O que fazem as crianças quando estão longe do comando dos professores? Esta preocupação levou ao desenvolvimento deste estudo, que teve como objetivo identificar os possíveis efeitos do recreio escolar não supervisionado no comportamento dos alunos de ensino fundamental através da produção científica original que aborda o assunto. Trata-se então de um estudo descritivo, uma revisão sistemática de literatura a partir de uma busca minuciosa da produção científica desenvolvida no Brasil. Após a escolha criteriosa dos 13 materiais bibliográficos a serem utilizados, procedeu-se então a análise a fim de descrever as características dos estudos conforme o objetivo proposto. Com isso foi possível perceber que no recreio ocorre comportamentos que em alguns casos ultrapassa os limites do brincar e acaba originando problemas reais, estes podem ser separados em cinco categorias: Perigos advindos das brincadeiras, Conflitos, Segregação, Depreciação e Romances. Diante da pesquisa realizada, percebe-se que um recreio supervisionado faz com que os momentos das brincadeiras e jogos, tornam-se prazerosos e também é uma maneira de evitar conflitos indesejados entre os alunos.

Introdução

Este estudo querchamar a atenção para o fato de que o recreioescolar faz parte do período educacional da escola. Este momento de folga do professor para com o aluno não pode continuar oculto no contextoescolar. O que fazem as crianças quando estãolonge do comando dos professores? Neste período, a escola é um local seguro e de aprendizagem ou as crianças ficam ‘abandonadas’?

Esta preocupação levou ao desenvolvimento desta pesquisa, que teve como objetivo identificar os possíveis efeitos do recreio escolar não supervisionado no comportamento dos alunos de ensino fundamental através da produção científica original que aborda o assunto.

Os espaços e tempos de recreio das nossas escolasencontram-se, na maior parte dos casos, desvalorizados,umas vezes por negligência, outras porrazões puramente economicistas. As características deste espaço condicionam os acontecimentos, se está com ausência decomando, as crianças brincam com os seus próprios corpos, lutam, correm e perseguem-se; efrequentemente inventam conflitos, mas se existem uma supervisão, as suas relações são mediadas por eles (LOPES; PIRES LOPES; PEREIRA, 2006, p. 272).

Pátio, sol, sirene, gritos, corre-corre, lanche, bebedouro, chutes, segredinhos, empurra-empurra, futebol, conversa, jogo de mãos, filas, crianças sentadas no chão, corda, meninas arrumando os cabelos, basquete, abraços, mãos dadas, boneca, celulares, criança amarrando cadarço, xingamentos, muitas vozes juntas, esconde-esconde, pega-pega e etc. Esse espaço faz parte do cotidiano escolar, entretanto, apesar de todo corre-corre, as crianças precisam também ter garantidas a sua segurança (LOPES, 2006, p. 39).

O recreio ou intervalo das aulas éum momento presente na vida de todoestudante. Desde a educação infantil até a pós-graduação. É definido como o momento, ou a circunstância em que o indivíduo possui escolhasespontâneas, através do qualele satisfaz seus anseios de recreação, percebe-se entãoque a sua raiz nos remete ao termo lazer (NEUENFELD, 2003, p. 37).

Lazer é definido como o tempo que cada um dispensa para si,depois de ter cumprido as normassociais do momento, os seus deveres. É aocasião vital que cada umprocura se defender de tudo o que impedede ocupar-se consigo mesmo. É a liberação de cada um para o descanso ou para a diversão. Por estes e outros motivos, que o recreio é um período tão importante na vida de um aluno (NEUENFELD, 2003, p. 37).

É no intervalo, que as relações são mais livres e espontânease se obtém aprendizagens diferentes, mas tão importantes quantoàs da sala deaula. É neste momento de desenvolvimento esocialização, que são permitidos e/ou são possíveis oscontatos com os colegas e se selecionam os amigos, atividades e jogos (LOPES, 2006, p. 40).O recreio permite o aprofundardo conhecimento, do que as crianças aprenderamsentadas nas carteiras e oferece-lhes a oportunidade dedescobrirem os seus interesses e paixões (LOPES; PIRES LOPES; PEREIRA, 2006, p. 271).

Os benefícios de tal espaço de tempo assumem vários domínios, tais como: o Desenvolvimento social, através da interação com os seus pares; o Desenvolvimento emocional, através da redução da ansiedade, gestão do stress e o desenvolvimento do autocontrole; o Desenvolvimento físico, através da libertação de energia acumulada, dispersão do aborrecimento (através do movimento); e o Desenvolvimento cognitivo, através da manipulação e dos comportamentos exploratórios ocorridos durante os possíveis jogos (LOPES, 2006, p. 41).

Entretanto, este espaçotem sido comumente negligenciado pelos professores, corpo diretivo e poder central. Perante esta situação, é frequente encontrar nas escolas, numerosos recreios despidos de qualquer tipo de atração e com ausência total da supervisão de um adulto.Isso ocorre por que há uma grande resistência dosprofessores que não quer abrir mão dospoucos minutos de intervalo a que tem direito (NEUENFELD, 2003, p. 38).

Desenvolvimento

Trata-se de estudo descritivo, uma revisão sistemática de literatura a partir de uma busca minuciosa e objetiva da produção científica desenvolvida no Brasil a cerca do tema, cujo núcleo de interesse evidencia a importância do recreio dirigido no ambiente escolar. A coleta de dados foi realizada durante o mês de setembro e outubro de 2015, através do portal do Google acadêmico, publicados por meio de revistas de cunho científico.

Para a extração de dados utilizou-se osseguintes descritores: “recreio escolar”, “recreio” e “pátio escolar”. Posteriormente a pesquisa nas bases de dados foi realizada uma seleção acurada, baseada nos seguintes critérios de inclusão: artigos ou teses originais e publicadas em periódicos indexados no portal supracitado, disponibilizados na íntegra, no idioma português, que relatam estudos realizados no Brasil independente da data em que foram produzidos ou publicados,cujo tema central era o comportamento dos alunos do ensino fundamental norecreio escolar não supervisionado. Dentre os estudos excluídos estavam às resenhas, editoriais, artigos repetidos e trabalhos que não se encaixavam nos critérios de inclusão.

A busca inicial a partir dos termos diretamente relacionados à temática resultou em 79 artigos procedentes da busca por Recreio escolar, 389 do descritor Recreio e 27 do Pátio escolar. Todos os descritores foram utilizados na busca por bibliografias, e totalizaram 495 trabalhos, destes 56 foram pré-selecionados para uma leitura exploratória, 201 estavam disponíveis somente em resumo, 198 não se encaixavam no núcleo de interesse desta pesquisa e 40 estavam repetidos.

De posse do material bibliográfico, procedeu-se então a leitura exploratória, analítica e interpretativa dos 56 artigos selecionados, com o objetivo de identificar as informações e os dados constantes nos impressos e estabelecer as relações das informações e os dados obtidos com o problema em questão. A partir disto pode-se filtrar ainda mais as bibliografias necessárias, restando 13 referenciais considerados potencialmente relevantes para esta pesquisa, sendo 06 artigos científicos,01 Tese de Dissertação de Programas de Pós-Graduação e 02 Tese de Graduação em Pedagogia, 03 Teses de Mestrado e 01 Tese de Doutorado.

Os escolhidos foram: (AZEVEDO, 2014; BARROS, 2012; BRITO; OLIVEIRA; CARVALHO, 2006; COSTA DA SILVA, 2012; LINCK 2009; MARTINS, s.d; NEUENFELD, 2003; PEREIRA DA SILVA, 2008; PRATES, 2010; PRODÓCIMO; RECCO, s.d; SANTOS, 2010; VIEIRA, 2011; WURDIG, 2010).

Após a escolha criteriosa do material a ser utilizado, procedeu-se então a análise a fim de descrever as características dos estudos conforme o objetivo proposto. Com isso foi possível perceber que no recreio ocorre comportamentos que em alguns casos ultrapassa os limites do brincar e acaba originando problemas reais.Todos os resultados dos estudos alvos desta pesquisa trouxeram complicações de quando o recreio não é supervisionado pornenhum professor, supervisor ou diretor, estes podem ser separados em cinco categorias: Perigos advindos das brincadeiras, Conflitos, Segregação, Depreciação e Romances.

Em relação à primeira categoria denominada Perigos advindos das brincadeiras, esta envolvem riscos constantes de que por causa das brincadeiras os alunos venham a se machucar por se esbarrarem uns nos outros, na estrutura da escola e nos objetos; e ainda atritos que podem levar a brigas. Estas características foram encontradas em três artigos e uma tese, sendo eles (PEREIRA DA SILVA, 2008; PRATES, 2010; VIEIRA, 2011; WURDIG, 2010). Na última bibliografia é possível perceber os Perigos através de um Trecho de uma observação transcrita.

Correr para fugir, correr para pegar, tocar, agarrar e provocar faz parte dabrincadeira de pega-pega. Ao pegador é permitido provocar e ameaçar osfugitivos, forçando-os a sair do teto. Por conta disso, o pegador geralmente ficamuito perto do teto, fazendo pressão corporal através de palavras e olharesintimidadores, risadas irônicas e até ameaças físicas, como atirar pedras. Essasestratégias nem sempre são aceitas por todos os participantes, principalmentequando os papéis se invertem e o pegador passa a ser o fugitivo. Estes atritos constantes entre os meninos podemlevá-losa alguém se machucar, ao enfrentamento e às brigas (WURDIG, 2010, p. 99).

Pereira da silva (2008, p. 9) evidenciou que as brincadeiras mais comuns da sua pesquisa e igualmente perigosas foram “mão negra”, “buchuda”, “capitão do gelo”, “lutinhas”, “empurrar”, “brincar de bater nas costas”, “tapas”, “socos”,“pontapés”, “murros nas costas”, “mereceu”, “corredor polonês”, “empurra-empurra”, “chutes”, “puxões” e “bolão”. Vieira (2011, p. 7) retratou apenas a agitação e o empurra-empurra e Prates (2010, p. 36) somente a forma de correr que lhe dava a impressão que a qualquer momento iam se esbarrar uns nos outros.

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