Recantos

Se a vida me dissesse que é generosa, eu lhe diria que não é humana. Que é ferrenha na forma de distribuir a destinação dos seus residentes. Determina a multiplicação dos seres para sua tirânica satisfação; destina seres inocentes e indefesos aos recantos mais indesejáveis e lhes impõe limitações; coage-os a margens onde só os roedores se sentem bem. Trata-os como refugo de um produto que passa por uma classificação e o resto é jogado à putrefação. São repugnantes os argumentos de que eles serão exaltados na “reciclagem” da renovação. É sem sentido expor um ser amado ao sofrimento e depois de esfacela-lo se fazer seu salvador. De que precisa ele ser perdoado? Ora, se aos ecos de dor não merece dar ouvidos, que sentido tem o cálice da cruciação? Que utilidade tem o remédio se é dado quando não há mais dor?