Relato de Experiência: O uso da museologia na formação de conhecimentos.

Prof. Dr. Carlos Humberto Biagolini, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Unesp – Campus Sorocaba.

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Resumo

Museologia é a área de conhecimento que se dedica a cuidar, manter, organizar e promover exposições de objetos considerados raros seja pelo tempo ou por dificuldades de aquisição. Atualmente, um museu representa principalmente o local onde não apenas se guarda, mas também se expõe objetos raros e de elevado valor cultural e apesar de inúmeras atribuições dadas aos museus, a função educativa é a de maior importância, pois, permite a gerações atuais, obter de forma prática, diferentes informações relevantes sobre o que se está expondo, como por exemplo, minerais que constituem a Terra, registros antrópicos do passado distante ou ainda evolução tecnológica de um povo. Baseado neste vasto campo cultural promovido pelos museus e aplicando técnicas relacionadas a eles, foi desenvolvido em uma escola pública de São Paulo, projeto cultural utilizando técnicas de museologia para fins didáticos na disciplina de ciências naturais e os resultados foram surpreendentes, despertando interesse por parte de alunos, professores e funcionários da unidade escolar, sinalizando para os benefícios da aplicação da mesma técnica nos demais campos de conhecimento.

 

 

Palavras chave: Museu, Antiguidade, Exposição.

 

 

Introdução

A palavra Museu deriva do grego Mouseion(Templo das Musas). Os latinos denominavam Museum ao gabinete ou sala de trabalho dos homens de letras e ciências. Ptolomeu I, soberano do Egito, deu esse nome à parte de seu palácio em Alexandria, onde se reuniam os sábios e filósofos mais célebres do seu tempo. Foi esse o primeiro estabelecimento cultural que recebeu o título de Museu. (dosSANTOS; 2017).

As coleções de quadros, esculturas, objetos de arte e de relíquias preciosas datam da Grécia antiga e de Roma. Na idade média, elas existiram nos mosteiros e igrejas. No Renascimento, nos palácios dos soberanos e grandes senhores. Nenhuma teve a designação de Museu. A primeira coleção que recebeu essa denominação foi a do Louvre na França, aberta ao público desde 1750. Depois a palavra Museu tornou-se habitual para designar coleções de qualquer natureza (públicas ou particulares) e até pouco tempo, o museu destinava-se apenas a abrigar e conservar coleções: era essa a sua única finalidade (PRIMO, 1999).

A museologia é uma ciência que está relacionada com muitas outras áreas de conhecimento, pela própria concepção de palavra, por esta razão pode ser utilizada na formação de conhecimento da área em diferentes momentos da formação continuada, podendo trazer inúmeros benefícios a educação. Segundo a Unesco (1958), nos registros do Seminário Regional sobre a Função Educativa dos Museus é possível se realizar a conservação física, investigação científica e apreciação (PRIMO, 1999).

O museu é simultaneamente objeto de estudo e prática cultural multidisciplinar. No termo de uma história complexa, o museu revela-se hoje como uma instituição central e incontestável da cultura ocidental. Conforme Poulot (2011), seu crescimento no final do século XX é o resultado de investimentos públicos e privados que permitiram a emergência desta forma de formação de conhecimento e a aplicação em menor escala pode ser aplicada no dia a dia da difícil tarefa de ensinar.

Embora o significado de museu nos remeta a um conjunto amplo de objetos de diferentes linhas culturais ele pode ser traduzido em pequenos elementos capazes de representa-los e desta forma, fazer parte do cotidiano de uma aula expositiva.

Quando um professoro leva para a sala de aula por exemplo, uma concha e encontra nela argumentos para reforçar o estudo sobre animais marinhos, ele está na verdade aplicando técnicas de museologia pois está disponibilizando um determinado material para visualização, acompanhado de um histórico sobre aquele material. Assim, muitas vezes professores do ensino médio e fundamental, utilizam como ferramenta de ensino a museologia sem necessariamente conhecer seu significado.

No entanto nosso relato de experiência aqui presente, descreve algo mais concreto no ramo da museologia que é a exposição de um objeto ou material de estudo por um determinado período de tempo, disponibilizando para diferentes públicos que frequentam a escola, um fragmento de museu, dentro do ambiente escolar.

 

Como surgiu a ideia?

Como professor de ciências e biologia por diversas vezes levei materiais para a sala de aula, com a intenção de reforçar conhecimentos de diferentes ramos da ciência como geologia, biologia, botânica, química entre outros. Em todas as vezes em que fiz uso deste recurso, observei o profundo interesse despertado entre os alunos. Além dos alunos propriamente ditos, sempre que possível, apresentava também estes materiais para funcionários da escola ou outros colegas professores. Em todos os casos, as reações eram as mesmas, ou seja, a curiosidade em olhar, tocar e questionar sobre. Assim, diante destas observações, efetuei a confecção de uma mesa/caixa, com tampo de acrílico, onde em seu interior o material apresentado era acondicionado e trocado quinzenalmente. Cada material apresentado foi exposto acompanhado de legenda relatando tudo sobre o objeto, porém de forma resumida, resultando em uma leitura rápida, com conteúdo significativo sobre o objeto apresentado.

 

Tempo de duração do projeto

O tempo de exposição foi de 9 meses, ou seja, um ano letivo. Foi iniciado nos primeiros dias de aula e retirado ao final do ano.

 

Local da instalação da caixa de demonstração.

Com a autorização da direção da escola, a caixa, foi posicionada em local denominado corredor de entrada, onde a passagem constante de alunos durante entrada e saída da escola, permitia a parada para visualizar os objetos apresentados.

 

Público atraído pelo projeto

Embora o alvo principal do projeto eram os alunos, foram observados por diversas vezes professores, funcionários e até visitantes da escola, principalmente nos dias em que ocorreram reunião de pais, visualizando o objeto exposto e fazendo a leitura da legenda relacionada ao objeto.

 

 

Conclusão do projeto

O projeto foi desenvolvido durante o ano letivo de 2015, tendo sido interrompido ao final do ano letivo. Em virtude de obras de reforma, o projeto foi encerrado, porém deixando como resultado, o reforço de forma lúdica no aprendizado.

Durante sua realização, buscou-se a diversificação dos objetos e materiais, entre os quais destacaram-se fósseis (plantas e animais), rochas e minerais, livros e discos de vinil. Além destes, aparelhos antigos, rádios antigos, carapaças de insetos, etc.

O ensino de ciências naturais nas escolas é recente e de acordo com os PCNs, praticados com diferentes propostas educacionais e se expressaram ao longo de tempo de cada em salas de aulas de diversas maneiras em que muitas das práticas, mesmo nos dias atuais baseiam-se na mera transmissão de informação tendo como recurso exclusivo o livro didático, o qual é transcrito na lousa ou lido em conjunto com os alunos.

As diferentes propostas reconhecem hoje que os mais variados valores humanos não são alheios ao aprendizado científico e que a ciência deve ser aprendida em suas relações com a tecnologia e com as demais questões sociais e ambientais (PCNs, p.21, 1998).

Nas salas de aula, atualmente, mesmo diante dos debates entre educadores especialistas e pesquisadores, nem todas utilizam as novas teorias e muitas delas ainda persistem nas velhas práticas.

De acordo com Valente et al (2005), atualmente existem vários espaços que contribuem com a educação tendo como meta suprir a sociedade em suas carências de conhecimento, possibilitando o empoderamento cultural e cientifico.

 

Referências bibliográficas

 

COSTA, e. P. Princípios básicos da Museologia. 21 ed. Curitiba: Secretaria do Estado e da Cultura do Estado do Paraná, 2006. 100p.

DOS SANTOS, A. O. Biblioteca da Ufla. Disponível em: <https://www.periodicos.capes.gov.br/?option=com_pnews&component=Clipping&view=pnewsclipping&cid=1045&mn=0> Acesso em: 30.mar.2019.

POULOT, D. Museu e Museologia. 1 ed. São Paulo: Autêntica Editora, 2013. 130p.

PRIMO, J. S. Pensar Contemporaneamente a Museologia. Cadernos Sociomuseologia v,16, n.16, 1999. Disponível em: http://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/view/350 Acesso em: 30.mar.2019.

VALENTE, M. E.; CASELLI, S., ALVES F. Museus, ciência e educação: novos desafios. Rio de Janeiro: História, Ciência e Saúde, 12: 183-203.