Gregor Mendel foram exemplos de cientistas que não vinham conflito entre suas convicções religiosas e o estudo científico.
Houve ainda o matemático Al Khwarizmi; o médico Ibn Sina; o historiador Al-Biruni e o filósofo Al-Ghazali que sendo religiosos, trouxeram grandes contribuições em suas respectivas áreas para a humanidade.
Outro fato que mostra que a religião não é um obstáculo para a ciência é que a ciência empírica primeiro apareceu na Europa Cristã, três séculos antes do surgimento do Darwinismo. Novamente, a crença de que havia um Autor para a natureza fornecia uma condição para o entendimento deste mundo.
Por último, o fato de a ciência se limitar ao mundo natural, impede ela de responder algumas perguntas como se a vida possui um sentido objetivo, se há valores morais objetivos, e até mesmo se há um Ser superior a nós, criador do tempo e do espaço. O procedimento usado pelos cientistas, o método científico, é incapaz de responder a tais perguntas, pois foge do seu escopo físico e natural. Esses questionamentos podem ser estudados pela filosofia e pela religião, que lidam com o metafísico.
Sabendo que a religião forneceu e fornece a estrutura conceitual onde a ciência floresceu e continua a florescer; que cientistas do passado como do presente (Francis Collins) possuem uma religião, e que isso não os impediu nem os impede de exercerem seus trabalhos científicos; e de que a ciência não é onipotente, mas é restrita ao campo natural, dependendo de outras áreas para o conhecimento e estudo daquilo que foge do ambiente físico; conclui-se que ciência e religião não são inimigas ou estão em um embate, antes, lidam com áreas diferentes e podem auxiliar uma a outra.