RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: Os estágios supervisionados como espaços de formação

Prof. Roure Ribeiro

Por muitos anos, os cursos de formação de professores fundamentavam-se na concepção epistemológica da racionalidade técnica, numa relação de subordinação das disciplinas práticas, em detrimento das teóricas. Como ressalta Perez Gomes, os currículos acabavam sendo normativos, seguindo uma sequência de conhecimentos dos princípios científicos relevantes, cujo objetivo é aplicar na prática cotidiana os princípios da ciência estudada.

Assim, o desenvolvimento de competências profissionais posiciona-se após o conhecimento científico básico por compreender que não é possível aprender competências e capacidades de aplicação antes do conhecimento aplicável. Em tempos atrás, quando terminada a graduação, pensava-se que o profissional docente estaria pronto para trabalhar em sua área, sem se preocupar em adquirir novos conhecimentos. Hoje, se reconhece a complexidade da prática pedagógica, e desde então, vêm-se buscando novos paradigmas para compreender a formação docente e os saberes que são requisitados a esse profissional. 

Considera-se, que o processo formativo inicial é impulsionador para as escolhas profissionais posteriores, bem como para as atitudes que o sujeito terá como docente. Além disso, as vivências no curso de graduação deixam marcas significativas na trajetória dos educadores, influenciando-os no desenvolvimento das atividades como professores. Pensar sobre a relação entre teoria e prática no contexto da formação inicial de professores é algo complexo. Sabe-se que a formação docente requer a construção de saberes diversos, essenciais para a formação profissional.

Apesar de que, por um longo tempo acreditar que o conhecimento acadêmico era suficiente para a excelência do trabalho dos professores, atualmente, estudos sobre construção de saberes advindos de autores como Maurice Tardif, Antônio Nóvoa, Selma Pimenta entre outros, consideram que as propostas curriculares de formação enraizadas no conhecimento teórico  estão se tornando obsoletas e criticadas. Trata-se de um movimento que reconhece a importância dos saberes acadêmicos para a formação do profissional, mas considera-se também o saber da experiência como aporte para a profissionalização docente.

Como ressalta Selma Pimenta, a prática pedagógica, que é o fazer diário do docente, precisa não apenas dos conhecimentos formais adquiridos principalmente nos cursos de formação, mas também das vivências práticas que permitem ao docente observar o contexto onde vai atuar, favorecendo uma formação mais sólida. Defende-se que os saberes acadêmicos, os saberes pedagógicos e as experiências se complementam e alicerçam a formação do professor. Por isso, O Estágio Curricular constitui um momento de aquisição e aprimoramento de conhecimentos e de habilidades essenciais ao exercício profissional, que tem como função integrar teoria e prática. É uma experiência com dimensões formadora e sócio-política, que proporciona ao futuro docente, participação em situações reais de vida e de trabalho. Essa relação visa consolidar a profissionalização, e explorar as competências básicas indispensáveis para uma formação profissional ética e co-responsável pelo desenvolvimento humano e melhoria da qualidade de vida.

O Estágio é entendido como eixo articulador da produção do conhecimento em todo o processo de desenvolvimento do currículo de um curso. Baseia-se no princípio metodológico de que o desenvolvimento de competências profissionais implica “pôr em uso” conhecimentos adquiridos, quer na vida acadêmica, quer na vida profissional e pessoal. Como instrumento de integração, o Estágio Curricular constitui-se numa atividade centrada no homem como ser ativo e capaz de fazer articulações entre a teoria e a prática, entre o saber e o fazer. É também uma atividade de relacionamento humano comprometida com os aspectos afetivos, sociais, econômicos e, sobretudo, político cultural, porque requer consciência crítica da realidade e suas articulações. Por isso, que o estágio possibilita ao aluno entrar em contato com problemas reais da sua comunidade, momento em que, analisará as possibilidades de atuação em sua área de trabalho. Permite assim, fazer uma leitura mais ampla e crítica de diferentes demandas sociais, com base em dados resultantes da experiência direta. Deve ser um espaço de desenvolvimento de habilidades técnicas, como também, de formação de homens e mulheres pensantes e conscientes de seu papel social.

O estágio deve ainda, possibilitar o desenvolvimento de habilidades interpessoais imprescindíveis à sua formação, já que no mundo atual são priorizadas as ações conjuntas e a integração de conhecimentos. Objetivos do Estágio Supervisionado é Integrar o processo de ensino, pesquisa e aprendizagem no sentido de: 1 Aprimorar hábitos e atitudes profissionais; 2 Proporcionar aos alunos a oportunidade de aplicar habilidades desenvolvidas durante o curso; Inserir o aluno no contexto do mercado de trabalho para conhecimento da realidade; 3 Possibilitar o confronto entre o conhecimento teórico e a prática adotada; 4 Proporcionar ao aluno a oportunidade de solucionar problemas técnicos reais, sob a orientação de um supervisor;5 Proporcionar segurança ao aluno no início de suas atividades profissionais, dando-lhe oportunidade de executar tarefas relacionadas às suas áreas de interesse e de domínio adquirido; 6 Estimular o desenvolvimento do espírito científico, através do aperfeiçoamento profissional; 7 Agregar valores junto ao processo de avaliação institucional, a partir do resultado do desempenho do aluno no processo.