Reflexão
Por Maria Cristina Galvão de Moura Lacerda | 09/09/2006 | Contos
Um ancião, octogenário, viaja 500 quilômetros para segurar a mão do neto doente terminal de AIDS.
Sem uma palavra, aperta a mão, com toda a força e firmeza que o mal de Parkinson ainda não consumiu. Com a outra, espreme contra o rosto o lenço que lhe apara as lágrimas e lhe abafa o soluço: eis um discurso "cândido" camponês, que a linguagem urbanóide não alcança traduzir.
Ele, dentro de sua visão simples de homem do campo, não consegue entender como foi que tudo aconteceu, mas do fundo do seu coração, suplica a Deus, para que Ele troque de lugar com o menino, sim, menino, porque ele não tem muito mais que 18 anos.
Se não fosse ele tão temente a Deus, estaria revoltado, mas não... Apenas não pode conceber que um jovem que tinha saúde, energia, de sorriso largo e sempre animado pode se perder esse ponto.
Mesmo com toda benevolência, não aceita que lhe digam que foram as companhias que o levaram, apenas finge que acredita, para não precisar falar, para não castigar ainda mais a filha; enfim, para poupar-se.
A dor é tão grande que sente o peito dilacerado e se nesse momento pudesse, gostaria de partir...partir para não ter que ver os momentos finais de alguém por quem daria o próprio sangue.
Por menos sentimentos que um ser humano pudesse ter, vendo o quadro de dor e de desespero que ele via, estaria abalado; a filha chorando e mentalmente culpando-se, o genro, que sem coragem de assistir estava no corredor a chorar e o neto, em meio a tubos, ligado a máquinas, sem cor na face, respirando ofegante, sem forças ao menos para debater-se.
Lembrou-se que o neto ao tomar conhecimento da doença tentara se matar, ingerindo diversos tipos de remédio mas, foi acudido a tempo e a recordação desse fato fêz-lo estremecer e mentalmente agradecer ao anjo amigo que não permitiu.
Deus? Pai! O que fazer? O meu menino sofre! A minha menina nem sei como poderá continuar a viver.
Por favor, troca a vida dele pela minha!
Pai, o Senhor é o dono da vida e da morte, faça isso por mim, por ele, pela mãe.
Sabe, ela não teve outros filhos e talvez seja isso que prejudicou tudo, porque mimou muito o menino. Mas fez por amor. Perdoa-lhes - levando-me.
Eu já não presto para nada mesmo e ele tem tanto a fazer ainda.
Mesmo falando consigo mesmo, o pobre velho não deixa de perceber as mudanças sutis que estão ocorrendo no rosto do neto...
Chamam a enfermeira e com ela vem junto o médico, que abana a cabeça, como dizendo que não há mais nada a ser feito.
A filha desmaia e é amparada pela enfermeira e ao recobrar os sentidos agarra-se ao menino, sacudindo e chamando-o .
Ele com um aceno de cabeça pede que ela pare, no que é atendido de pronto.
A aflição é geral e ele sem saber o que fazer, lembra-se de orar em voz alta.
E na medida em que vai dizendo as palavras do Pai Nosso...sente uma estranha paz, uma serenidade no ar.
Nota que até o menino parece mais aliviado, com a respiração mais livre e mansamente, como se estivesse esperando pela prece, o menino dormiu para acordar na espiritualidade, segurando a mão do avô.
Uma cena assim, comum em nossos dias, pode ser evitada, se para isso dispusermos de dar mais atenção para os nossos filhos, lembrando sempre que eles são espíritos que nos foram confiados para que auxiliássemos em sua elevação.
Devemos também lembrar sempre que só o amor, o carinho e boa vontade é o caminho para o diálogo entre pais e filhos.
Concordar com tudo, aceitando os comportamentos errados de nossos filhos, por preguiça, comodismo ou para não ser careta, nem sempre produz bons resultados...
Exemplificar condutas boas, vivendo com harmonia, alegria e solidariedade, apontando o caminho para uma religião, mostrando que somos pessoas espiritualizadas e que buscamos no nosso Pai o refúgio, o aconselhamento e alento para todos as vicissitudes da vida, é uma forma de encaminhá-los também.
Sem uma palavra, aperta a mão, com toda a força e firmeza que o mal de Parkinson ainda não consumiu. Com a outra, espreme contra o rosto o lenço que lhe apara as lágrimas e lhe abafa o soluço: eis um discurso "cândido" camponês, que a linguagem urbanóide não alcança traduzir.
Ele, dentro de sua visão simples de homem do campo, não consegue entender como foi que tudo aconteceu, mas do fundo do seu coração, suplica a Deus, para que Ele troque de lugar com o menino, sim, menino, porque ele não tem muito mais que 18 anos.
Se não fosse ele tão temente a Deus, estaria revoltado, mas não... Apenas não pode conceber que um jovem que tinha saúde, energia, de sorriso largo e sempre animado pode se perder esse ponto.
Mesmo com toda benevolência, não aceita que lhe digam que foram as companhias que o levaram, apenas finge que acredita, para não precisar falar, para não castigar ainda mais a filha; enfim, para poupar-se.
A dor é tão grande que sente o peito dilacerado e se nesse momento pudesse, gostaria de partir...partir para não ter que ver os momentos finais de alguém por quem daria o próprio sangue.
Por menos sentimentos que um ser humano pudesse ter, vendo o quadro de dor e de desespero que ele via, estaria abalado; a filha chorando e mentalmente culpando-se, o genro, que sem coragem de assistir estava no corredor a chorar e o neto, em meio a tubos, ligado a máquinas, sem cor na face, respirando ofegante, sem forças ao menos para debater-se.
Lembrou-se que o neto ao tomar conhecimento da doença tentara se matar, ingerindo diversos tipos de remédio mas, foi acudido a tempo e a recordação desse fato fêz-lo estremecer e mentalmente agradecer ao anjo amigo que não permitiu.
Deus? Pai! O que fazer? O meu menino sofre! A minha menina nem sei como poderá continuar a viver.
Por favor, troca a vida dele pela minha!
Pai, o Senhor é o dono da vida e da morte, faça isso por mim, por ele, pela mãe.
Sabe, ela não teve outros filhos e talvez seja isso que prejudicou tudo, porque mimou muito o menino. Mas fez por amor. Perdoa-lhes - levando-me.
Eu já não presto para nada mesmo e ele tem tanto a fazer ainda.
Mesmo falando consigo mesmo, o pobre velho não deixa de perceber as mudanças sutis que estão ocorrendo no rosto do neto...
Chamam a enfermeira e com ela vem junto o médico, que abana a cabeça, como dizendo que não há mais nada a ser feito.
A filha desmaia e é amparada pela enfermeira e ao recobrar os sentidos agarra-se ao menino, sacudindo e chamando-o .
Ele com um aceno de cabeça pede que ela pare, no que é atendido de pronto.
A aflição é geral e ele sem saber o que fazer, lembra-se de orar em voz alta.
E na medida em que vai dizendo as palavras do Pai Nosso...sente uma estranha paz, uma serenidade no ar.
Nota que até o menino parece mais aliviado, com a respiração mais livre e mansamente, como se estivesse esperando pela prece, o menino dormiu para acordar na espiritualidade, segurando a mão do avô.
Uma cena assim, comum em nossos dias, pode ser evitada, se para isso dispusermos de dar mais atenção para os nossos filhos, lembrando sempre que eles são espíritos que nos foram confiados para que auxiliássemos em sua elevação.
Devemos também lembrar sempre que só o amor, o carinho e boa vontade é o caminho para o diálogo entre pais e filhos.
Concordar com tudo, aceitando os comportamentos errados de nossos filhos, por preguiça, comodismo ou para não ser careta, nem sempre produz bons resultados...
Exemplificar condutas boas, vivendo com harmonia, alegria e solidariedade, apontando o caminho para uma religião, mostrando que somos pessoas espiritualizadas e que buscamos no nosso Pai o refúgio, o aconselhamento e alento para todos as vicissitudes da vida, é uma forma de encaminhá-los também.