A cortesia surge ao serviço da cooperação conversacional, do Princípio de Cooperação, de Grice, que se resume em: “Faça sua contribuição conversacional tal como é requerida, no momento em que ocorre, pelo propósito ou direcção do intercâmbio em que você está empenhado” (1975:45).

Porém, nem sempre se deve interpretar a inobservância das máximas conversacionais de Gricepelos falantes como uma atitude de incoerência discursiva, uma vez que pode existir uma intenção comunicativa por trás da tal atitude aparentemente incoerente dos interlocutores. O locutor pode desviar-se das máximas conversacionais, mas a intenção enunciativa é imediatamente detectada pelo alocutário. Este processa racionalmente a informação linguística que ouviu, chegando àquilo que foi implícito pelo locutor.

Por isso, é possível pensar que, “quando estamos a ser corteses, tendemos a não ser tão verdadeiros como Grice gostaria, nem tão breves, nem tão claros e directos – a cortesia tem que ser paga com insinceridade, imprecisão e verbosidade” Lauerbach, (1989).

Por exemplo, numa empresa, o director pergunta a um funcionário: o que acha do seu colega X? E o funcionário responder: bom, eu acho que ele é um bom funcionário, trabalha muito, tem um bom comportamento, tem espirito de iniciativa. O funcionário estaria a violar uma das máximas, neste caso, a máxima de quantidade, pois falou somente dos aspectos positivos deixando os aspectos negativos do colega, trazendo assim, informações a menos do que lhe foi exigido, não sendo tão verdadeiro como Grice gostaria. O funcionário falou somente dos aspectos positivos do colega para preservar a face positiva do colega diante do director.

Por vezes, os falantes tendem a não transmitir a quantidade de informação requerida pelo nosso interlocutor, como no exemplo anterior, ou porque não a possuem, ou porque não desejam partilhá-la com o Outro. O desrespeito de algumas das máximas conversacionais pode ter em vista o alcance de um objectivo comunicativo específico. Como tal, há possibilidade de um falante dar uma informação insuficiente em relação à solicitada, desrespeitando, dessa forma, a Máxima de Quantidade, pressupondo que se transmitisse toda a informação que possui iria ameaçar a face do seu interlocutor. Estes exemplos das situações de violação das máximas e submáximas conversacionais produzem, portanto, cortesia, pois parecem não atentar contra o Princípio de Cooperação ou contra a própria comunicação. Como refere Sousa:

“Ao ser cortês, por exemplo, um indivíduo contribui para a preservação da face do seu interlocutor, bem como da sua própria face e assegura assim a manutenção do equilíbrio social. Além disso, evita situações de conflito que possam pôr em causa aco-operatividade da interacção comunicativa” (Sousa, 2010:14-15).

Na verdade, a cortesia pode não pôr em causa as máximas conversacionais, nemameaçaro sucesso da comunicação. Pelo contrário, a cortesia tem um papel regulador, pois contribui para manter o equilíbrio social e as boas relações, subjacentes a uma interacção verbal, para se manter o espírito cooperativo entre os interlocutores.

De acordo com Leech (1983:80), a grande função do Princípio de Cortesia é garantir que a cooperação persista mesmo quando os objectivos pessoais do falante e do ouvinte possam ser entendidos como conflituosos. Para o autor, existem crenças corteses e descorteses que são favoráveis ou desfavoráveis ao ouvinte e que o falante deve tomar em consideração na sua intervenção comunicativa. Consequentemente, irá adaptar quer a forma, quer o conteúdo da sua contribuição conversacional, de modo a não colocar a face do seu interlocutor em risco e proteger assim, em última análise, o ambiente de cooperação conversacional. O Princípio de Cortesia é, deste modo, um complemento necessário para salvar o Princípio de Cooperação de sérios problemas que possam pôr em causa a eficiência da comunicação e a relação interlocutora instituída. [...]