Eu ouvi um caso em que uma pessoa precisando conversar com um amigo num restaurante e, durante os quinze minutos em que passou com ele, treze minutos o mesmo passou atendendo ao telefone celular.

Foi quando essa pessoa decidiu sair, alegando que iria ao banheiro e ligou para o amigo, lá do banheiro, para finalmente poderem conversar. Só assim ele deu toda a atenção de que precisava.

A tecnologia mundial está aí para nos servir e ultimamente tem vindo de forma avassaladora, trazendo, a cada dia uma novidade mais surpreendente. O telefone celular vem cada vez mais com incrementados acessórios, mas sua função básica, ainda (acredito!) é a de fazer e receber ligações.

As pessoas se tornaram um escritório, um consultório médico, um terreiro de umbanda e um hiper-mercado, ambulantes. As desculpas para não se separar de seu aparelho celular são as mais convincentes. A minha é de que o alarme da minha casa toca no celular. O engraçado é que todo mundo tendo um aparelho, os contatos, pelo menos de voz, se tornaram quase diários quando, antes, com a mãe da gente, por exemplo, eram até mensais.

Ninguém consegue mais sair sem o seu celular, seja um carroceiro ou um magnata do petróleo. Quem ousa fazer parte desse mundo sem portar um ou até três celulares, é considerado um extra-terrestre ou um dinossauro, digno de um estudo paleontológico mais aprofundado.

Mas onde está escrito que a prioridade de atendimento é da pessoa que vem pelas ondas da telefonia celular e não a que está em carne e osso a nossa frente. Talvez seja a prova mais concreta de que o ser humano valoriza muito mais o ter do que o ser, o material do que o espiritual, a tecnologia do que a amizade, o virtual do que o real.

As pessoas que conheço que conseguem equilibrar um pouco essa situação de terem um intruso tecnológico em seus relacionamentos humanos, ou deixam de atender a ligação, ou no máximo atendem dizendo que tornam a ligar mais tarde.

Parece mais educado, mais humano e mais lógico. Lógico?!

Vai ver que é aí que o ser humano perde a luta da conversa do olho no olho versus ligação de celular: Enquanto ele procura ser sempre lógico e analógico em seus atos e pensamentos, a máquina usa uma tecnologia digital.

Sérgio Lisboa.