RESUMO: Este trabalho tem como objeto de estudo discorrer brevemente acerca das transformações ocorridas no mundo do trabalho, em meio á crise econômica-politica e social conjuntural brasileira. Conjuntamente a incidência de uma nova fase de desenvolvimento do proletariado expresso pela emergência do ‘’proletariado digital’, oriunda da instabilidade econômica e cíclica provenientes das “ondas largas do capital” que na contemporaneidade agravam as expressões da questão social. O continente latino-americano sofre com as inquisições advindas da vigência do neoliberalismo desde os idos da década de 80, sem embargo após um hiato governamental, no qual ascenderam ao poder governos de caráter centro-esquerdistas que realizaram as contrarreformas previstas na agenda dessa corrente econômica, contudo na contemporaneidade a afluição de recessões econômicas no continente propiciaram favoravelmente o lócuo  para o estabelecimento de uma reestruturação da perspectiva neoliberal e conservadora no cenário político íbero-americano. Submerge-se proeminentemente o Brasil, como cerne desse panorama social e histórico, o qual detém altos índices de desemprego e é afligido pelas contrarreformas sociais e econômicas impostas pelo o governo de Michel Temer, que suscitam o processo de automação tecnológica e expõem anatomicamente as já palpáveis expressões da questão social  gerando para o serviço social novas atribuições e demandas, exigindo-se deste o desenvolvimento de estratégias de resistência perante esse contexto e a reafirmação da defesa intransigente dos princípios ético-político da categoria.

  1. Introdução

Historicamente o continente latino americano, constitui-se como um relevante celeiro empírico de mão de obra barateada e produtor de bens de produção primários (Katz, 2016) no qual o modo de produção capitalista em sua versão tardia, (Mandel, 1080) engendra  singulares modificações na esfera econômica ,política e cultural. Entretanto com o advento das “ondas longas de desenvolvimento’’ do capital (Mandel, 1982) e, consecutivamente, com a ocorrência de crises cíclicas econômicas, orgânicas e inerentes á essa sociabilidade a região sofre com os efeitos drásticos desencadeados por esse panorama”.

A principal potência da América Ibérica, o Brasil, vivencia um período adverso marcado por uma crise política-econômica e social, fruto das incursões do capitalismo e associado à reestruturação da ideologia neoliberal no país, esta teve como mola propulsora a ascensão à Presidência de Michel Miguel Elias Temer. Após o processo de impeachment da Presidente Dilma Roussef[1], este evidencia claramente em sua política o compromisso com as classes dominantes e realiza através das hodiernas contrarreformas (Behring, 2008), gradualmente o processo de cerceamento dos direitos garantidos por intermédio da constituição federal de 1988 a classe trabalhadora.

Diante desse contexto, houve um acirramento da luta de classes e uma anatômica aparência das expressões da questão social na nação, as quais em sua diversa multiplicidade (Iamamoto, 2005). Destacamos o desemprego e as suas imbricações com a tecnologia, como aponta Josiane Soares Santos: “o desenvolvimento tecnológico se torna dominante do desemprego , portanto, em face de sua utilização no interior das leis de reprodução do capitalismo onde a produção de respostas às necessidades humanas está inteiramente subordinada ao processo de valorização do capital” (SANTOS, 2012, p.27).

Pretendemos como objetivo desse trabalho, discorrer brevemente acerca da intrínseca relação entre o desemprego, a tecnologia, a crise econômica no Brasil e as suas refrações para a emergência de uma nova fase do desenvolvimento do proletariado (MARX, 1848). Partiremos da concepção  preliminar de proletariado digital evocada por Juan Carlos Lavinas (2017) associado a discussão da centralidade do trabalho e as noções elementares de economia,  assim estabeleceremos rapidamente                  uma conexão dessas questões  com as políticas sociais.

Recorremos a uma revisão bibliográfica calcada nos clássicos da teoria social crítica e economia política, evidenciamos assim a relevância dessa discussão para o campo profissional do Serviço Social, uma vez que possuímos como objeto central de nossa intervenção profissional: a questão social. Dessa forma apreendemos que o prisma da transfiguração das expressões da questão social correlacionada á refração da dinâmica econômica nas políticas sociais faz-se de singular importância para estabelecermos e criarmos estratégias profissionais que evoquem- nos a superação dos entraves provocados pela politica neoliberal:

Debater e lutar pela ampliação dos direitos e das políticas sociais é fundamental porque engendra a disputa pelo o fundo público, envolve necessidades básicas de milhões de pessoas com impacto real nas suas condições de vida e trabalho e implica um processo de discussão coletiva, socialização da política e organização dos sujeitos políticos. (BEHRING; BOSCHETTI, 2011,p.190).

 

II. Desenvolvimento

Compreendemos que estamos vivenciando um marco  histórico de cariz transitório, no decurso do estabelecimento processual da globalização (Netto, 2012), que abarca os âmbitos políticos, econômicos e culturais na esfera da sociabilidade capitalista. A qual exemplificamos com o recrudescimento da perspectiva conservadora no campo político-ideológico. Segundo (Katz,2016), ''desde o ano de 1990, na mudança de século, houve uma completa hegemonia do projeto do capital, expresso nas ideias do neoliberalismo, aquilo que significava uma subordinação de nossa economia e nossos povos aos interesses da acumulação. Para o autor anteriormente mencionado associado a esse panorama conjuntural do continente, situa-se a incidência da ocorrência de crises cíclicas e orgânicas provenientes do modo de produção capitalista (Mandel,1980), que refratam de forma diretamente proporcional na estrutura econômica.

O processo democrático brasileiro tem enfrentado alguns percalços para o seu estabelecimento, isto  foi desencadeado nos governos de Fernando Collor de Melo (1990-1992) e Fernando  Henrique Cardoso(1995-2003), governos marcados por privatizações de grandes empresas estatais e recessões econômicas. No entanto com a escalada dos governos de centro-esquerda na América Latina (Katz, 2016), houve no país uma ampliação do acesso as políticas sociais, ao mesmo tempo, que de acordo Behring (2008) ocorreu disputas de projetos societários em resposta para a crise econômica e o restabelecimento da democracia. Este cenário aponta que está se configurando a derrota de uma agenda progressista e a afirmação das chamadas reformas orientadas para o mundo do mercado. Se as classes dominantes estiveram fragmentadas durante algum tempo, a coalizão em torno de Fernando  Henrique Cardoso, após a aventura  ''collorida'', configurou uma recomposição burguesa duradoura no país, apesar das tensões e fissuras internas, que se tornaram públicas  e evidentes no segundo mandato de Cardoso e, que estiveram na base da vitória eleitoral de um projeto democrático-popular  nas eleições gerais de 2002 (Behring, 2008, p.27).

Neste cenário é possível observar que as classes dominantes brasileiras retomaram e renovaram o compromisso com as atribuições expressas pela agenda neoliberal vigente no capital internacional. Nesta ocasião detentora de subsídios políticos e econômicos imprescindíveis para a sua remanescência, a perspectiva neoliberal alça novos horizontes com o governo de Michel Temer, o qual cumpre fidedignamente esses ditames através de política de contrarreformas (Behring, 2008).  Isto é confirmado por Klaus Schwab:

(...) a capacidade de adaptação dos governos irá determinar sua sobrevivência. Eles resistirão se abraçarem um mundo de mudanças exponencialmente desruptivas e se submeterem suas estruturas aos níveis de transparência e eficiência  que podem ajudá-los a manter  suas vantagens competitivas. Ao agir assim, no entanto eles serão completamente transformados em células de energia muito mais enxutas e eficientes, tudo dentro de um ambiente de concorrência e novas estruturas de poder. De modo semelhante as revoluções industriais anteriores, os regulamentos irão desempenhar um papel decisivo na adaptação e na difusão de novas tecnologias. Entretanto, os governos serão forçados a mudar sua abordagem quando se trata de criação, revisão e aplicação dos regulamentos .''(SCHWAB,2016,p.73)

Assim entendemos que as expressões da questão social em suas múltiplas determinações (Iamamoto, 2008) irrompem das desigualdades fecundas na dinâmica societária capitalista, incluindo como epicentro as relações de capital e trabalho em associação retilínea, com a ordem das mudanças ocorridas no mundo do trabalho e consecutivamente no campo da economia (Netto, 2001).

Evocamos para potencializar esta reflexão a visão concebida por Karl Marx aplicada ao nexo das ''diferentes fases de desenvolvimento do proletariado'' (Marx,1999) elucidada pelas transformações processadas pelo desenvolvimento e complexificação do capital em suas refrações unívocas no operariado, exteriorizando-se nos aspectos metamórficos das expressões da questão social.

Dentre as múltiplas expressões da questão social existentes, neste trabalho, elencamos o desemprego e a sua relação direta com o processo de automação tecnológica associado ao âmbito mutável do mundo do trabalho atrelado a reafirmação significativa das políticas sociais no Brasil.

Ao tomarmos o trabalho como categoria dinâmica e teologicamente orientada que se relaciona ao processo de evolução da relação de transmutação entre o homem e natureza (Netto, 2012, p.43). Que detém um cariz rudimentar - centralizante na construção e promoção do ser social (conceituação do ser social, definição de Netto, 2012, p.43), associado a gestação dos aspectos cognitivos e psicossomáticos do sujeito, inserindo-se como um marco evolutivo na formação humana, segundo Engels (1999): '' O trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas.   Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém, é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem (ENGELS, 1999, p.4).

O trabalho apropriado pelo capital desenvolve tramas que negam ao homem uma participação efetiva na relação homem com a natureza, isto se relaciona com o processo de ampliação da automação tecnológica, visto que acreditam piamente que a categoria do trabalho desaparecerá como fruto des

 

sa ação (DE MASI,1999), no entanto esses estudiosos desconsideram a intrínseca relação entre o capital e trabalho, dessa forma conjecturamos que, enquanto houver a sociabilidade burguesa o trabalho não será erradicado (Antunes,2009) apenas sofrerá com a heterogeneidade das transformações provenientes do capitalismo.

Estabelece-se, então, um complexo processo interativo entre trabalho e ciência produtiva, que não pode levar à extinção do trabalho vivo. Este processo de retroalimentação impõe ao capital a necessidade de encontrar uma força de trabalho ainda mais complexa, multifuncional, que deve ser explorada de maneira mais intensa e sofisticada, ao menos nos ramos produtivos dotados de maior incremento tecnológico (ANTUNES, 2002, p.12).

     

Destarte na conjuntura atual do Brasil, na qual se encontram 12,7 milhões de desempregados segundo dados do IBGE (Pnad: 2017), entretanto houve o aumento da informalidade laboral no país que abarca cerca de 1,8 milhões de pessoas. Este desemprego está associado ao avanço tecnológico que transforma trabalho vivo em trabalho automatizado. Diante disto, entendemos que o debate em torno da automação é um debate que remonta a interpretação de Engels (2010) que demonstra, o aparecimento do sistema de  automação nos idos do século XVIII  e a supressão gradual dos postos de trabalho brilhantemente expostos por Huberman: “Assim a produção mecanizada, que não pode ser exercida sem um grande suprimento de força de trabalho, assegurou por sua própria influência esse suprimento, arruinando  o trabalhador manual” (HUBERMANN, 1985, p.179).

A vista disso percebemos a intrínseca relação existente, entre os avanços tecnológicos e a questão do desemprego (Santos, 2012, p.20), no entanto, esse prisma alcançou o clímax através do surgimento da tecnologia digital. Fruto de uma gradativa evolução que decorre aos idos de 1873 (Cury, 2011) o aparelhamento digital, alçou o seu ápice em 1936 com a criação da máquina Turing que converter-se-ia posteriormente no computador, este foi o responsável pelo o fornecimento de um novo horizonte para o modo de produção capitalista: “Com o advento dos computadores, sobretudo no período pós-guerra, o homem moderno descobriu que poderia revolucionar a maneira de gerar informação. Nesse âmbito, a vinda dos sistemas de informação foi imprescindível para o avanço do trabalho humano e, consequentemente, do capitalismo.''(VOLPATO,2015). Porém com a contingência deste, ocorreu graves transformações no mundo do trabalho.

Consecutivamente ao renascido progressio da sociabilidade burguesa cristalizado ao aparato digital, transcorreu-se progressivamente  mutações periódicas  no desenvolvimento  do proletariado  tanto que para o espanhol Juan Carlos Laviana (2017) estamos presenciando a emergência de uma nova classe ‘’obrera’’ : o proletariado digital.  Este consiste em indivíduos que trabalham diretamente com a internet ou a utilizam como instrumento para a divulgação de suas atividades laborais como: operadores de telemarketing, motoristas de aplicativos de táxi, mediadores de redes sociais, youtubers, profissionais autônomos dentre outras. Portanto para nós, essa neo heterogeneidade da classe trabalhadora (Iamamato, 2001), fruto da transmutação do capital, contém fucralmente a relação de exploração e alienação determinada pela relação de capital e trabalho não alterando-se essencialmente o espírito clássico do operariado: ''Ao converterem em sujeito a propriedade privada em sua figura ativa, ao mesmo tempo  fazem tanto do homem uma essência, como do homem não ser uma essência, de modo que, a contradição da realidade corresponde perfeitamente a essência contraditória tomada como princípio.''(MARX,1978,p.4) .           

As oscilações em cadeia oriundas desse contexto deflagram alterações tão significativas, que ultrapassam o âmbito econômico estrutural do capital, atingindo patamares únicos tanto que alguns estudiosos apontam a incidência de uma “quarta revolução indústria”', esta se refere á fusão dessas novas tecnologias e a interação dessas nos domínios físicos, digitais e biológicos (Schwab, 2016, p.16). Entretanto os significativos avanços propiciados pelo aparato digital-tecnológicos trazem consigo retrocessos que se expressam não apenas no processo de automação e na supressão do desemprego, mas refletem nos aspectos ontológicos humanos: “um dos sintomas da crise do homem é a divisão do trabalho, que dispersa as forças do indivíduo e assume proporções funestas, fazendo com que o homem deixe de ser pessoa para converter-se em “rodas movidas de fora” (FALCHETTI,  2003).

Os rebatimentos dessas transformações ocorridas na relação intra-estrutural do capital e no “mundo do trabalho” (Netto, 2012), elucidam para a categoria profissional do Serviço Social novas demandas que se encontram visceralmente relacionadas às políticas sociais (Guerra, 2007, p.238). Estas, no entanto são infligidas com contrarreformas expressas pelo a nova ordem do capital em seu cunho neoliberal, que visa o cerceamento dos direitos garantidos constitucionalmente  e o estabelecimento do “estado mínimo” (Netto, 2012, p.422). Perante isso, cabe a nós assistentes sociais desenvolver um exercício de resistência através da criação de estratégias que circulem no âmbito da intervenção profissional, visando à defesa intransigente dos direitos apontados na Constituição Federal de 1988 em favor das classes subalternas (CFESS, 1993).

 

V. Conclusões

Inferimos assim que as modificações insurgidas pelo processo de automação promovido pelo o capital, alteram significativamente “o mundo do trabalho” (Antunes, 2006), apartando os indivíduos do conceito primordial de trabalho e acentuando a flexibilização das relações laboráis. Segundo Laviana (2017) gerando uma nova clase “obrera”: o proletariado digital.

Contudo, o proletariado digital, é fruto de um neo desenvolvimento do proletariado (Marx,1978), posto que a feição basilar dessa classe é inalterável, uma vez, que as relações de opressão e exploração expressas pela sociabilidade burguesa não serão extintas, adquirirão apenas novas formas de exteriorização.

Os reflexos engendrados pelas transmorficidade do capital e as suas imbricações na classe trabalhadora,  conjuntamente com o desmonte das políticas públicas ocasionados pelo mandatário estado mínimo ruminam em novas demandas para o Serviço Social no domínio da intervenção prática (Guerra, 2008), exigindo dos profissionais do Serviço Social a reafirmação dos princípios éticos políticos e a formulação de estratégias de resistência frente a esses desafios.

VI. Referências bibliográficas

ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do  trabalho.    2 ª ed. São Paulo: Boitempo, 2009.

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Estabelece-se, então, um complexo processo interativo entre trabalho e ciência produtiva, que não pode levar à extinção do trabalho vivo. Este processo de retroalimentação impõe ao capital a necessidade de encontrar uma força de trabalho ainda mais complexa, multifuncional, que deve ser explorada de maneira mais intensa e sofisticada, ao menos nos ramos produtivos dotados de maior incremento tecnológico (ANTUNES, 2002, p.12).

     

Destarte na conjuntura atual do Brasil, na qual se encontram 12,7 milhões de desempregados segundo dados do IBGE (Pnad: 2017), entretanto houve o aumento da informalidade laboral no país que abarca cerca de 1,8 milhões de pessoas. Este desemprego está associado ao avanço tecnológico que transforma trabalho vivo em trabalho automatizado. Diante disto, entendemos que o debate em torno da automação é um debate que remonta a interpretação de Engels (2010) que demonstra, o aparecimento do sistema de  automação nos idos do século XVIII  e a supressão gradual dos postos de trabalho brilhantemente expostos por Huberman: “Assim a produção mecanizada, que não pode ser exercida sem um grande suprimento de força de trabalho, assegurou por sua própria influência esse suprimento, arruinando  o trabalhador manual” (HUBERMANN, 1985, p.179).

A vista disso percebemos a intrínseca relação existente, entre os avanços tecnológicos e a questão do desemprego (Santos, 2012, p.20), no entanto, esse prisma alcançou o clímax através do surgimento da tecnologia digital. Fruto de uma gradativa evolução que decorre aos idos de 1873 (Cury, 2011) o aparelhamento digital, alçou o seu ápice em 1936 com a criação da máquina Turing que converter-se-ia posteriormente no computador, este foi o responsável pelo o fornecimento de um novo horizonte para o modo de produção capitalista: “Com o advento dos computadores, sobretudo no período pós-guerra, o homem moderno descobriu que poderia revolucionar a maneira de gerar informação. Nesse âmbito, a vinda dos sistemas de informação foi imprescindível para o avanço do trabalho humano e, consequentemente, do capitalismo.''(VOLPATO,2015). Porém com a contingência deste, ocorreu graves transformações no mundo do trabalho.

Consecutivamente ao renascido progressio da sociabilidade burguesa cristalizado ao aparato digital, transcorreu-se progressivamente  mutações periódicas  no desenvolvimento  do proletariado  tanto que para o espanhol Juan Carlos Laviana (2017) estamos presenciando a emergência de uma nova classe ‘’obrera’’ : o proletariado digital.  Este consiste em indivíduos que trabalham diretamente com a internet ou a utilizam como instrumento para a divulgação de suas atividades laborais como: operadores de telemarketing, motoristas de aplicativos de táxi, mediadores de redes sociais, youtubers, profissionais autônomos dentre outras. Portanto para nós, essa neo heterogeneidade da classe trabalhadora (Iamamato, 2001), fruto da transmutação do capital, contém fucralmente a relação de exploração e alienação determinada pela relação de capital e trabalho não alterando-se essencialmente o espírito clássico do operariado: ''Ao converterem em sujeito a propriedade privada em sua figura ativa, ao mesmo tempo  fazem tanto do homem uma essência, como do homem não ser uma essência, de modo que, a contradição da realidade corresponde perfeitamente a essência contraditória tomada como princípio.''(MARX,1978,p.4) .           

As oscilações em cadeia oriundas desse contexto deflagram alterações tão significativas, que ultrapassam o âmbito econômico estrutural do capital, atingindo patamares únicos tanto que alguns estudiosos apontam a incidência de uma “quarta revolução indústria”', esta se refere á fusão dessas novas tecnologias e a interação dessas nos domínios físicos, digitais e biológicos (Schwab, 2016, p.16). Entretanto os significativos avanços propiciados pelo aparato digital-tecnológicos trazem consigo retrocessos que se expressam não apenas no processo de automação e na supressão do desemprego, mas refletem nos aspectos ontológicos humanos: “um dos sintomas da crise do homem é a divisão do trabalho, que dispersa as forças do indivíduo e assume proporções funestas, fazendo com que o homem deixe de ser pessoa para converter-se em “rodas movidas de fora” (FALCHETTI,  2003).

Os rebatimentos dessas transformações ocorridas na relação intra-estrutural do capital e no “mundo do trabalho” (Netto, 2012), elucidam para a categoria profissional do Serviço Social novas demandas que se encontram visceralmente relacionadas às políticas sociais (Guerra, 2007, p.238). Estas, no entanto são infligidas com contrarreformas expressas pelo a nova ordem do capital em seu cunho neoliberal, que visa o cerceamento dos direitos garantidos constitucionalmente  e o estabelecimento do “estado mínimo” (Netto, 2012, p.422). Perante isso, cabe a nós assistentes sociais desenvolver um exercício de resistência através da criação de estratégias que circulem no âmbito da intervenção profissional, visando à defesa intransigente dos direitos apontados na Constituição Federal de 1988 em favor das classes subalternas (CFESS, 1993).

 

V. Conclusões

Inferimos assim que as modificações insurgidas pelo processo de automação promovido pelo o capital, alteram significativamente “o mundo do trabalho” (Antunes, 2006), apartando os indivíduos do conceito primordial de trabalho e acentuando a flexibilização das relações laboráis. Segundo Laviana (2017) gerando uma nova clase “obrera”: o proletariado digital.

Contudo, o proletariado digital, é fruto de um neo desenvolvimento do proletariado (Marx,1978), posto que a feição basilar dessa classe é inalterável, uma vez, que as relações de opressão e exploração expressas pela sociabilidade burguesa não serão extintas, adquirirão apenas novas formas de exteriorização.

Os reflexos engendrados pelas transmorficidade do capital e as suas imbricações na classe trabalhadora,  conjuntamente com o desmonte das políticas públicas ocasionados pelo mandatário estado mínimo ruminam em novas demandas para o Serviço Social no domínio da intervenção prática (Guerra, 2008), exigindo dos profissionais do Serviço Social a reafirmação dos princípios éticos políticos e a formulação de estratégias de resistência frente a esses desafios.

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VOLPATO, Thiago. IGLESIAS, T. C. A revolução da tecnologia e seu impacto sobre o homem e seus processos de produção. São Paulo, 2015.

 

[1] Promulgado em 31 de agosto de 2016, durante uma cerimônia nauseante ocorrida na Câmara dos Deputados.