É uma eleição muito fragmentada, com vários candidatos a direita, à esquerda e de centro. O candidato da extrema direita a meu ver não se sustenta por muito tempo, mesmo que tenha hoje um razoável nível de aceitação que poderia leva-lo para o segundo turno. Contra ele pesam vários problemas como pouco tempo na televisão, o ataque fulminante que deverá receber de todos os lados e sua própria personalidade aguerrida, falta de compostura, fragilidade do discurso entre outros.

Outro candidato que parece ter provocado algum impacto na tentativa do seu lançamento pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro), o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa tem lá seus problemas que ficarão mais evidentes se de fato sair candidato. Barbosa é uma pessoa que veio da base da pirâmide social, mas é arrogante demais para se tornar um político popular. Ninguém vai esquecer o tratamento que ele deu a um pobre jornalista ao lhe fazer uma pergunta. Além disso, é excessivamente moralista e tem pouco ou nenhum jogo de cintura. Como defendeu que o Lula deveria ser solto,  ele  ganhou a ira da direita e não vai conquistar os votos da esquerda que não vai esquecer as condenações dele no Mensalão.

O centro tem um Alckmin que parece andar para trás ao invés de avançar depois que renunciou ao governo paulista. Sua aceitação em seu próprio estado é baixa para tentar conquistar votos em outras searas. O longo tempo no governo paulista desgastou sua imagem, principalmente com a recessão econômica que reduziu os investimentos em obras e obrigou o corte de gastos. Para complicar ainda mais sua situação, existe a denúncia de recebimento de caixa dois para sua última campanha. Todos os políticos, sem exceção, receberam caixa dois, mas depois da Lava-Jato isso desgasta qualquer um. Para completar a triste situação do médico anestesista, especializado em evitar dores, ainda tem o fator Aécio Neves, ex-presidente do seu partido.

O centro ainda aparece com o candidato Henrique Meirelles, cuja presença nas pesquisas corresponde a um pequeno traço. Tem ficha limpa, tem recursos para bancar uma campanha, mas está ligado umbilicalmente a um presidente com a pior avaliação da história da república. Talvez ele aceite ser o vice do Geraldo, mas não há indícios de que isso agregue alguma coisa para minguem,  muito menos ainda para ele.

O cearense nascido em São Paulo, Ciro Gomes, tenta se posicionar à esquerda e ser o único herdeiro dos votos de Lula, mas não parece convencer todos os eleitores do PT e dos seus partidos satélites. Suas declarações são intempestivas e a última prometendo revogar a reforma trabalhista indicam que pode gerar insegurança jurídica durante seu eventual governo. Para a esquerda seu discurso é nacionalista liberal.

Resta saber se o candidato que poderá ser escolhido pelo Lula para sucedê-lo a partir de agosto, quando o TSE poderá invalidar sua candidatura, herdará seus votos de forma integral. Tudo é possível acontecer neste cenário. Fernando Haddad, que parece ser o “poste” da vez tem algumas credenciais que podem favorecê-lo. Mesmo não tendo conseguido se reeleger como prefeito em São Paulo, não colou nele a pecha de corrupto. Professor universitário e ex- ministro da educação pode, também, atrair votos do centro se manter um discurso moderado e controlar o radicalismo partidário.  Considerando o marasmo em que o cenário eleitoral se apresenta ele pode se tornar uma surpresa. Mas a última denúncia de que utilizou recursos de caixa dois na sua campanha à prefeitura, pode se tornar um problema para sua candidatura.

Com relação aos demais candidatos sugerem mais a tentativa de fixação das presenças partidárias para negociações para participação em futuro governo do que nomes realmente competitivos. Enfim, como a Ciência Política é considerada por seus inimigos como uma falsa ciência, todas as previsões dependem de uma conversa com “os russos” como diria o craque Garrincha depois da preleção do técnico sobre como jogar uma partida na copa de 58. Os “russos” evidentemente seria o povo.