No final dos anos 1980,a economia brasileira estava atolada em uma crise sem esperança. Dezenas de milhares de brasileiros, dentre os melhores e mais corajosos, foram para outros países, procurar trabalho e oportunidades.

Um casal de descendentes de japoneses foi, como muitos, para o Japão, trabalhar na linha de montagem de uma indústria de autopeças. Eram tratados de acordo com a rígida etiqueta japonesa aplicável a subordinados: com formalidade e frieza. Após cerca de uma semana, a esposa passou a receber demonstrações de respeito de colegas e superiores hierárquicos japoneses, embora sua funçãopermanecesse a mesma. O marido, intrigado, perguntou a um colega o que havia acontecido - e recebeu uma única resposta: “sensei” (mestre, em japonês).

De fato, sua mulher era, no Brasil, professora do ensino fundamental - e isso constava em sua ficha na empresa. Conversando com outros colegas, foram informados de que os japoneses têm grande respeito por sacerdotes e professores, uns por representarem o equilíbrio espiritual, outros por serem os agentes da educação. “Mas eu era apenas professora primária”, disse a brasileira; ao que um dos trabalhadores respondeu “Amo meus filhos e quem passa com eles o tempo que não estão comigo, quem os ensina a ler, quem os instrui, merece todo o meu respeito”.

Os primeiros imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil eram, na maioria, agricultores. Poucos falavam alguma coisa de português. Normalmente, a primeira providência que os pais tomavam era matricular seus filhos em escolas, quando existiam. Abriam mão de uma ajuda valiosa no trabalho na lavoura e, à noite, sentavam com os filhos à luz de candeeiros, para acompanhar as lições; não entendiam o idioma e sequer sabiam exatamente o que estava sendo estudado, mas estavam ao lado, deixando claro que aquilo era mais importante do que seu próprio descanso. Em uma única geração, seus descendentes passaram a ocupar espaço importante em muitas carreiras profissionais.

O Japão tem um pequeno território e poucos recursos naturais, foi praticamente destruído na segunda guerra mundial, tendo inclusive sofrido bombardeio nuclear e, em pouco mais de quarenta anos, tornou-se uma das maiores potências econômicas do planeta. Isso foi devido a investimentos maciços dos norte-americanos, à determinação e trabalho dos próprios japoneses e, principalmente, a uma cultura que reconhece o valor da educação na construção de pessoas melhores. Este, sem dúvida, é um dos fatores que propiciaram, na recente tragédia japonesa causada pelos abalos sísmicos e vazamentos radioativos, seu soerguimento, facilitado pelo forte senso de grupo, pela disciplina e solidariedade.

Embora todos os países atravessem períodos turbulentos - nenhum deles está imune a crises -, algunsrecuperam mais rapidamente, e com menos sequelas, o bom padrão de vida de sua população.Sem educação de qualidade, acessível para todos, torna-se quase impossível aimplantação de um bom sistema de saúde, adequada segurança pública e formação para o pleno exercício da cidadania. Todos estes fatores estão interligados, mas a base está no processo educativo.

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – Unibrasil.