Fabiane de Paris Dutra

Professora de Arte, email: [email protected]

RESUMO

A arte em aspectos fundamentais nos traz a forma e a criação, enquanto forma seria a parte relacionada ao mundo físico, papável, concreto, tudo que somos capazes de perceber com nossa visão e tato; a criação estaria ligada ao jeito do ser humano ser capaz de gerar, sentir e apreciar. Nossas percepções do mundo são transformadas em imagens e nossas sensações constroem nossos sentimentos, com tudo isso, conseguimos fazer relações e compreendemos o mundo. Pensamos, sentimos, adquirimos consciência do nosso entorno. O mundo que é visto e vivido interfere diretamente a imaginação do sujeito. Fazemos relações e interpretações, a partir das sensações, principalmente da visão. O sujeito se apropria das significações dos pensamentos, ações e sentimentos nas atividades em que se insere, e assim é no convívio com as linguagens artísticas e pessoais, que se apropria e faz relações e ressignificações, para a melhor apropriação de conhecimento artístico adquirindo e constituindo o ser humano ativo reflexivo e pensante.

Palavras-chave: Arte. Sentir. Mundo. Interpretações.

 

INTRODUÇÃO

A arte tem relação na capacidade de perceber e sentir tudo que nos rodeia. Faz ser um processo de elaboração mental e de experiências estéticas que traz a possibilidade de mostrar ao mundo tudo que nos faz sentido.

Educação estética, nos envolve na alfabetização da linguagem não verbal, assim nos faz entender aspectos que envolvem a comunicação com a obra de arte, tendo em vista, o sentido, sentimento, pensamento e a emoção.

A educação estética está interligada as percepções do mundo, que transformadas em imagens entram em comunicação das sensações contribuindo para os sentimentos, juntando todos esses dados, se consegue compreender o mundo.

Pensando, sentindo, agindo e interligando informações, imagens, informações, construímos consciência de mundo. A arte é capaz de nos fazer as ligações entre imagens e conceitos, entre sensações e pensamentos.

 

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

 

ARTE E SENTIDO

 

 

A arte está relacionada à capacidade de perceber e sentir tudo aquilo que nos rodeia. É um processo no qual elaboramos mentalmente as experiências, e temos a possibilidade de exteriorizar como o mundo se reflete em nós.

A arte apresenta como aspectos fundamentais a forma e a criação, enquanto forma seria a parte relacionada ao mundo físico, isso é, a tudo que somos capazes de perceber com nossa visão e tato; a criação estaria ligada ao princípio único do ser humano que é a capacidade de gerar e apreciar.

Nossas percepções do mundo são transformadas em imagens e nossas sensações constroem nossos sentimentos, com esses dados compreendemos o mundo. Pensamos, sentimos, adquirimos consciência. A arte é capaz de proporcionar essa correspondência entre imagem e conceito, entre sensação e pensamento.

A capacidade de pensamento o abstrato está relacionada à elaboração de formas visuais. Para se criar uma árvore, por exemplo, a pessoa já pensa na sua função, será em que formato, dimensão, proporção, se identifica com o que já se viu, imaginou, ou a mistura de ideias juntas. Pode se fazer relação ou não a uma forma que já existe na natureza.

Pois para Vygotsky as operações de signos são a internalização das formas vividas e sem significados se interligam em nossa construção do saber, fazer ligações e entendimentos de mundo que nos cerca. “A internalização de formas culturais de comportamento envolve a reconstrução da atividade psicológica tendo como base as operações com signos.”

A produção de significados desta mediação dos signos, a fim de entendê-los e acontecer o processar de vivências, com a ideia de Vygotsky, faz com que processos mentais superiores sejam processos mediados por sistemas simbólicos, sendo a linguagem o sistema básico de todos os grupos de seres humanos. A linguagem fornece os conceitos e as formas de organização do real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento.

Considera diversos aspectos para assim desenvolver o raciocínio e a habilidade criativa. Qualquer campo, a que o indivíduo se dedique, será necessário que possua criatividade, e toda destreza, é arte.

 

 

IMAGINÁRIO

 

 

A imaginação própria mente dita está muito ligada as experiências vividas, relacionadas a visão em colaboração à interpretações de imagens e palavras, ou podendo ter a materialidade na simplificação das formas, em busca do pleno entendimento ou abstração do real. Na leitura de Bachelard (1966, p. 54-55):

 

“Todo pensamento formal é uma simplificação psicológica inacabada, uma espécie de pensamento-limite jamais atingido. Com efeito, ele é sempre pensado sobre uma matéria, em exemplos tácitos, sobre imagens mascaradas. Em seguida, o que se procura é convencer-se de que a matéria do exemplo não intervém. Dá-se, porém, apenas uma prova disso: que os exemplos são intercambiáveis. Essa mobilidade dos exemplos e essa sutilização da matéria não bastam para fundamentar psicologicamente o formalismo, pois em nenhum momento se apreende um pensamento no vazio. Seja o que for que se diga, o algebrista pensa mais do que escreve.”

 

O mundo visto e vivido interfere diretamente a imaginação do sujeito. Tudo é remetido e interpretado, a partir do espetáculo da visão, transferindo e transformando em funções comandadas pelo ser ativo, função essa que remonta a psique da imaginação e da vontade. Vontade de resignificar, remontar, reestruturar imagens, para a transformação em consciência, aprendizado, trabalho enfim imaginário.

A provocação da ação imaginativa requer olhos atentos, ao convite do captado mundo real ou interpretado. Indivíduo imaginativo requer o além da aparência captada pela visão, passa por processos do pensar e desvendar seus próprios devaneios ou sonhos livres. Concordando com Bachelard (1963, p. 22)

 

“A imagem percebida e a imagem criada são duas instâncias psíquicas muito diversas e seria necessária uma palavra especial para designar a imagem imaginada. Tudo que é dito nos manuais sobre a imaginação reprodutora deve ser creditado à percepção e à memória. A imaginação criadora tem funções completamente diversas da imaginação reprodutora. A ela pertence essa função do irreal que é psiquicamente tão útil quanto a função do real, evocada com tanta frequência pelos psicólogos para caracterizar a adaptação de um espírito à realidade etiquetada por valores sociais. Essa função do irreal reencontra valores de solidão.”

 

 

EDUCAÇÃO ESTÉTICA

 

 

O objetivo da educação estética é o mesmo da educação, que é ampliar conhecimento cultural, experiências para uma percepção mais rica e completa da realidade, mas a estética é capaz de contribuir como nenhum outro campo de conhecimento para a formação, porque possui aspectos sociais muito importantes, como a percepção de outras culturas, épocas e valores que são importantes para a construção de uma sociedade e muito mais relações do ser humano.

A arte e a estética são estudos que permitem aumentar a capacidade de discernimento e tem um papel como nenhum outro na formação de uma sociedade mais capaz, criativa, livre e consciente.

A estética está muito além de compreender como uma cor combina, completa e modifica outra ou conhecer regras de composição em uma imagem, está relacionada à filosofia e ao estudo de um todo na produção artística.

Educação Estética pode ser definida, também, como a “alfabetização” na linguagem não verbal, linguagem que abrange a arte, os sentidos e sentimentos. Aprendendo e apresentando um novo pensamento educativo, que tem como sustentação à própria arte enquanto atividade aberta, livre e criadora.

Educação estética deve possibilitar a expressão de vivências de acordo com a realidade que nos cerca. Ampliando o espaço para que o indivíduo seja capaz de entender os valores da sociedade e a partir da qual adquira percepções e entendimentos de mundo, para assim construir ideais e dar vazão aos sentidos e sentimentos.

A Estética está ligada na própria realidade e às aspirações do ser humano de poder moldar, representar, realizar, completar, refazer, alterar, afirmar-se no mundo colocando tudo em uma realidade humanizada.

No contexto escolar, o estudo da Arte deve-se buscar a necessidade a expressão criativa, conduzindo o educador a construção de conhecimentos estéticos e a liberdade de expressão, possibilitando a criação e desenvolvimento da imaginação, muito além dos trabalhos prontos. Muito importante é analisar obras de arte consagradas, mostrando o contexto histórico, desde que o estudo da Arte, seja conduzido como um processo em construção dentro das relações humanas e sociais.

A formação e desenvolvimento do sujeito é um processo que resulta das relações que o próprio sujeito estabelece com seu contexto social, e que são diferentes caminhos a se chegar o nível de compreensão de um indivíduo sobre artes, e é lento o resultado de sua interação com o domínio artístico e o desenvolvimento cognitivo e social.

“...É como se cada pessoa fosse gerando um “repertório” individual, um conjunto de valores, conceitos, ideias, sentimentos e emoções que vão tecendo uma rede de significações para si. Nessa rede, mesmo sem se dar conta, estão os fios da filosofia, ética, estética, política e cultura presentes na pessoa e no grupo ao qual pertence.

No contato com qualquer objeto, pessoa, conceito ou obra de arte, mesmo que inconscientemente, as experiências passadas geram relações....”

Nas relações que são necessariamente mediadas pela cultura, pelas características da sociedade da qual participa ativamente e que, através da atividade social, são continuamente transformadas.

Sendo o contato com o mundo da arte essencial para se criar o vínculo, relação entre entender, conhecer e respeitar manifestações e linguagens artísticas, apurando seu repertório, sensório-crítico de arte. O que mais favorece o desenvolvimento estético do indivíduo é a frequência com que se interage com obras de arte, evidenciado no trecho Costa (2004, p.33)

 “Conseguimos identificar como estética a emoção que uma obra nos desperta, esse momento constitui o que Frederico Morais chamou de insight. Embora nossa percepção venha de impressões obtidas no momento em que uma obra nos é apresentada, o deleite que ela proporciona pode vir com o tempo, de um saborear demorado, de uma espécie de degustação. As vezes esse momento chega depois de certas experiências e aprendizados e até de fatos que nos tornam mais sensíveis a certas emoções. Quantas vezes é a memória que vai dar os contornos diferentes a certas músicas, a certas paisagens....”

O sujeito se apropria das significações dos pensamentos, ações e sentimentos nas atividades em que se insere, é no convívio com as linguagens artísticas e pessoais, que se apropria e faz relações. É no contato com o mundo e na relação com outro é que a cultura, se faz sujeito e se constitui enquanto singular, diferenciando-se como gênero, como classe, como etnia, em relação ao contexto do qual participa, definindo a condição inventiva da existência humana.

CONCLUSÃO

O desenvolvimento do conhecimento e a contextualização da produção artística na educação estética permite adentrar no tempo/espaço do mundo do ser humano, no seu modo de interpretar o mundo, na seu pensar poético. A estética é um pensar na intuição e sentimento, que são representadas por meio das linguagens artísticas.

Na abordagem da fundamentação da educação estética, somos preparados para a alfabetização da linguagem não verbal, ou seja, para compreender aspectos funcionais que entrelaçam a interação comunicativa com a obra de arte, visando, sobretudo, mexer com o sentimento e a emoção.

Conclui-se que o contato com o mundo da arte é essencial para se criar o vínculo, e relações para se entender, conhecer e respeitar manifestações e linguagens artísticas, apurando seu repertório, sensório-crítico artístico. O que mais favorece o desenvolvimento estético do indivíduo é a frequência com que se interage com obras de arte.

REFERÊNCIAS

BACHELARD, Gaston, 1884-1962. O direito de Sonhar / Gaston Bachelard; tradução José Américo Motta Pessanha..../et al/. 4 ed. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.

BARBOSA, Ricardo José Correa, 1961 – Schiller & a cultura estética / Ricardo Barbosa. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2004.

COSTA, Cristina. Questões de arte: o belo, a percepção estética e o fazer artístico. Cristina Costa - 2 ed. Reform – São Paulo: Moderna,  2004.

DONDIS, Donis A. A Sintaxe da Linguagem Visual. Tradução: Jefferson Luiz Camargo, São Paulo, 2003, Editora Martins Fontes.

LA TAILLE, Yves de, 1951 – Piaget, Vigotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão/ Yves de La Taille, Marta Kohl de Oliveira, Heloisa Dantas. – São Paulo: Summus, 1992.

READ, Herbert. A Educação pela arte. Tradução: Valter Lellis Siqueira São Paulo, 2001, Editora Martins Fontes.