Recuperação
Publicado em 05 de dezembro de 2013 por Central Press
No final dos anos 1980,a economia brasileira estava atolada em uma crise sem esperança. Dezenas de milhares de brasileiros, dentre os melhores e mais corajosos, foram para outros países, procurar trabalho e oportunidades.
Um casal de descendentes de japoneses foi, como muitos, para o Japão, trabalhar na linha de montagem de uma indústria de autopeças. Eram tratados de acordo com a rígida etiqueta japonesa aplicável a subordinados: com formalidade e frieza. Após cerca de uma semana, a esposa passou a receber demonstrações de respeito de colegas e superiores hierárquicos japoneses, embora sua funçãopermanecesse a mesma. O marido, intrigado, perguntou a um colega o que havia acontecido - e recebeu uma única resposta: “sensei” (mestre, em japonês).
De fato, sua mulher era, no Brasil, professora do ensino fundamental - e isso constava em sua ficha na empresa. Conversando com outros colegas, foram informados de que os japoneses têm grande respeito por sacerdotes e professores, uns por representarem o equilíbrio espiritual, outros por serem os agentes da educação. “Mas eu era apenas professora primária”, disse a brasileira; ao que um dos trabalhadores respondeu “Amo meus filhos e quem passa com eles o tempo que não estão comigo, quem os ensina a ler, quem os instrui, merece todo o meu respeito”.
Os primeiros imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil eram, na maioria, agricultores. Poucos falavam alguma coisa de português. Normalmente, a primeira providência que os pais tomavam era matricular seus filhos em escolas, quando existiam. Abriam mão de uma ajuda valiosa no trabalho na lavoura e, à noite, sentavam com os filhos à luz de candeeiros, para acompanhar as lições; não entendiam o idioma e sequer sabiam exatamente o que estava sendo estudado, mas estavam ao lado, deixando claro que aquilo era mais importante do que seu próprio descanso. Em uma única geração, seus descendentes passaram a ocupar espaço importante em muitas carreiras profissionais.
O Japão tem um pequeno território e poucos recursos naturais, foi praticamente destruído na segunda guerra mundial, tendo inclusive sofrido bombardeio nuclear e, em pouco mais de quarenta anos, tornou-se uma das maiores potências econômicas do planeta. Isso foi devido a investimentos maciços dos norte-americanos, à determinação e trabalho dos próprios japoneses e, principalmente, a uma cultura que reconhece o valor da educação na construção de pessoas melhores. Este, sem dúvida, é um dos fatores que propiciaram, na recente tragédia japonesa causada pelos abalos sísmicos e vazamentos radioativos, seu soerguimento, facilitado pelo forte senso de grupo, pela disciplina e solidariedade.
Embora todos os países atravessem períodos turbulentos - nenhum deles está imune a crises -, algunsrecuperam mais rapidamente, e com menos sequelas, o bom padrão de vida de sua população.Sem educação de qualidade, acessível para todos, torna-se quase impossível aimplantação de um bom sistema de saúde, adequada segurança pública e formação para o pleno exercício da cidadania. Todos estes fatores estão interligados, mas a base está no processo educativo.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – Unibrasil.