Raggomitolarsi
Publicado em 04 de junho de 2009 por Romano Dazzi
RAGGOMITOLARSI
Uma das palavras mais feias que já encontrei, mas também uma das mais importantes ao longo da minha vida.
Textualmente, um “gomítolo” é um novelo; uma linha, um barbante, um fio de lã, enrolado em forma de bola. Nada demais.
Partindo do novelo, a lã se desenrola lentamente em trabalhos de tricô e crochê; e você o vê minguar aos poucos, dia após dia , transformando-se numa obra paciente de nós e amarrações, que sua avó, sua mãe ou sua irmã preparam para presentear um neto, um sobrinho, ou o recém nascido de uma amiga.
Partindo do novelo, o fio de algodão ou de fibra é enrolado em pacotes, volumes, embrulhos dando-lhes forma e firmeza, permitindo-nos carregá-los em segurança, de um lado para outro.
Um novelo faz a festa dos gatos; eles adoram encontrar um e se dedicam a ele com paixão; ficam prontos, atentos, movem-se rápida e graciosamente, enquanto brincam , empurram e puxam, pegam e largam, agarram e soltam, treinando sua rapidez, com todos os sentidos despertos e aguçados.
Mas o verbo, ah! O verbo toma um outro caminho; não encontro uma tradução adequada; “enovelar-se” foi a mais próxima, mas ainda assim, muito distante do gosto, do sabor do verbo original.
Para começar, é um verbo reflexivo; não é uma ação realizada sobre um objeto ou sobre alguém; é um movimento em conta própria, feito sobre si mesmo e que depende exclusivamente de quem o faz.
Não posso “enovelar” você; nem você pode “enovelar-nos” - a não ser que estejamos nos enrolando, tapeando, em sentido figurado, abstrato.
Mas “raggomitolarsi” é algo muito especial: pode ser causado pelo frio (o urso polar em letargia); ou pelo medo (a raposa acossada pela matilha); ou pelo cansaço (o coelho ao voltar ofegante à toca); ou pela fome, pela sede, por uma ferida mortal (é, nestes casos, um gesto de submissão, de resignação, de entrega incondicional ao destino).
Pensando bem, enrolar-se sobre si mesmo parece ser, para qualquer
animal, uma tentativa de voltar ao útero, à posição fetal, ao calor, à garantia que o seio materno ofereceu, antes do nascimento.
De qualquer forma, muitas vezes, ao longo da vida senti-me assim, fraco, vulnerável, amedrontado. E não encontrei remédio melhor, mais imediato e eficiente, que “raggomitolar-me”, esperando a tempestade passar.
E você ?