RELAÇÃO ENTRE PALAVRAS E A PRODUÇÃO DE SENTIDOS

 

Atilio Borges Neto

RESUMO:

Este artigo tem por objetivo estudar as relações que as palavras revelam entre si mesmas com relação ao processo linguístico. De fato, a linguagem e a língua é algo muito importante para o ser humano, mas o que é que seria da língua se ela não fosse expressada pelas palavras? São as palavras que carregam toda a responsabilidade de uma língua como a nossa. Desse modo, estudar as relações entre as palavras é o mesmo que estudar a língua, é o mesmo que estudar os sentidos que dão ações ao homem. Portanto, estudaremos alguns conceitos que nos permite observar algumas relações entre palavras. Nessa acepção, vale dizer que os conceitos a serem estudados são: A Antonímia, a Sinonímia e a Polissemia.      

PALAVRAS-CHAVE: Língua. Palavras. Conceitos. Antonímia. Sinonimia. Polissemia. 

 

ABSTRACT:

This paper aims to study the relationships between the words shows themselves with respect to the linguistic process. In fact, the language and the idiom is very important for humans, but what would be the language if it was not expressed by the words? Are the words that carry all the responsibility of a language like ours. By this way, studying the relations between the words is the same as studying the language is the same as studying the senses that give actions to man. Therefore, we will study some concepts that allow us to observe some relationships between words. In this sense, it is sure saying that the concepts to be studied are: The antonymy, the Synonymy and Polysemy.

KEYWORDS: Language. Words. Concepts. Antonymy. Synonymy. Polysemy.

 

            A partir do momento que o homem saiu do seu estado de natureza, ele  foi impulsionado a se comunicar, pois cada vez mais acabava percebendo os sentidos das coisas que o cercava e a cada momento de sua vida existiam descobertas feitas por ele, assim o homem usou de sua imaginação para progredir em diversos aspectos. E o seu maior progresso foi a aquisição da linguagem.

            Com tal aquisição, o homem já podia expressar grande parte das coisas que percebia no mundo e, além disso, podia também manifestar as suas sensações e desejos que antes só estavam na sua cabeça. Logo , os homens obtiveram evolução em termos de linguagem, fazendo surgir as palavras que se uniram se relacionaram e se transformaram em uma língua. Foi, então, por meio das palavras que o homem se expressou com maior clareza, pois a língua é fruto do meio social, é ela que permite a troca de ideias e informações entre pessoas de uma mesma comunidade, é ela que permite a existência de inúmeros valores e sentidos passados de geração para geração em uma sociedade.

            São as palavras que carregam toda a responsabilidade de uma língua como a nossa. Desse modo, estudar as relações entre as palavras é o mesmo que estudar a língua, é o mesmo que estudar os sentidos que dão ações ao homem. Alguns dos conceitos que nos permite observar as relações entre as palavras são: A Antonímia, a Sinonímia e a Polissemia.

            A expectativa é de que tais conceitos sejam expostos com clareza segundo o ponto de vista da linguística, com isso teremos cada vez mais ampliação intelectual para que seja possível a compreensão dos sentidos provocados pelas palavras dentro de contextos comunicativos tanto dos textos escritos como dos orais.

Sobre a sinonímia, para Fiorin (2007), há relação sinonímica entre dois termos quando eles apresentam a possiblidade de se substituirem um ao outro dentro de um dado contexto. Disso pode-se entender que o lexema Novo é sinônimo de jovem, porque dentro de um contexto o termo Homem novo pode ser substituído pelo lexema Jovem. Porém, não há sinônimos perfeitos porque eles não fazem prevalecer a mesma espécie de relação em todos os tipos de contextos.

Disso podemos ver que no termo livro novo não é possível substituir a palavra “novo” somente pela palavra “jovem”, mas mesmo que alguns termos possam se substituir dentro de mais de um contexto , eles não são sinônimos perfeitos porque há diversas condições de emprego discursivo para tais termos, de modo que um pode apresentar maior intensidade do que o outro como, por exemplo; adorar/amar, um acarreta aprovação ou pode acarretar censura enquanto o outro  é neutro; em beato/religioso, um é da linguagem considerada vulgar e o outro não; em trepar/fazer amor, um pertence a uma variedade antiga da língua enquanto o outro não.

            Com isso, um enunciador pode fazer com que em um discurso algumas palavras e expressões se  tornem sinônimas, sendo que em outro contexto tais palavras e expressões  não são sinônimas. Nesse aspecto e em contexto político e econômico, de acordo com o autor, o discurso cria sinônimos para tomar o lugar de expressões e palavras que têm uma carga negativa. Então, falam-se "compressão das despesas de custeio" no lugar de falarem "arrocho salarial do funcionalismo"; falam-se "excitação altista dos preços" em vez de falarem "inflação"; também " desaquecimento da economia" no lugar de "recessão".      

            De outro ponto de vista, o discurso pode também desfazer as sinonímias, dando aplicações específicas para cada palavra. Por exemplo; as palavras belo e bonito podem ser usadas em um mesmo contexto, mas com diferenças principalmente em se tratando de conceitos estéticos:

 

                                               (...) O Belo decorre do equilíbrio resultante da perfeita combinação de todos os elementos esteticamente relevantes...

                                               (...) O Bonito é a forma diminuída do Belo; é o apoucamento do Belo. Não alcança a harmonia e a realização cabal deste...  (Xavier apud Fiorin, 2007).

 

            Nos trechos acima, a diferença entre a palavras Belo e Bonito são feitas no discurso, isso quer dizer que tal diferença pode ser desfeita também pelo discurso.

            Na antonímia, de acordo com Fiorin (2007), ocorre o inverso da sinonímia, assim os significados contrários são produzidos por meio lexical, ou seja, pelas palavras opostas às outras como em bonito versus feio, alto versus baixo, pequeno versus grande, esses são alguns dos exemplos de palavras antonímias. E do mesmo modo que não há semelhança absoluta entre sinônimos, também não existe absoluta oposição entre antônimos. Há oposição entre as palavras que tenham em comum ao menos um sentido, isso podemos notar em fresco e jovem como antônimo de velho, essa ocorrência é possível porque fresco significa algo que acabou de ser preparado, ou seja, significa novo, logo, o seu antônimo é a palavra velho. Então, segundo o autor, é possível haver construções do tipo pão fresco e pão velho.

            Há também as relações antonímicas chamadas de polares, essas ocorrem em construções como; dar vs receber, morto vs vivo, nas oposições polares há possibilidade de se estabelecer gradações entre os antônimos: rico vs pobre, nessa oposição pode-se ter gradação como mais ou menos rico vs mais ou menos pobre.

            Contudo, o emprego desses antônimos passivos de gradação depende de um ponto de vista  discursivo, já com relação ao tamanho das coisas, é partindo da percepção de um enunciador que as palavras antônimas que permitem gradação como pequeno vs grande vão ganhar o valor de ter ou não ter magnitude. Assim, aquilo que é grande perante um ponto de vista pode ser algo pequeno por outro ponto de vista, cabendo esse julgamento ao enunciador.

            Portanto,  o discurso estabelece antônimos e também pode desfazê-los, ao gerar novos significados às palavras. Isso pode ser visto, por exemplo, na frase "Uma voz quente" (quente, nessa frase, significa sensual, vibrante...) na frase "deixa Maria gelada" (gelada, nessa frase, significa paralisada), dentro dessas frases as palavras quente e gelada possuem sentidos que não as tornam antônimas.            

            Passemos agora à polissemia. Para Fiorin (2007), quando se é utilizado o termo polissemia, o critério de determinação muda do significante para o significado, pois uma palavra pode assumir muitos sentidos mesmo estando escrita e sendo pronunciada de forma semelhante. Assim, as palavras polissêmicas são aquelas que possuem mais de um significado para um mesmo significante. As palavras polissêmicas se opõem às palavras monossêmicas, que possuem somente um significado.

            Com base nessa noção de polissemia, podemos ver que a palavra “vela” tem vários significados correspondendo a ela, ou seja, vela significa "objeto para iluminação formado de um pavio constituído de fios entrelaçados, recoberto de cera ou estearina". “Vela” também significa "peça que causa a ignição dos motores"; ou também "pano que, com o vento, impele as embarcações"...

            Tanto a polissêmia quanto a monossêmia possuem relação ao uso discursivo em que se coloca a mesma palavra. Nesse sentido, Fiorin (2007) diz que geralmente são os vocabulários técnicos que por meio de determinações produzidas em seu discurso operam as mudanças de sentido que transformam palavras polissêmicas em palavras monossêmicas. Assim, tem-se que no discurso jurídico, “roubo” se opõe a “furto” porque para o jurídico o “roubo” é cometido com a intimidação por parte do assaltante, já o “furto” é onde o assaltado não sofre intimidação, ele é logrado sem saber. Porém, no vocabulário coloquial tanto “roubo” como “furto” são palavras usadas apenas com o sentido de tomar para si aquilo que pertence ao outro.

            Disso, o que temos é que o Direito, por necessidade de determinar duas espécies diferentes de crime para impor diferentes penalidades, criou em seu discurso uma redução de sentido das duas palavras para fazer a distinção necessária. Desse modo, “roubo” e “furto” são transformadas em plavras monossêmicas.

            Um exemplo de explorar a questão da polissemia está, segundo o autor, na frase conhecida de Pascal; "O coração tem razões que a própria razão desconhece" (razões no início da frase significa motivos e no final dela a razão significa faculdade de julgar, de raciocinar). Ainda sobre a polissêmia, o autor explica que a linguagem humana é polissêmica, porque os signos ganham valor nas relações com outros signos, eles se alteram dependendo de cada contexto.

                                               (...) A babá tomou a mão da criança (segurou)

                                               (...) Os EUA tomaram Granda (ocuparam)

                                               (...) Agora ele só toma água (bebe)

                                               (FIORIN, 2007.p.132)

 

Considerações

            Foi possível por meio desse breve estudo compreender que as relações estabelecidas entre as palavras definem sentidos dependendo do contexto em que tais palavras se encontram. Assim, palavras sinônimas podem perder a relação sinonímica em razão de um contexto que vai indicar quais significados elas podem assumir, o mesmo acontece com palavras e expressões antonímicas.

            Consideramos então que contextos e discursos são importantes elementos para a formação de enunciados que buscam mostrar sentidos cada vez mais objetivos e com clareza. Nesse sentido, a ocorrência da polissemia pode ser controlada, pois como notamos existe possibilidade de uma palavra polissêmica se transformar em monossêmica em um dado discurso.

            A questão da polissemia pode ser desastrosa em textos e documentos oficiais, prejudicando a clareza de uma informação, mas por outro lado é pela existência da polissemia que no dia à dia fazemos jogos de sentidos em nossas conversas, nós a usamos para dar as “famosas indiretas” nas pessoas, para fazermos ironias e também para se descontrair tirando proveito de uma situação. Nessa perspectiva, quem é que nunca disse algo que transmitiu maliciosidade a alguém? Sempre brincamos com as palavras polissemicas deixando as pessoas a ponto de entenderem sentidos diversos das nossas conversas. Então, se por um lado a polissemia pode ser desastrosa, por outro lado ela é positiva e necessária.

            Além de outras características da língua, notamos que a sinonímia, a antonímia e a polissemia são elementos importantes para produzir sentidos em uma ação comunicativa podendo dar maior intensidade em argumentos que tem a finalidade de convencer e persuadir um dado interlocutor.

             

REFERÊNCIA

 

Fiorin, José Luiz. Introdução à Linguística I: Princípios de análise. São Paulo: Contexto, 2007.