Quero ir na sintina!

Eu tinha uma meta: Plantar uma tarefa e meia de caupi. A época era favorável e eu não poderia perdê-la. Nesse tempo só tinha o caseiro para fazer todas as tarefas do sítio. Eu estava em licença prêmio da FCAP/UFRA e me auto sitiei, literalmente. Pois bem. Como eu já tava sabendo das manhas do Marcionilo, preparei tudo para que o trabalho fosse iniciado e terminado no mesmo dia. Uma tarefa e meia não era muita coisa, cerca de 0,45 ha. Em um dia preparamos as leiras e no outro faríamos o semeio. Para evitar imprevistos, exercitei a minha criatividade e construí um semeador e um sulcador, ambos puxados pela força humana. Assim: Na frente ia o Marcionilo com o sulcador (a ponta desgastada de uma enxada velha com cabo) abrindo os sulcos e eu com o semeador (uma velha lata de leite em pó, com um furo feito no centro da superfície lateral do tamanho de um grão de caupi, tendo como eixo, um arame que atravessava a tampa e o fundo preso em um cordão que eu puxava, logo em seguida à passagem do sulcador. Lembrava um de meus brinquedos de infância). Ele indo na frente, não podia fazer manha como parar, que eu tocava, corajosa e decididamente. A área era perto de casa e da casa dele. Não dava uns 50 metros. Mesmo assim, me armei com uma bombona com água pra beber e um caneco, visto que o sol escaldante certamente forçaria a ingestão de líquido, especialmente para o Marcionilo. Começamos cedo o serviço. Quando deu umas 10 horas, o Marcionilo me fala:

– Vou em casa beber água! – Era a senha pra parar o serviço e ir na casa dele…

– Precisa não. Taqui, toma dessa daqui! – Convidei ele, demonstrando eu mesmo, com um gole, que a água era saudável! Ele concordou, tomou um canelo e continuamos o serviço. Mais adiante, de novo. Quis tomar água e já foi logo pegando o caneco e se servindo…

Os instrumentos que tinha inventado, por sua vez, estavam funcionando a contento. E mais do que isso, estavam minimizando a manha do Marcionilo. E continuamos o serviço. Lá por volta das 13 horas, faltavam poucas leiras para semear, quando ele, suado e rosto aflito, falou pra mim:

– Quero ir na sintina! – Putz! Não teve jeito. Pensei em falar pra ele mijar ali mesmo, atrás da moita, mas a cara dele denunciava que era mais do que um líquido xixi. Não tive opção, concordei. Demorou-se cerca de meia hora. Voltou aliviado e só assim terminamos finalmente a missão.