Reformadores do Hinduísmo
Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 09/10/2025 | FilosofiaA religião é uma das forças motrizes da humanidade. Junto à ideologia, caracterizada pela determinação da titularidade dos meios de produção e-ou consequente administração da entidade, privada ou pública, captadora da unidade facilitadora de troca, torna-se o maior dos propulsores do movimento humano. E assim era com a Civilização Védica.
Surgida há dezenas de séculos (a data exata é alvo de diversas controvérsias) no subcontinente indiano, suas escrituras sagradas eram, e ainda são, os vedas. Estes, somados às literaturas próprias, como o poema épico Mahabharata (que possui cerca de 250 mil versos, estando, nele, inserido o Bhagavad Gita) e o Ramáiana, tornaram a Civilização Védica ainda mais misteriosa para seus próprios integrantes, vez que a interpretação da palavra sagrada, pelos sacerdotes, depende de qual parte do cânon fora internalizada por aqueles intérpretes: afinal, tão vasta obra intelectual, narrada, em grande parte, como expressão de diálogos sagrados ou contos de batalhas entre principados, soma centenas de deuses e demais entidades metafísicas ao respectivo panteão, num padrão que mescla a própria Civilização Védica e os Dezesseis Grandes Reinos da Índia, passando pelo sistema de castas e alcançando, até mesmo, a Civilização Máuria, numa complexa teia social cuja primeira influência externa somente se deu, provavelmente, com o imperador aquemênida Dario I, bem antes de Cristo.
Tendo em vista tão complexa filosofia, geradora de ramos num todo genericamente nomeado, pelos ocidentais, de “hinduísmo”, no século VIII se dedicou à compilação dos seus ensinamentos, culminante em uma então interpretação única, o grande reformador hindu Shankara (cujo nome, na sua mais edificante morfologia, significa “impressão mental”, não devendo o leitor confundi-lo com Thomas Sankara, líder de Burkina Fasso ascendido ao poder em 1983, e, posteriormente, morto a mando da França em 1987).
Já no século XIX, surgiu na Índia outro reformador, Saraswati, que, independentemente da obra de Sankhara, promoveu um fortalecimento dos vedas, individualmente considerados se confrontados à genérica literatura hindu, em simultâneo com a rejeição à idolatria e ao sistema de castas, tendo sido bastante entusiástico a uma maior participação das mulheres na vida social Por fim, culmina-se, no século XX, com o aparecimento de Mohandas Gandhi, líder da resistência pacífica da Índia contra a administração colonial britânica, e assassinado por um nacionalista no final da década de 1940.
A história economia, A história é política. A história é religião. A história é filosofia, e, infelizmente, também violência. Por isso, convido-vos, todos, a ela enxergar com um misto de interesse, compreensão e resignada fascinação.