.Como cristão sempre vi a doutrina social da Igreja algo de extrema valia para a proclamação do evangelho, agora como teólogo, cientista social e pesquisador da área dos direitos humanos chego à conclusão que o impacto da obra de Cristo e de seus discípulos tem uma magnitude suplantar da que muitas comunidades evangélicas se propõem a fazer. Dois mil anos após a ascensão de Cristo aos céus muito pouco se foi feito, pelos que se denominam seguidores do mestre em prol dos pobres, dos viciados e dos que estão à margem da sociedade, os doentes no dizer do próprio Jesus. Estamos falhando como cidadãos e principalmente como embaixadores de Cristo Jesus. O amor que foi o logos axiomático do ministério de Jesus perdeu seu real sentido dentro dos arraiais evangélicos, muitos por acomodação outros por ignorância histórica, social, política, cultural e teológica por não compreenderem a principal doutrina bíblica que é a soberania de Deus.

O apóstolo Paulo nos diz: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutável os seus caminhos! Porque quem compreendeu o intento do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois a ele eternamente. Amém”. (Rm. 11.33-36). O rei Davi se referindo à magnitude de Deus escreve: “Tu conheces o meu assentar e o meu levantar: de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar, e conheces todos os meus caminhos”. (Sl.139.2-3).

Com esses textos temos uma pequena partícula do poder de Deus que é construtor e maestro deste universo, ou seja, nada do que se faz aqui na terra foge do querer de Deus. E ele da sabedoria a qualquer um, afim de que os seus servos os examine o retenha o que bom (1 Ts.5.21) e use na proclamação das boas novas.
 Vejo hoje dentro das Igrejas evangélicas, seus líderes  preocupados com uma teologia empreendedora em detrimento de uma teologia social, atentos aos ditames da economia enquanto famílias morrem de fome ao lado de seus mega templos, na minha caminhada observo muitos espíritas (que tem minha total admiração) muito mais preocupados com a real Igreja de Cristo, cumprindo o segundo mandamento deixado por Cristo Jesus que é amar ao próximo como si mesmo (Mt.22.37-40), vemos os Católicos com suas pastorais sociais, as comunidades eclesiásticas de base e principalmente a teologia da libertação, proporcionando dignidade aos renegados sociais, agindo com amor ao próximo, a igreja evangélica precisa estar na vanguarda dos movimentos sociais e não se acovardar atrás de discurso teológico de que somos cidadão dos céus, caminhamos a passos largos para a volta do nosso Senhor Salvador Jesus Cristo e o que nos assegura isto é o próprio Senhor quando Ele disse aos seus discípulos: “E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até o fim será salvo. E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim.” (MT.24.11-14). A volta de Cristo para os que estão fincados na videira é o completo gozo, porém, para os que estão reprimindo sua essência, camuflando sua potência de agir atrás do véu da igreja cristã, a volta de Cristo é angustiante e tenebrosa. Por vivermos em um estado democrático de direito, entendemos que zelar pelos direitos fundamentais da pessoa humana é função do estado, já que pagamos altos impostos e contribuições enquanto cidadão, entretanto, quando o estado não cumprir o seu dever de propiciar políticas de liberdade públicas, cabe a Igreja enquanto instituição norteadora da sociedade assumir o bem-estar social, o professor Sidney Guerra diz que passar fome, dormir ao relento, não conseguir emprego são, por certo, situações ofensivas à dignidade humana. O capitalismo selvagem a qual está inserida nossa sociedade, favorece a desigualdade social e o monopólio econômico da minoria em detrimento da maioria é a mola propulsora da mesma, e é nesta esteira sociocultural e econômica que o cristão necessita exercer o papel de luz e sal para o mundo. Cabe aos herdeiros da promessa, o Israel de Deus, começar, a ser mais humanos, mais complacente, mais amoroso e principalmente mais preocupado com o ser humano em vez de ter prédios luxuosos, carro do ano, uma igreja repleta de ar condicionado, bancos acolchoados, etc. Precisamos como membros do corpo de Cristo assumir a posição de esteio da sociedade e deixarmos de viver o ter para vivermos o ser em sua totalidade e integralidade.

 Termino este artigo com duas frases que sintetizam a mensagem cristã, em especial a labuta do Mestre dos mestres, a saber, Jesus Cristo. “A primeira é do Leonardo Boff que em Jesus Cristo libertador escreve: “O amor vê mais longe e profundamente que o frio raciocínio” e a outra é do educador Paulo Freire em Pedagogia da Autonomia, o professor Freire afirma:” A liberdade amadurece no confronto com outras liberdades, na defesa de seus direitos em face da autoridade dos pais, do professor, do Estado”.