RECUPERAÇÃO DE UM TRECHO DA MATA DE GALERIA DO CÓRREGO SÃO JOSÉ NO MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA MT.

RESUMO

GOMES, Fernanda Meneses. RECUPERAÇÃO DE UM TRECHO DA MATA DE GALERIA DO CÓRREGO SÃO JOSÉ NO MUNICÍPIO DE TANGARÁ DA SERRA MT.

O Objetivo deste trabalho foi de recuperar um trecho de mata de galeria do córrego São José. A área encontra-se em um estágio bem avançado de degradação devido à derrubada da mata para a implantação primeiramente da agricultura e atualmente a criação de gado. Devido à presença do gado foi necessário isolamento da área onde seria realizado o plantio e posteriormente deu-se início ao plantio das mudas em covas de mais ou menos 40 cm de profundidade, com um espaçamento de 2,5 metros entre uma planta e outra. As espécies foram selecionadas de acordo com os grupos ecológicos e potencialidades ofertadas à fauna, ao todo foram selecionadas 152 mudas que faziam parte de cinco famílias. Entre as mudas foi semeado sementes de Leucena leucocephala, para que faça sombra para as climácicas. As mudas foram medidas a cada trinta dias, totalizando três medições e os gráficos foram elaborados através da soma das médias do crescimento. A família que teve um maior desenvolvimento foi a Rubiaceae, com uma média de crescimento de 1,5 cm, seguida da Leguminosae com 1,14 cm, seguida da Bignoniaceae com uma média de 1 cm de crescimento. Devido às mudas terem sido plantadas no final do período chuvoso, as mesmas tiveram pouco desenvolvimento, porém considerável devido ao curto espaço de tempo de medições.

PALAVRAS-CHAVE: Mata ciliar, recuperação, espécies nativas, sucessão ecológica.

ABSTRACT

GOMES, Fernanda Meneses. RECOVERY OF A STRETCH OS GALLERY FOREST OF STREM SÃO JOSÉ OVER BOROUGH OF TANGARÁ DA SERRA MT.

The objective this study was get back a stretch of the gallery forest from São José stream. The area has been met in advanced stage od degradation due retreat of the forest to implantation firstly agriculture and pecuariary actuality. Due the presence cattle was necessary insulation of the area and afterwards started realized the planty of the cutting in hollow approximately 40 cm of profundity and 2,5 cm with space among them. The species cutting from five families. Was sowed one leguminose Leucena Leucocephala to shade to tree climácicas. The gauging was carried out each 30 days, totaling up three gauging. The graphics were sophisticated though growth average. The Rubiaceae had the biggest growth 1,5 cm, followed of Leguminosae 1,14 cm and Bignoniaceae 1cm. Due the cutting had been planted on the end rainy period they few development, however the result was appreciable by short space of time.

KEYWORDS: Gallery forest, recuperation, native species, ecologyc succession.

INTRODUÇÃO

O processo de ocupação do Brasil caracterizou-se pela falta de planejamento e consequente destruição dos recursos naturais, particularmente das florestas. Ao longo da história do país, a cobertura florestal nativa, representada pelos diferentes biomas, foi sendo fragmentada, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as pastagens e as cidades (AMBIENTE BRASIL, 2000).

Ribeiro (1998), diz que frequentemente as matas de galeria são perturbadas por desmatamentos, grandes queimadas e mineração. Os desmatamentos em larga escala que incluem a ação de agricultores, pecuaristas, mineradores e madeireiros, assim como a exploração de madeira para a produção de carvão mineral, têm sido feitos bastante desordenada.

Ambiente Brasil (2000), fala que, apesar de reconhecida importância ecológica ainda mais evidente nesta virada de século e de milênio, em que a água vem sendo considerada como recurso natural mais importante para a humanidade, as florestas ciliares continuam sendo eliminadas cedendo lugar para especulação imobiliária, para a agricultura e a pecuária e, na maioria dos casos, sendo transformadas apenas em áreas degradadas, sem qualquer tipo de produção.

Juntamente com toda essa degradação perde-se muito com relação à descoberta de novas espécies tanto vegetais como animais e ainda a extinção de espécies endêmicas, que é também uma forte característica do bioma regional.

OBJETIVO GERAL

            Recuperar um trecho de 70 metros da mata ciliar do Córrego São José no município de Tangará da Serra MT.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Selecionar mudas nativas para o plantio;

- Efetuar o plantio de mudas a partir de critérios técnicos;

- Iniciar a recuperação estrutural e funcional do trecho da mata ciliar, respeitando critérios ecológicos (sucessão ecológica);

- Monitorar o crescimento das mudas.

HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL DA ÁREA OJETO DA RECUPERAÇÃO

            As ações que culminaram com a ocupação da propriedade, aliadas ao desmatamento, foram as principais causas da degradação da área de preservação permanente da propriedade. Segundo o proprietário da área o Sr. Wilson Galli, essas ações tiveram início por volta de 1965 pelo processo de antropização dos produtores de café. Inicialmente foi construída uma estrada a beira serra o que impulsionou ainda mais o desmatamento da região e posteriormente foi construída a MT 358.

            O Sr. Galli comprou a área em 1980 e após a aquisição do local derrubou toda a plantação e construiu um clube que hoje se encontra desativado. Na época devido ao grande número de frequentadores foi necessária a retirada da mata ciliar do córrego para que os mesmos pudessem fazer uso do local. Em consequência disso, a floresta ciliar do córrego hoje está praticamente ausente causando sérios danos à biodiversidade local. A área onde será realizado o plantio das mudas trata-se de uma área de pasto.

            A área de estudo está localizada às margens da MT 358 (sentido Tangará-Cuiabá), Bairro Aeroporto, com as coordenadas geográficas: S14º39'58.5" e W 057º26'09.8". O roteiro  para acesso é, partindo da sede do município de Tangará da Serra, no sentido Tangará – Cuiabá à aproximadamente 7 km ao lado esquerdo da rodovia.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Cerrado

O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, localizado em uma grande área do Brasil Central. Por fazer fronteira com outros importantes biomas, ( a Amazônia ao norte, a Caatinga a nordeste, o Pantanal a sudoeste e a Mata Atlântica a sudeste) a fauna e flora do Cerrado são extremamente ricas (CI-BRASIL, 2003).

            O Cerrado, que em português significa fechado, é considerado como um ecossistema tropical de Savana, com similares na África e na Austrália. No Brasil, ocupa uma área de 204 milhões de hectares (ALMEIDA, 1998).

            Esse bioma apresenta várias fitofisionomias como: mata ciliar, mata de galeria, mata seca, cerradão, cerrado strictu sensu, parque do cerrado, palmeiral, veredas, campo sujo, campo limpo e campo rupestre (BIZERRIL, 2003). A área objeto de estudo foi uma área der mata ciliar que segundo Ambiente Brasil (2000) é caracterizada por apresentar formação florestal densa e alta – 20 e 25 metros que acompanha os rios de médio e grande porte, onde a copa das árvores, não formam galerias sobre a água.

Clima e hidrografia

            Seu clima pode ser dividido em duas estações distintas: inverno seco, apresentando elevada deficiência de água (maio-setembro) e verão chuvoso onde ocorre média de 90% da precipitação anual (outubro-março) (SANO e ALMEIDA, 1998).

            O cerrado é cortado por três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins, São Francisco e Prata), favorecendo a manutenção de uma grande biodiversidade (WWF,2003).

           

Fauna e flora

            O cerrado apresenta uma das maiores biodiversidades do mundo e, uma parte considerável das espécies tem ocorrência restrita à essa região (HENRIQUES, 2003) A fauna apresenta 837 espécies de aves; 67 gêneros de mamíferos, abrangendo 161 espécies e dezenove endêmicas; 150 espécies de anfíbios, dos quais 45 são endêmicas; 120 espécies de répteis, dos quais 45 são endêmicas (IBAMA, 2000).

            Ao todo, o cerrado tem 26 espécies exclusivas da região, outras que não são endêmicas, porém compõem a biodiversidade local (GESISKY, 2004).

Relevos e solos

            O relevo do domínio cerrado é em geral bastante plano ou suavemente ondulado, estendendo-se por imensos planaltos ou chapadões. Seus solos são geralmente profundos, de cor vermelha ou vermelha amarelada, são porosos, permeáveis, sendo portanto predominantemente arenosos. Possui baixa capacidade de retenção de água e um teor de matéria orgânica entre 3 e 5% (COUTINHO, 1998).

            O solo do cerrado apresenta pH ácido com elevado conteúdo de alumínio e baixa disponibilidade de nutrientes, (AMBIENTE BRASIL, 2000).

A degradação no cerrado

            Apesar do seu tamanho e importância, o cerrado é um dos ambientes mais ameaçados do mundo. Estudos realizados pelos pesquisadores do Programa Cerrado da CI-Brasil indicam que o bioma corre risco de desaparecer até 2030. Dos 204 milhões de hectares originais, 57% já foram completamente destruídos e a metade das áreas remanescentes estão bastante alteradas, podendo não mais servir aos propósitos de conservação da biodiversidade. O desmatamento do cerrado é alarmante, chegando a 1,5% ou três milhões de hectares/ano. Isso equivale a 2,6 campos de futebol/minuto (CI-BRASIL, 2003).

Conceituação de áreas degradadas

            A recuperação de áreas degradadas pode ser conceituada como um conjunto de ações idealizadas e executadas por especialistas das mais diferentes áreas do conhecimento humano que visam proporcionar o restabelecimento de condições de equilíbrio e sustentabilidade existentes anteriormente em um sistema natural (DIAS e MELLO, 1998).

            Segundo Ambiente Brasil (2000), um ecossistema torna-se degradado quando perde sua capacidade de recuperação natural após distúrbios, ou seja, perde sua resiliência. Dependendo da intensidade do distúrbio, fatores essenciais para a manutenção da resiliência como, banco de plântulas e de sementes no solo, capacidade de rebrota das espécies, chuva de sementes, dentre outros, podem ser perdidos, dificultando o processo de regeneração natural ou tornando-o extremamente lento.

Fatores de degradação

Segundo Oldeman (1994) in Dias e Mello (1998), cerca de 15% do solo mundial encontram-se degradado. Se considerarmos as áreas inabitadas do mundo, essa característica torna-se mais agravante, uma vez que cerca de 24% dessas, encontram-se degradadas em decorrência humana.

Independentemente da ausência de avaliações exatas a respeito da extensão de áreas degradadas do Brasil, todas as estimativas apontam para o desmatamento e para as atividades agrícolas como os principais fatores de degradação de nossos solos. O impacto causado por obras de engenharia (estradas, ferrovias, barragens etc.) e por atividades de mineração a céu aberto certamente sensibiliza a população de modo geral, que tende a atribuir esses fatores a responsabilidade maior pela degradação dos solos (DIAS e MELLO, 1998).

O mesmo diz Rodrigues e Gandolfi (2001), a agricultura sempre foi e continua sendo o principal fator causador da degradação dos ecossistemas ciliares, geralmente associado com a expansão da fronteira agrícola ou com práticas agrícolas inadequadas (descarga de sedimentos e águas superficiais, fragmentação, fogo, extrativismo et.).

No caso do plantio de pastagens, basta lembrar que cerca de 40% do rebanho bovino brasileiro é criado no cerrado e não há qualquer indicação de que a produção de carne tenda a diminuir no país, nos próximos anos. No caso das culturas agrícolas, a que mais contribui para a destruição é a de soja, o Brasil é o primeiro produtor mundial desse grão e 45% da safra nacional sai da região central do cerrado (HENRIQUES, 2003).

Outro fator a ser considerado em relação às atividades agrícolas refere-se à dificuldade de diagnosticar o processo de degradação, intervindo somente quando o processo de degradação encontra-se mais adiantado. Existem ainda, agricultores que não intervém, deixando que o processo de regeneração ocorra naturalmente, partindo então para a exploração de outra área (DIAS e MELLO, 1998).

Mata de galeria e mata ciliar

As matas de galeria segundo Ribeiro (1998), são aquelas que surgem ao longo dos cursos de água (riachos, rios e córregos).

Para Rodrigues (2001), o termo floresta ou matas de galeria deve ser usado para a designação das formações florestais ribeirinhas em regiões onde geralmente a vegetação de interflúvio não é floresta contínua e geralmente ao longo de rios de pequenos portes.

Na legislação brasileira o termo mata ciliar é usado genericamente para denominar qualquer formação existente nas margens dos cursos de água, englobando, portanto, as florestas de galerias, as de brejo, as ripárias et. Ab'Saber (2001), diz que a expressão florestas ciliares envolve todos os tipos de vegetação arbórea vinculada à beira de rios.

De acordo com Ribeiro (1998) in Walter (1995), mata ciliar é o tipo de vegetação florestal que ocorre em rios de grande largura, onde a copa das árvores de ambas as margens não se tocam.

Solos das matas ciliares

A composição florística de mata ciliar varia conforme o regime hídrico do dolo. Solos permanentemente alagados apresentam diversidade menos do que solos bem drenados. Solos com drenagem deficiente apresentam número reduzido de espécies com elevados valores de dominância relativa (SILVA, 1991).

Importância das matas de galeria

            Nos solos sem vegetação a água da chuva ou de irrigação, em vez de infiltrar-se no solo, escorre pela superfície, formando enxurradas, deixando de abastecer os lençóis freáticos, provocando diminuição no nível de água armazenada, provocando a erosão do solo e o assoreamento dos cursos de água, dentre outros problemas ambientais (RIBAS, 1999).

            Ribeiro (1998) comenta que as matas ciliares protegem o solo da erosão e consequentemente, os corpos de água do assoreamento, garantindo a manutenção da diversidade da biota terrestre e aquática, fornecendo-lhes nutrientes necessários, além de manter perenes as nascentes e fontes, proporcionando assim, um aumento das reservas de água nos lençóis freáticos.

            Para Ambiente Brasil (2000) as matas ciliares funcionam como filtros, retendo defensivos agrícolas, poluentes e sedimentos que seriam transportados para os cursos de água, afetando diretamente a quantidade e a qualidade da água e consequentemente a fauna aquática e a população humana. São importantes também como corredores ecológicos, ligando fragmentos florestais e, portanto, facilitando e deslocamento da fauna e o fluxo gênico entre as populações de espécies animais e vegetais. Em regiões com topografia acidentada, exercem a proteção do solo contra os processos erosivos.

            Complementando com Kageyama, et.al. (1989) diz que as matas ciliares atuam como barreira física, regulando os processos de troca entre os ecossistemas terrestres e aquáticos, desenvolvendo condições propícias à infiltração da água. Sua presença reduz significativamente a possibilidade de contaminação dos cursos de água por resíduos de adubos, defensivos agrícolas, conduzidos pelo escoamento superficial no terreno.

            As matas ciliares, mesmo estando protegidas pela legislação ambiental em nível federal e estadual principalmente, vêm sido progressivamente alteradas, chegando até sua destruição, sendo assim, alvo de preocupação constante por parte de pesquisadores e da comunidade envolvida (RIBEIRO, 1998).

            Guerra (1996) explica que a identificação dos diferentes tipos de cobertura vegetal nos informa, principalmente, sobre o nível de proteção do solo, já que a cobertura vegetal é responsável pela proteção contra a ação do impacto das gotas de chuva, pela diminuição da velocidade do escoamento superficial, através do aumento da rugosidade do terreno, e pela maior estruturação do solo, que passa a oferecer maior resistência à ação dos processos erosivos.

            A retirada de cobertura vegeta traz várias consequências como destruição da biodiversidade e sérios impactos na flora e fauna das áreas de preservação permanente, situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso de água nas encostas ou restingas, tanto que a preocupação primeira do Código Florestal foi com a preservação da vegetação que protege os cursos de água, limitando a possibilidade de erosão do solo e minimizando a poluição dos cursos de água (RIBEIRO, 1998).

            Estas peculiaridades conferem às matas ciliares em grande aparato de leis, decretos e resoluções visando sua preservação.

            O no Código Florestal (Lei nº 4.777/65) desde 1965 inclui as matas ciliares na categoria de áreas de preservação permanente que segundo Uniagua (1999), engloba: cursos de rios e outros cursos d' água; ao redor de lagoas. Lagos ou reservatórios naturais ou artificiais; ao redor de nascentes ou olho d' água; no topo de morros, montes e montanhas e serras; nas encostas ou partes destas com declividade superior a 45º; nas restingas, como fixadora de dunas ou estabilizadores de margens; nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 metros em projeções horizontais; em altitudes superiores a 1.800 metros.

            Desse modo, as florestas existentes ao longo dos rios, lagos e nascentes, são consideradas áreas de preservação permanente amparadas infraconstitucionalmente pela Lei nº 4.771 de 15 de Setembro e 1965 que institui o Código Florestal, o qual traz em seu artigo 2º as limitações de metragem em relação à largura dos cursos d' água, essas limitações sofrem variações nos diversos estados da federação, pois cada estado é competente para legislar suas delimitações desde que não seja inferior ao que determina a lei.

A ocupação e o uso inadequado do solo têm se tornado nos últimos anos, um agente no processo de degradação. A falta de um aprimoramento, planejamento e/ou conhecimento desse processo, contribuem diretamente para que o número de áreas degradadas aumente cada vez mais. O conhecimento da biosfera em que vivemos é essencial para que tanto o homem quanto a natureza possam compartilhar um mesmo ambiente.

Princípios de sucessão ecológica aplicada à recuperação ambiental de áreas naturais

De acordo com Ribeiro (1998), o reconhecimento das áreas a serem reflorestadas deve ocorrer por intermédio das espécies de rápido crescimento e rápida absorção de nutrientes do solo, ou que apresentem potencial madeireiro e capacidade de adaptação.

Contudo, a execução de um plano de recuperação e reflorestamento, deve incluir o plantio de espécies nativas para manter adequadas as condições de sobrevivência dos animais e biodiversidade. Essa diversidade está relacionada a uma complexa sucessão de sítios mais secos e úmidos, com maior ou menor disponibilidade de luz, sobre diferentes classes de solos com variados níveis de fertilidade (BERTONI, 1986).

Outro fator de grande importância quando se fala em recuperação e reflorestamento, são os corredores que segundo Fonseca (1992), podem aumentar o tamanho efetivo das reservas por meio da possibilidade de intercâmbio de indivíduos. As matas ciliares podem, em determinadas paisagens fragmentadas, atuar como corredores facilitando o fluxo de indivíduos, genes e materiais, sendo, pois, extremamente importantes na manutenção da biodiversidade do bioma cerrado.

A estratégia do plantio consorciado com espécies nativas em matas ciliares pode trazer uma série de vantagens, a partir: do uso de espécies que produzem frutos comercializáveis com produção durante boa parte do ano, da menor dependência de apenas uma espécie e da proteção ao solo e dos mananciais de água. A adaptação dessa estratégia ao conceito de uso múltiplo de florestas plantadas pode produzir também resultados recreacionais e de conservação genética animal e vegetal. (KAGEYAMA, 1989).

Partindo dessas premissas, faz-se necessário a recuperação dessa área degradada garantindo assim, sua capacidade de armazenamento de água e a renovação da base da cadeia alimentar para a manutenção da fauna em geral, fator de suma importância para a sustentabilidade ambiental.

Conceitos básicos de sucessão ecológica segundo PINTO-COELHO (2000).

●Sucessão primária - Ocorre em substratos recém-formados tais como áreas atingidas por erupções vulcânicas. Envolve modificações substanciais do ambiente causadas direta ou indiretamente pelos organismos pioneiros.

● Sucessão secundária – Ocorre em comunidades preexistentes seguindo a um certo distúrbio natural ou não.

● Estágio seral – Toda sequência sucessional envolve a existência de estágios mais ou menos definidos ao que se convencionou chamar de estágio seral. O ponto de convergência seria o estágio final ou clímax. Cada região tem um clímax definido basicamente pelas condições climáticas regionais ou clímax climático. Variações locais podem ocorrer muitas vezes como reflexo de mosaicos pedológicos, como por exemplo, os afloramentos de calcário no cerrado. Nesse caso, fala-se em clímax edáfico.

● Clímax – Etapa de maior maturidade em uma determinada sucessão. Não é um limite de maturidade. Em sistemas explorados ou que não capitalizaram a produção, esse estágio não é atingido (potamoplâncton). A produção pode ser, e, alguns casos, consumida pelo próprio ecossistema (fogo, herbivoria, predadores) e, nesses casos, o clímax não é atingido igualmente. Há estágios maduros autodestrutivos, como é o caso dos lagos distróficos.

Meio biótico

            O bioma local é o Cerrado com ausência quase total da mata ciliar e ausência completa da mata de galeria. Na área faltam condições de vida à fauna e flora que dependem da recuperação da área para poderem continuar habitando o local. A área de mata de galeria degradada é de aproximadamente dois mil metros, o que caracteriza uma grande fragmentação do hábitat.

MATERIAIS E MÉTODOS

Escolha da área

A área do Clube Campestre foi escolhida devido ao seu estado de degradação e por ser uma área de fácil acesso. A escolha foi realizada através de uma visita ao local com a orientanda, a orientadora e o proprietário da área. Após a liberação, deu-se início a execução das atividades. O estudo foi realizado em uma área de 30x70m, ás margens do córrego São José.

Atividades desenvolvidas

Por se tratar de uma área de pastagem, foi necessária a construção de uma cerca para o isolamento da mesma para que o gado não invadisse. Segundo Rodrigues e Gandolfi (2001), o isolamento é uma das práticas mais simples de recuperação de uma determinada área. Feito a cerca, o próximo passo foi a confecção das covas que foram abertas com uma profundidade de 40 centímetros, seguindo o modelo de (KAGEYAMA, 1989). Estando as covas prontas deu-se início ao plantio das mudas.

            A escolha das mudas nativas usadas no plantio é do método de recuperação, definindo-se pelo de sucessão ecológica, que segundo (Kageyama, 1989) é uma valiosa ferramenta para desenvolver a recuperação de (APP) Área de Proteção Permanente.

            As espécies foram selecionadas de acordo com os grupos ecológicos e potencialidades ofertadas à fauna. O plantio foi realizado nos dias 26 e 28 de fevereiro. As gramíneas foram preservadas e as espécies foram enumeradas para os acompanhamentos do desenvolvimento de cada indivíduo uma vez ao mês com o auxílio de uma trena e um caderno de campo.

Entre as mudas foram plantadas sementes de Leucena (Leucena leucocephala) planta pioneira, com o intuito de que a mesma cresça e fça sombra para as plantas que crescerão posteriormente. Logo após o crescimento das plantas secundárias essas serão podadas.

Depois de realizada a última etapa de medição deu-se início à confecção dos gráficos, onde os mesmo foram elaborados através da soma das médias do crescimento. Para obtenção das médias foram somadas todas as medidas de cada etapa e dividido pelo total de espécies, resultando assim em três médias por espécies. Essas três médias foram somadas resultando assim em uma média geral do crescimento das mudas.

Para a confecção do gráfico de crescimento por estágio sucessional, foi somada a média geral das espécies que faziam parte de um determinado grupo ecológico e dividido pelo número total de espécies do grupo, obtendo assim uma média geral. O mesmo processo foi seguido para a obtenção da média de crescimento por família.

Tabela 1. Lista das espécies utilizadas no reflorestamento.

Nome Científico

Nome popular

Família

Classificação

Quantidade

  1. Albizia niopioides (Spruce) Burk.

Angico branco

Mimosaceae

Clímax

02

  1. Genipa americana L.

Jenipapo

Rubiaceae

Pioneira

50

  1. Hymenaea stigonocarpa Mart.

Jatobá do cerrado

Caesalpinaceae

Clímax

05

  1. Inga edulis Willd.

Ingá

Mimosaceae

Pioneira

29

  1. Tabebuia ochracea (Cham.) Standl

Ipê amarelo

Bignoniaceae

Intermediária

16

  1. Parkia spp.

Pinho cuiabano

Mimosaceae

Pioneira

09

  1. Myracrondruon urundeuva Allemao

Aroeira

Anacardiaceae

Clímax

18

  1. Caesalpinia férrea MART.Ex Tul.

Pau de ferro

Caesalpinaceae

Clímax

13

  1. Cedrela odorata Vell.

Cedro

Meliaceae

Intermediária

10

 

 

 

 

TOTAL

 

 

 

152

Fonte: Adaptado de (Vilela-Santos, 2004). Obs.: As mudas foram adquiridas e provenientes do Viveiro da Secretaria Municipal de Agricultura de Tangará da Serra MT.

 

 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A família que obteve um maior índice de desenvolvimento foi a Rubiaceae com uma média de crescimento de 1,5 cm. Isso pode estar ligado ao fato da planta ser categorizada pioneira quanto ao seu estágio sucessional, ou seja, plantas com um grau de crescimento rápido.

A segunda família com um maior desenvolvimento foi a Leguminosae com 1,14 cm, seguida da Bignoniaceae com uma média de 1 cm e a família Meliaceae com uma média de 0,6 cm. A Anacardiaceae foi a família que obteve menor desenvolvimento, apenas 0,5 cm.       Para Kageyama (1989), o modelo sucessional separa espécies em grupos ecológicos e juntando-as em modelos de plantio tais que as espécies mais iniciais da sucessão deem sombreamento adequado às espécies dos estágios mais finais da sucessão. A concepção  básica é a de que as espécies pioneiras das condições de sombra mais cerrado às espécies climácicas, enquanto as espécies secundárias iniciais fornecem sombreamento parcial às secundárias tardia. Ribeiro (1998) complementa dize4ndo que as espécies clímax normalmente fecham o dossel.

Primack e Rodrigues (2000), diz que quando a fase de reprodução das espécies da mata de galeria for aumentando, o fluxo gênico deverá chegar o mais próximo possível do ambiente original.

As espécies tiveram pouco desenvolvimento durante o período observado. Esse resultado pode ser compreendido pelo fato do plantio ter sido realizado no final do período das chuvas, onde a falta e/ou a pouca quantidade de água afetou o crescimento das mudas.

O G. americana foi a espécie que teve maior desenvolvimento com uma média de 1,8 cm de crescimento, seguido do Parkia spp. Com 1,5 cm e o I. marginata com uma média de 1,2 cm de crescimento. Este desenvolvimento se deve pelas espécies serem pioneiras, tendo, portanto um crescimento mais acelerado que os demais. As plantas que tiveram um desenvolvimento igual ou inferior a 1 cm fazem parte das categorias intermediária como o T. ochraceae e o C. fissilis; ou clímax como o A. niopioides, a M. urundeuva, o P. confertiflora e o C. ferrea.

De um modo geral o C. fissilis e o A. niopioides, foram as espécies que tiveram o menor desenvolvimento, resultado esse totalmente o inverso do trabalho de PAIVA e POGGIANI (2000).

Uma vez recuperada a vegetação local, os animais que ali viviam podem voltar a habitar a mata, voltando assim a dispersar as sementes recolonizando outros fragmentos. O programa de reintrodução das espécies aqui em estudo vem buscar exatamente isso, repovoar uma área com determinadas espécies onde as mesmas não existem mais ou está em declínio, que conforme PRIMACK e RODRIGUES (2000) é o principal objetivo de um programa de reintrodução.

A fragmentação do habitat ameaça a existência de espécies, limitando o potencial de dispersão e colonização da mesma. Muitas espécies de pássaros, mamíferos e insetos do interior da floresta não atravessarão nem mesmo faixas estreitas de ambiente aberto, por causado perigo da predação (PRIMACK e RODRIGUES, 2000).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Como o plantio coincidiu com o final do período das chuvas, as mudas tiveram pouco crescimento, devido a baixa umidade do solo, porém considerável se for analisado o curto período de estudo. O ideal seria realizar o plantio no início do período chuvoso, onde a oferta de água é abundante.

            A área estudada encontra-se em um estágio muito avançado de degradação, necessitando, portanto de medidas rápidas para recuperar o que foi perdido. Primeiramente deve sensibilizar os moradores e proprietários de toda a região no sentido de acabar com a degradação. Posteriormente deve-se continuar o trabalho de recuperação já iniciado. Outra alternativa para a recuperação da área seria cercar e esperar que a própria natureza se encarregue de revegetar (regeneração natural), um quanto cresce a esse processo natural é a demora do crescimento das espécies, uma vez que as espécies que irão nascer, serão provenientes de sementes das próprias árvores o que demora um pouco mais a crescer do que as mudas plantadas.

            Paralelamente a essas práticas é importante um acompanhamento de um profissional da área para estar monitorando o crescimento das mudas, se as espécies faunísticas estão ressurgindo juntamente coma volta da vegetação local, ou se outras espécies que ali não existiam estão aparecendo devido a presença da mata. Enfim, o trabalho de um profissional no processo de recuperação de área degradada é de suma importância para a realização de um trabalho eficiente e de acordo com os princípios tanto humano quanto da natureza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BIZERRIL, M.X.A. O cerrado nos livros didáticos de geografia e ciências. Vol.32, nº 192. Ciência Hoje. Faculdade de Ciências da Saúde, Centro Universitário de Brasília: 2003. P.56-60.

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