Quem sabe faz a hora?

Da música de Geraldo Vandré é que me vem a afirmação que transformei na pergunta que serve de título a esta reflexão. Em sua música ele nos convida: “vem, vamos embora, que chorar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”. A “hora” a qual o cantor se refere não é hora do relógio, mas o momento exaro de se fazer algo.

Entretanto eu me pergunto e pergunto a você: Quem de nós está satisfeito com os desmandos dos autodenominado representantes do povo, os “malafamados” políticos? Creio que posso responder: ninguém está satisfeito! E poderia continuar perguntando: Será que não está passando da hora de nos manifestarmos, nos posicionarmos e exigirmos mudanças efetivas e radicais? Respondo: já deveríamos ter feito isso há muito tempo!

Então por que é que não fazemos aquilo que sabemos que tem que ser feito? Será que hoje não sabemos da hora? Será que estamos deixando passar o momento de trocarmos não só as coleiras, mas os cachorros também?

Em várias outras oportunidades já nos colocamos nas ruas e exigimos aquilo que queríamos. Quantos de nós participamos do movimento pelas diretas (“Diretas já!”)? Lembramos, e muitos de nós participamos junto com a multidão exigindo “Fora Collor!”. Se recuarmos um pouco mais no tempo, podemos nos recordar da passeata dos 100 mil... E os mais novos foram às ruas pelo afastamento da Dilma...

Quer dizer, história de posicionamentos nós temos. O que, então, está nos faltando para fazermos a hora sem continuar, passivamente, a esperar as coisas acontecerem?

Analisemos os fatos: o que ocupa a vaga de presidente (nego-me a registrar seu nome), segundo os noticiários, está envolvido até o pescoço em mais de um crime político; chamou o exército contra o povo; vem agindo como quem pretende “abafar” as investigações que o poderiam incriminar – incriminar, pois se realmente fosse inocente faria questão em que se investigasse e a investigação evidenciaria sua inocência! Algo semelhante ao exame do “bafômetro”: O condutor embriagado pode se negar a fazer o exame, pois não é obrigado a produzir provas contra si. Entretanto ao se negar a fazer o exame, que pode demonstrar que não está alcoolizado, está como que afirmando ter bebido. Pois se bebeu o aparelho irá registrar a presença de álcool. Mas se está limpo, porque não fazer o exame? A negação é, portanto uma afirmação de culpa.

E se nós fossemos um pouco mais arrojados poderíamos afirmar que tem vários deles querendo parar as investigações! Qual seria o motivo? Claro que nós sabemos o que isso significa!!! Tem gente com a “coisa” presa! E quem tem o “negócio” preso ou tem algo a esconder, é claro que vai fazer tudo para “melar” as investigações.

Mas então, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”? Sabemos que a hora é agora. Sabemos que o país – e os estados e municípios – está enfrentando problemas. E não são os problemas da economia que mais agridem o povo. Aliás se existem problemas econômicos é porque o país perdeu o rumo da política. Então insisto na pergunta: “quem sabe faz a hora”? E se isso é verdade, temos consciência de que esta é uma hora oportuna para promover mudanças, transformações, ou seja: temos consciência de que é hora de fazer faxina...???

Se isso é verdade, então porque as ruas não estão apinhadas de gente cobrando mudanças? Se isso é verdade, então porque houve um turbilhão gritando “fora Dilma” e agora não vemos as multidões gritando e extravasando sua indignação?

Na realidade tenho a impressão que não temos consciência de que não só esta é a hora, mas já passou da hora. Por que digo isso? Porque vejo em nossa postura uma atitude de comodidade. Estamos nos portanto não como sugere Vandré, mas como denuncia Chico: parecemos o Pedro pedreiro “esperando, esperando, esperando”...

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO