Abra o olho. Veja por um instante o horizonte a sua frente. Pense. Diga qual o seu fim. O que te faz melhor não é a cor da sua pele, o modo de vestir, ser, agir, pensar e ter; nem muito menos a sua condição sexual. Nesse horizonte cheio de incertezas, uma convicção nos assusta e aponta para um caminho sem volta quando conseguimos ver: temos o mesmo destino! E o tempo corre. Enquanto isso, nós o aproveitamos? Ou perdemos tempo nos preocupando com a raça e o gênero de uma pessoa? Se a cor e a condição sexual de alguém lhe incomoda, cuidado, você está entrando num mundo reacionário e fundamentalista.

Recentemente um jovem no município de São José do Mipibu-RN foi encontrado morto executado. Era negro e gay. Ele entra numa estatística que tem fonte e inspiração. Vejo muitas notícias no meio religioso numa espécie de “cura gay”, inclusive com pessoas dizendo-se “pastor” e divulgando que é um “ex-gay”, incentivando, com desculpas apenas pelo seu próprio “testemunho”, porém, sem base bíblica de evangelho (O que justificaria, no meu entendimento, ser evangélico é ler e praticar o evangelho). Fé e religião, para mim, nunca foram as mesmas coisas. A fé abraça, a religião acusa. Não estou aqui criticando crenças, mas sim, atitudes. Somado a esse “medo” e ameaça religiosa, temos a questão política e a influência que ela exerce para o aumento da estatística de homofobia. No portal UOL encontramos facilmente uma informação relevante: "Durante o período eleitoral tivermos diversas denúncias relacionadas à violência LGBTFóbica", afirmou Cardia ao UOL. "Os eleitores do candidato Jair Bolsonaro se sentiram empoderados para 'fazer justiça com as próprias mãos' devido a antigos discursos proferidos pelo ex-deputado federal”. O que há: “(...) 552 mortes por ano, ou uma vítima de homofobia a cada 16 horas no país.”, constata o portal. E agora?

Junto a homofobia, há o racismo. Acontece quando uma raça se acha hierarquicamente superior a outra. Os negros tiveram a sua abolição, mas nas leis daquela época não se via a penalidade para quem fazia distinção de raça. Muitos negros se casavam com brancos, inclusive, para tentar diminuir essa perseguição. A Constituição Federal de 1988, a lei nº 7716, de 5 de janeiro de 1989, tornou o racismo um crime inafiançável. O STF (Supremo Tribunal Federal) colocou também a homofobia como crime de racismo até que a câmara pudesse fazer uma legislação própria. Então, em outras palavras, para quem ainda acha que a sua cor ou gênero seja superior à dos outros, haverá penalidades. Ou não sabem que a Lei é para todos? A lei lembra para sermos iguais. E quando alguém diz, por exemplo, que é um “ex-gay” e que os gays façam o mesmo, a pergunta que fica é: ser gay é doença? Se alguém precisa ser curado, certamente está pressuposto que é de algum mal, não é? E ainda há uma justificativa com a ideia de que os negros foram frutos de uma “maldição”. Lamento. Mas a base de tudo isso são os reacionários e fundamentalistas. E isso, sim, é a doença estúpida hoje.

Por que discriminamos uma pessoa pela sua cor e condição sexual? Uma das respostas é o reacionarismo e o fundamentalismo que existe nas pessoas. Entende-se por reacionário aquele que é adepto a uma “reação” criada sem base, sem fonte, sem lógica, mas sim, separatista e individual; apenas alimentadas por ideologias vagas de um pensamento ilusório, mas que eles tomam como “verdades absolutas” e inquestionáveis. Como você sabe disso? Quando falamos e a pessoa já ri balançando a cabeça de um lado para o outro, sem nem sequer ouvir você. Isso quando não há violência física, pois quando a ideia não funciona, vem a ameaça e a agressão. A ideia vaga, portanto, já está pronta, e assim, a violência comportamental também. E junto a isso tem-se a atitude também do fundamentalista, que põe um fundamento inflexível, intolerante achando-se na “verdade” não abrindo ao debate e a conciliação das ideias, não sabendo ele que vive uma mentira, porque os fatos mostram o contrário. É algo totalmente tóxico para a convivência humana. Somos tão pequenos para ter tantas convicções absolutas e intolerantes, baseados em quê? Talvez na estupidez!

E aos reacionários e fundamentalistas uma coisa eu falo: um negro e um homoafetivo não precisam ser “respeitados” como muitos falam (em teoria); nem muito menos precisam ser “tolerados” para eles terem valor e serem seres humanos iguais. O que eles precisam é ser tratados com IGUALDADE, pois os “iguais” não precisam pedir respeito e serem tolerados diferentemente, uma vez que isso nem deveria existir. Tolera-se porque se acham superiores aos outros, infelizmente; e diz-se que respeitam para agir aparentemente “correto” sem demonstrar afeto em suas atitudes. A isso tudo uma palavra parece surgir: HIPOCRISIA! E isso cria uma capa nos olhos para que naquele horizonte onde somos todos iguais num mesmo destino, alguns caiam do precipício e morram no caminho do afeto, da companhia, do amor e principalmente da solidão da sua razão que nunca existirá quando nos separamos dos nossos iguais, achando que o seu destino é diferente dos outros. Raça não é “maldição” ou status, e homossexualidade não é doença, mas doente é achar-se superior tendo homofobia e racismo. Tolos! Antes que acabe a sua pouca dignidade de viver em coletividade por abraçar duas estupidez inexplicáveis, pense um pouco no horizonte da vida humana: temos o mesmo destino, sem cor, sem gênero e sem diferenças. Nesse caminho, vale o que nós fizemos pelo próximo, assim como por nós mesmos: o amor! E é nesse sentimento que abraçamos crença, raça, pessoas e destino.