No último quartel do século XIX, a confederação germânica, vivia um momento entre os ideais revolucionários e a disputa pela hegemonia dentro da confederação. Esta disputa era travada pelo império Austríaco e o Reino da Prússia, que logo em 1866 se confrontaram na guerra civil alemã, onde saía vencedora a Prússia, e dando um grande avanço para promover a unificação do estado, mesmo dividindo a confederação germânica em Alemanha do Norte e Estados do Sul, lembrando que o norte era organizado a partir de uma política militar, e o sul era ligados aos ideais democratas.

Mas, em 1871 com o fim da guerra Franco-prussiana, soma-se mais uma vitória do primeiro-ministro prussiano Otto Von Bismarck, que conquista não apenas o território Alsácia-Lorena, mas é quando ocorre a tão esperada e buscada unificação da confederação germânica, e se constitui o "novo estado". Logo toda a Alemanha, repassa ao seu corpo, a grande influência militar bismarckiana.

Naquele momento histórico, a ascensão dos ideais nacionalista-chauvanistas se entrelaçavam com o início do capitalismo, dos avanços da industrialização, da revolução industrial, solidificando o período neocolonial. A Alemanha "Bismarckiana", tem como alicerce um projeto imperial expansionista de desenvolvimento.

Neste momento histórico, Ratzel, aparece como um grande intelectual e explicador dos própositos do líder de sua nação. Conforme MORAES (2005, p.67), "A geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos desígnios expansionistas do Estado Alemão recém-constituído", sendo de grande importância entender a geografia ratzeliana para buscar melhor compreensão do espaço, e se ter uma ferramenta de grande apoio para expansão territórial. A existência de uma sociedade está representada em território, ou seja, para Ratzel a perda de território aponta a decadência de uma sociedade, e para a sociedade progredir, avançar, ela precisaria conquistar novas terras (RATZEL, 1990, p.180), com base nessa idéia, os ideais bismarckianos são justificados pela geografia ratzeliana.

 A Geografia de Ratzel

O momento histórico até aqui descrito e a geografia ratzeliana, estão intimamente interrelacionados. E neste contexto histórico que Friederich Ratzel, elaborou uma geografia funcionista ao território, intimamente ligada às relações de poder, de domínio da terra, retratando a figura do "Estado", em outras palavras quando a sociedade se organiza para defender o seu território se transforma em Estado.

Vale ressaltar que o expansionismo, era o grande modo de pensar/agir dos reinados daquele época, onde a relação com o "a propriedade da terra", servia para auto-reconhecimento imperial. Justificando essas colocações, segundo MORAES (2005. p.70),

Ratzel elabora o conceito de 'espaço vital'; este representaria uma proporção de equilíbrio de uma dada sociedade e os recursos disponiveis para suprir suas necessidades, definindo, portanto, suas potencialidades de progredir e suas premências territoriais.

Ratzel pensava Geografia, a partir das ideias expansionista de sua época, nesse pensamento o conceito de território é fundamentalizado. O geógrafo, Paulo César da Costa Gomes, em seu livro "Geografia e Modernidade" (1996, p.188), fala sobre Ratzel e a relação recíproca do homem com a terra, no seguinte texto:

A análise de Ratzel descrevia vários gêneros de dinâmicas territorais, tentando traçar um quadro geral ou um modelo para essas dinâmicas. Ele se interessava sobretudo pela relação solo/cultura e pensava ser capaz de estabelecer leis regulares explicativas, isto é, seu objetivo final era costituir uma teoria espacial positiva.

É verdade que Ratzeltem como seu objeto principal de estudo "a relação de poder e a terra", em outras palavras a formação do território. Vale ressaltar que Ratzel tem sua formação inicial universitária naturalista, por isso, ele sempre faz em seus estudos a relação do homem com "a terra". É na sua formação inicial acadêmica que Ratzel e suas idéias se integram com as teorias evolucionistas darwinianas, contribuindo para a concepção do determinismo geográfico, um deteminismo com base na relação entre o "ser" e "meio". Segundo GOMES (1996. p.188),

Desta forma, o pensamento de Ratzel teve um papel de mudança paradigmática nas concepções geográficas. Através da idéia de inter-relação e conexão entre o seres vivos e seus meios naturais, Ratzel, influenciado por Haeckel, propõe um perspectiva nova para o determinismo geográfico. Neste caso, a idéia de causa e efeito imediatamente determináveis é substituída por uma determinação produzida ao longo de um processo de evolução e de diferenciação". Para Peet, a geografia científica moderna nascia a partir do "determinismo ambiental".

Não é à toa que Ratzel é conhecido como o "pai do determinismo geográfico" e o "pai da geopolítica". Para MORAES (2005, 71),

Outro desdobramento da proposta de Ratzel manifestou-se na constituição da Geopolítica. Esta corrente, dedicada ao estudo da dominação dos territórios, partiu das colocações ratzelianas, referentes à ação do Estado sobre o espaço. Estes autores desenvolveram teorias e técnicas, que operacionalizavam e legitimavam o imperialismo. Isto é, discorriam sobre as formas de defender, manter e conquistar os territórios.

É no contexto histórico alemão, que o desenvolvimento da ciência geográfica para Ratzel ganha sentido, pois, é na geografia que a formas (e relações) de poder são representadas no espaço, e assim deve ser estudada. Porém não apenas as relações humanas, mas, as relações do homem com e o meio (natureza).

Deve-se sempre lembrar que a principal obra de Ratzel, "Antropogeografia", retratava com grande expressividade a relação do homem com o meio.


Referências Bibliográficas

CHRISTOFOLETTI, Antônio. PERSPECTIVAS DA GEOGRAFIA. São Paulo, Ed. DIFEL, 1982.


GOMES, Paulo Cesar da Costa. GEOGRAFIA E MODERNIDADE. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand Brasil, 1996.


MORAES, Antônio Carlos Robert. GEOGRAFIA - PEQUENA HISTÓRIA CRÍTICA. São Paulo, Ed. HUCITEC, 1983.

MORAES, Antônio Carlos Robert (ORG.) RATZEL – COLEÇÃO GRANDES CIENTISTAS SOCIAIS Nº59, São Paulo, Ed. Ática S/A. 1990.