Que a Idade média foi um período de supremacia católica, isso todos já sabemos. Também não é segredo que o movimento renascentista colocou muitos pontos de interrogação sobre as certezas da fé. Mas o que nem todos sabem é que nesse mesmo período medieval e renascentista estavam sendo colocadas as questões que produziriam outra ruptura no cristianismo.

Foi outra ruptura porque a primeira havia sido em 1054, quando Oriente e Ocidente cristãos se separaram.

Os cristãos do oriente estabeleceram sua sede na cidade de Constantinopla. Nascia a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa. Do outro lado, na Europa, sediada em Roma, mantinha-se a Igreja Católica Apostólica Romana.

Mas agora, no século XVI, mais especificamente em 1517, um monge se insurge contra as orientações do Papa e pregou uma lista com 95 problemas a serem resolvidos pela Igreja, sob pena de estar deturpando o cristianismo. Esse monge era o beneditino Martinho Lutero (1483-1546).

Com esse fato ganhou força o movimento da reforma. Entretanto, deve-se notar, que “este movimento surgiu com o caráter inicial de buscar a reforma da Igreja, diante de uma série de erros e abusos que aconteciam, sobretudo, no episcopado e no alto clero”. Isso é o que afirma padre Inácio Medeiros, num artigo sobre a história da Igreja, disponível em: https://www.a12.com/redacaoa12/historia-da-igreja/os-precursores-da-reforma-john-wyclif-e-jan-huss.

Sabemos que Lutero não foi o primeiro a mostrar os equívocos da Igreja. Os questionamentos às posturas dos seus chefes vinham de longe.

Há alguns séculos vinham crescendo, por parte dos monarcas que não concordavam com as taxas cobradas pela Igreja nem com o poder político dos papas. Muitos eram os que condenavam a corrupção e o despreparo do clero.

Podemos, também, lembrar de dois personagens, antes de Lutero, que marcaram essa trajetória de insatisfação: John Wycliff (1328-1384) e Jan Huss (1369-1415). Ambos teólogos que, ainda no século XIV, condenavam o luxo e ganância de bispos e do papa. Afirmavam, cada um em sua época e região, que a Igreja deveria ter menos riqueza e mais caridade. Ambos foram perseguidos, excomungados e serviram de inspiração para as obras de Lutero.

No artigo mencionado anteriormente, o Pe Inácio ainda nos informa que “o posicionamento desses três reformadores serviu para embalar alguns conflitos sociais que cresciam no meio dos camponeses entre o século XIV e XVI. As questões religiosas no período passaram a tomar uma conformação de crítica prática, por parte do campesinato, ao poderio econômico, político e militar detido pela aristocracia”.

Ou seja, a Reforma, que tinha uma conotação Religiosa, se alongou pelos lados da economia, da politica e acabou repercutindo as posturas sociais. A situação de pobreza da população fez com que os reformadores se popularizassem ainda mais, pois defendiam causas populares.

Mais dois nomes merecem destaque, neste processo de renovação e arejamento das ideias religiosas. São eles João Calvino (1509-1564) e Henrique VIII.

Enquanto os três primeiros apontavam, como principais problemas da Igreja, seu poder fundamentado na riqueza e a partir disso atacaram outros problemas e posturas doutrinais, Calvino se contrapõe a princípios essenciais do catolicismo, como a questão da predestinação.

Calvino influenciou fortemente o protestantismo francês. A partir de suas ideias nasceu o calvinismo que se espalhou em várias nações na Europa, na Africa e na América.

Por seu lado, o problema de Henrique VIII, rei da Inglaterra, em princípio, não foi religioso. O rei pretendia anular seu casamento para casar-se com outra mulher, mas a Igreja se contrapôs, em nome do princípio da “indissolubilidade” do casamento (o casamento, para a Igreja, é “até que a morte os separe”). Como o papa não aceitou seu propósito, o rei rompeu com a Igreja, confiscou-lhe as terras e criou a Igreja Anglicana, da qual o rei é o chefe supremo.

Evidentemente existiram outros reformadores, cada um com seu grau de contribuição para que se efetivasse uma verdadeira reformulação das e nas posturas da Igreja.

Por outro lado é de se imaginar que, sendo questionada por diversos monges, padres e pensadores, a Igreja reagiria.

E reagiu com o movimento denominado de Contrarreforma.

Inicialmente a reação da Igreja era apenas na forma de perseguição dos opositores. E isso era feito pelo antigo “Tribunal do Santo Oficio”. Atualmente essa instituição da Igreja denomina-se “Congregação para Doutrina da Fé” e trata de ordenar os ensinamentos da Igreja.

Esse Tribunal organizava os interrogatórios e julgamentos daqueles que a Igreja considerava hereges. Esse Julgamento era denominado de “Inquisição”, pois era montado um “inquérito” interrogando os acusados. Quando condenados eram expulsos da Igreja (excomungados) e, em outros casos executados na fogueira.

Ainda na Contrarreforma a Igreja fez algumas inovações. Entre as inovações efetivadas pela Igreja no movimento da Contrarreforma pode-se mencionar: a condenação dos atos e doutrinas de Lutero e Calvino; o reconhecimento de alguns abusos cometidos em nome das indulgências. Uma outra providência que perdura até nossos dias foi a organização dos seminários, para formação dos novos padres.

Reforma e Contrarreforma, na realidade, foram o mecanismo pelo qual as ideias religiosas foram incorporadas num movimento maior de renovação. O mundo, naquele contexto, vivia uma grande transformação em todas as frentes.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura – RO