RESUMO:

Este artigo tem como objetivo analisar a relação pai e filha no romance O berro do cordeiro em Nova York, de Tereza Albues, enfatizando os fatos que marcaram as lembranças do relacionamento entre a protagonista da obra e seu pai Venâncio. Apesar da evolução dos papéis sociais de homens e mulheres, o vínculo entre pai e filha - quer seja um vínculo forte e reforçador, ou algo quebrado ou inexistente - ainda exerce influência enorme sobre as mulheres. Por mais que seus pais as possam ter decepcionado ou magoado, quase todas as mulheres sentem alguma lealdade e/ou gratidão a eles e expressam o desejo de continuarem ligadas ao homem que foi um dos primeiros amores de sua vida. O pai tem importância enorme para sua filha, não apenas na infância, mas até a hora da morte. Pouquíssimas mulheres têm consciência do impacto que o pai exerce sobre sua vida.

INTRODUÇÃO

Simples como é, ou deve ser, o relacionamento familiar entre pais e filhos é sempre motivo de discussões e análises em matérias como: filosofia, literatura, religião, entre outros, devido às dificuldades produzidas pelo mesmo. Tais dificuldades são detectadas no romance “O berro do cordeiro em Nova York”, de Tereza Albues, usado para elaboração deste artigo, onde a protagonista, em meio aos incontidos dissabores de uma vida sofrida, revivendo as memórias de sua convivência em família, passa sua infância, adolescência, juventude e, até na sua maioridade, buscando meios de tornar essa vida em família mais prazerosa. A narrativa é contada por uma narradora, que utilizando-se do tempo da memória vai contando suas lembranças do passado, juntamente com os acontecimentos do presente. A narrativa apresenta dois espaços: o espaço das lembranças do passado, principalmente no sítio do Cordeiro que localiza-se em Livramento, uma cidade pequena no oeste de Mato Grosso e, o espaço da enunciação, em Nova York, cidade dos Estados Unidos da América.

Os lugares onde o pai arrumava emprego sempre eram postos de trabalhos pesados, sem direito a descanso, o salário mal dava para o sustento da família. Viviam, quase sempre, humilhados pelos patrões. Também nos é apresentado o sofrimento da família na Nhecolândia, no Pantanal, onde a mesma tornou-se escrava e, de onde saíram fugidos. Dessa forma, a narradora descreve para o leitor sua vida repleta de padecimentos, seja no presente, o sofrimento de reviver todas essas lembranças, no momento de colocá-las no papel, ou no passado, uma vida de sofrimento, humilhações, angústias, tanto dela, quanto de sua família, que é composta por: pai (Venâncio), mãe (Augusta), e os quatro irmãos (Gabriel, Inácio, Dario e Flora). O mais importante dessa análise é o pai e a influência que ele exerceu sobre a personalidade da protagonista da obra. À mãe, cabe a responsabilidade de introduzir o terceiro elemento que promoverá a separação entre ela e a criança. No caso das filhas, o papel do pai se torna ainda mais importante. No livro analisado: “O berro do cordeiro em Nova York”, de Tereza Albues, ao longo da narrativa, esse fenômeno acontece, deixando bem claro as deficiências e os problemas, as culpas e os sentimentos mais profundos, que se manifestam a partir do convívio entre a mesma e o pai. “¹Ele (o pai) torna essa convivência frustrante, ao estabelecer limites, para que a criança não fique cativa dessa relação primitiva (que se continuar se tornará mortífera) presa à onipotência do desejo materno. Isto é o que chamamos em Psicanálise de função paterna. Ela constitui o eixo fundamental na estruturação psíquica do sujeito”.

Em outras palavras, pode-se dizer que a protagonista do livro precisa da presença do pai para que ela entenda o verdadeiro papel da mãe e conheça o outro lado das interações amorosas e aprenda a se relacionar com o sexo oposto. É fundamental que a mãe permita essa interação e mostre à menina que o pai pertence à mãe e não a ela. Segundo Freud, esse processo é necessário na coibição do incesto e no correto direcionamento do desejo sexual futuro da menina, pois o pai é a maior influência nas escolhas futuras de suas filhas no que tange ao relacionamento amoroso. ²Para isso é importante que o casal tenha um bom relacionamento. Que se tratem de maneira amorosa e cortês e que a mãe respeite a força masculina do pai, e o pai a trate carinhosamente. Uma relação equilibrada entre o casal conduzirá de forma natural todo esse processo inconsciente que a menina atravessa na formação de sua identidade como mulher e seu direcionamento afetivo. Para fazer bom uso dessa oportunidade, utilizei a experiência de uma leitura critica e observadora do livro citado acima, em todos os pormenores, anotando passagens importantes que intensifiquem a proposta desse artigo.

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