O filósofo Nietzsche tem uma frase que pode coadunar com a busca por uma libertação do uso de drogas, que diz: “Quem tem um porque suporta todos os como”. O usuário de drogas é um ser em completo dilema existencial, ele não se vê no mundo, não encontra espaço na sociedade, tudo lhe causa dor, angústia e sofrimento se ver como um ser incompreendido, assim a forma que encontra de encarar esses sentimentos conflitantes dentro de si é a fuga dessa realidade que se mostra em demasia perturbadora, procurando está offline para as demanda e problemas que há em existir. Por mais, que o pós-uso, seja de dor e angústia, a próxima dose resolverá esse desconforto psíquico.

  Tanto a psiquiatria quanto a psicologia por muito se veem ineficazes diante os dilemas interiores de um usuário de drogas, até porque o uso não é o problema embrionário, pode se dizer que é o fim de uma longa estressante e angustiante caminhada de desconforto psicológico e existencial.

  A mente de um usuário de drogas ou como é conhecido um adicto é tão complexo que por muitas vezes nem ele mesmo pode descrever suas atitudes e ações corrosivas, ressaltando que a dicção é uma doença bio-psico-social-espiritual.  O escritor Anthony Robbins em seu livro Desperte seu Gigante Interior acentua que: “O aspecto negativo é o fato de que, independentemente da procedência das referências, começamos a aceitá-las como reais, e assim não mais as questionamos! Isso pode acarretar consequências negativas das mais poderosas, dependendo das convicções que adotamos”.

 O adicto é um ser de temperamento melancólico e mescla a arrogância e o orgulho com o pessimismo e o derrotismo. E suas decisões são em grande parte tomadas pelo o primeiro impulso de sacia seus desejos destrutivos que na grande maioria das vezes é contrária a sua real vontade. Não quero nestas linhas ser um cavaleiro do apocalipse e dizer que não há uma vida após o uso de drogas, bem pelo contrário há sim uma vida pós-uso-de-drogas. Porém, não basta força de vontade, não basta um simples dizer da boca para fora que não vai mais usar essas promessas são clichês e mantra na vida de um adicto.

  O presente trabalho se da após vivenciar e experienciar a alteração que as drogas fazem na mente e no humor de um usuário e como pós-uso ele mesmo se vê como um ser miserável e indigno de qualquer ajuda, acolhimento, carinho e amor. A analise psicossocial proposta aqui vem de encontro com essa realidade que perturba o adicto, essa falsa sensação de liberdade que as drogas causam quando se está sobre efeito e esse estado de miserabilidade quando passa a onda.

 “Da mesma forma, podemos afirmar que o elemento responsável pela grande dificuldade em entendermos os dependentes é o bloqueio afetivo de qual passam a ser portadores. A resposta afetiva é estranha, diferente do comum das pessoas”, relata o psiquiatra Boris Nadvory.

 Com base neste escrito supracitado podemos conjecturar que a deficiência de se entender os afetos dos outros causa um frenesi ou uma euforia dentro do ser que porta a adicção. O uso abusivo de drogas vem acompanhado de diversos fatores psicológicos que por muitas vezes fazem parte de nossa personalidade.

 Orgulho: Segundo o professor Gilmar vieira o orgulho é: A principal característica que leva as pessoas a não conseguir perceber sua própria condição; ele considera naturais suas percepções, ideias e conclusões a respeito de si mesmo. Para um usuário de drogas é sempre difícil ser alertado de que está indo além dos limites e que está destruindo sua vida e a vida dos seus pares.

 Racionalização: Para os autores Braghirolli, Bisi, Rizzon e Nicoletto a racionalização é uma autojustificação de aparência lógica, mais na realidade inverídica. Muito conhecida é a fábula da raposa que, não alcançando as uvas que desejava, se afastou dizendo: “estão verdes, nem cães as podem tragar”. Por muitas vezes o adicto age assim tenta dar justificativas para o seu desajuste psíquico e seu encarceramento no uso de drogas.

 

   Os dois exemplos descritos acima são a ponta do iceberg que envolve o uso de drogas, e por muitas vezes esse abuso do consumo de drogas causa ansiedade que é a resposta natural a circunstâncias cotidiana, que envolve sentimentos de medo, insegurança, dor e expectativas frustradas. Esse medo da realidade, do que a vida tem para lhe oferecer faz com que o adicto, busque uma fuga para o desconhecido que é a onda da droga.

  Entender as bases psicológicas que levam homens de bem, com família, emprego vida estruturadas a se render a sedução das drogas vai além de uma questão biológica, junto desta há uma vertente espiritual que é tão predominante quanto à psicológica.

 O ser humano espiritualmente fragilizado é alvo primevo das tentações e apelos desta falsa liberdade, falso gozo; as drogas vão gradualmente destruindo o ser humano moralmente, pois a mentira o engano o desleixo e o egoísmo passam a se características marcantes de um adicto.

 A destruição na saúde física pode ser devastador causando cansaço, apatia, falta de ar, perde de dentes a ponto de uma overdose ou um derrame, AVC e outras complicações que envolvem a estrutura biológica do ser, isso sem falar das comorbidades com esquizofrenia, psicoses, neuroses, transtorno obsessivo compulsivo, depressão e muitos outros.

 A busca por uma libertação do uso de drogas se dá por uma tomada de decisão aliada a uma junta interdisciplinar como terapeutas, psicólogos, orientação espiritual e a negativa da primeira dose.

 Buscar o foco da tensão o que causa o descompasso emocional que leva a pessoa ao uso de drogas é o ponto de partida para a restauração, expor as dores e conflitos interiores e a melhor forma de romper com o habito de usar.

“O amor é a preocupação ativa pela vida e crescimento daquilo que amamos”, escreve o psicanalista Erich Fromm. O amor é quer vai nortear a tomada de decisão de mudança, a quebra do ciclo vicioso que causa dor e sofrimento. A crise de identidade é fator predominante na estrutura social do adicto ele não se compreende e não compreende a vida como ela é, e por isso, encontra no uso de drogas um auxilio para ser aquilo que ele acredita ser. Todavia, por já ter perdido sua identidade, pois somos aquilo que adoramos e se o adicto sucumbe às drogas ele verá o ser miserável que se torna e essa será em seu consciente sua face.

 A recuperação da identidade se da com a recuperação da sua dignidade pessoal e do reconhecimento de seu valor para si e para os que o ama. Esse é o principio para um ajustamento psicológico e uma vida sem o uso de drogas.