Por Jorge Ribeiro

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INTRODUÇÃO:

Seria o iluminismo uma nova época para as pessoas? A deusa razão eliminaria toda superstição e traria um tempo de equilíbrio comandada pelas forças controladas? Quando em 1784 Kant perguntou Was ist Aufklärung? , será que ele queria dizer o que está ocorrendo agora? O que está acontecendo conosco? O que é este mundo, este período, esse preciso momento no qual estamos vivendo? Em outras palavras, o que somos nós? Como parte do Iluminismo? (Foucalt).

O que é então esse evento chamado Aufklärung e que determinou, pelo menos em parte, o que nós somos, o que nós pensamos e o que nós fazemos hoje? (...) A filosofia moderna é a filosofia que tem tentado responder a questão tão imprudentemente erguida dois séculos atrás: Was ist Aufklärung? (Robinow)  

         Com toda essa problematização da questão: “O que é o Iluminismo?”, Foucault parte de três enfoques como sustentação para a reflexão que o próprio Kant levantou anos atrás: I) a dignidade filosófica da investigação acerca a natureza do presente; II) o modo pelo qual é tematizada a liberdade dentro do projeto genealógico, vinculada a um certo ethos; III) a identificação de uma tradição na qual o filósofo francês julgou oportuno escrever o seu trabalho, isto é, características centrais da modernidade que Foucault usa para tentar responder a questão: “O que é o Iluminismo?”.

Somos filhos da modernidade, a nossa história é a história da modernidade. Isto é, o que está acontecendo de novo na própria história enquanto transitoriedade temporal e humana é o fenômeno da modernidade.

         Foucault vê a modernidade por dois viés, por um lado, feito processo em curso vivido e observado por Kant e seus contemporâneos no século XVIII; do outro lado, como tarefa e obrigação. Por conseguinte, pode se entender a modernidade de forma diferente como era costumeiramente aceita na realidade européia até então e de fato toda a realidade, burguesa ou tupiniquim, respira o ar da modernidade, ou, da pós-modernidade.

 

  1. A CAUSA MAIS PROFUNDA DA CRISE DA SOCIEDADE MODERNA E PÓS-MODERNA:

         A grande sede de conquista e de domínio, priorizando exageradamente o material, assim como as mudanças de ritmo baste acelerado. Deslocamento do indivíduo de seu habitat seguro, jogando-o numa situação fragmentária. A rejeição de tudo que tivesse sabor de antigo ou religioso, dissociação entre fé e razão, e, portanto, a dogmatização da razão, “o que é racional é real” (Hegel). Tendência de reduzir o indivíduo em partes: de sujeito para ator, portanto, personagem; tem valor o que é útil, o mercado mede o valor da pessoa; o horizonte se limita no necessário, sufoca-se a abertura, o desejo, a possibilidade; a moral é reduzida a normas que garantam o bom funcionamento do “estado”; a pessoa tem apreço por aquilo que tem, não pelo que é; o subjetivismo e o relativismo como formas de chegar à verdade. É a crise da razão que pretende controlar, submeter e conduzir o homem, reduzindo-o a mero joguete, e que quer dá conta de toda a realidade. A racionalidade existe objetivamente e absolutamente, e nada do que é real é privo de necessidade racional.

 

  1. AS CONSEQUÊNCIAS MAIS DANOSAS PARA A SOCIEDADE:

O povo ficou privado de sua referência histórica e cultural, restando ao poder das “ordens” , caindo num vazio generalizado até chegar ao vazio existencial, onde o sujeito é dividido, fragmentado, arrancado de sua totalidade, daí nasce o desespero, a falta de sentido e de significado, por isso muitos desfazem-se num aniquilamento e na morte. Sem referências ao passado, e tudo que uma história pode contribuir na construção do “ser”, o sujeito vê-se ‘obrigado’ a ficar com a banalidade e a vulgaridade oferecidas como “modelo”. O preconceito ao religioso corta a possibilidade de transcendência à pessoa, reduzindo seus ideais profundos ao mero “horizontalismo”, vendo reduzida suas chances de “ realização”, o indivíduo cai na ambição, na competitivismo e literalmente “é lobo do outro”, é selvagem mesmo, mesmo porque não tem mais onde e como ser feliz. Não luta por melhora, daí a mediocridade, o “nonsense”, a guerra, a violência, mas “quem tem porque viver sabe suportar todo e qualquer como” (Vitor Frakl).  A ambição da modernidade gerou uma “des-razão”,  onde se busca o “repouso” ali onde não pode encontrá-lo.

         Foucault vê a modernidade por dois viés, por um lado, feito processo em curso vivido e observado por Kant e seus contemporâneos no século XVIII; do outro lado, e é este o aspecto priorizado, como tarefa e obrigação. Por conseguinte, pode se entender a modernidade de forma diferente como era costumeiramente aceita na realidade européia até então.

 

  1. OS DESAFIOS PARA A NOSSA EVANGELIZAÇÃO:

Antes de tudo a reconciliação entre razão com o senso religioso, a abertura ao Absoluto que existe dentro de cada ser humano, e assim responder às suas exigências mais profundas. Resgatar a categoria da possibilidade como transcendência do ser ao ter. Colocar a “fé como fundamento do estado” (Weber), ou seja, mostrar que o cidadão não se reduz na observância de normas, mas deve dispor de si para fomentar o bem comum.  Não ver o homem como ser genérico (Hokheimer), cumpridor de protocolos, mas um “eu” que se abre a um “Tu” Absoluto, dialogal, que não nega a autonomia da consciência, mas a dirige para sua plena realização. Em fim, mostrar alguém que seja capaz de saciar e de exaurir a sede de significado que borbulha no profundo  de cada pessoa. O homem hodierno está esclerosado, cansado de ideologias e discursos,  necessita de “alguém” que ande a sua frente, indicando os passos, abrindo clareiras, testemunhando a sua experiência de significado. O desafio condutor é ser presença do Deus Infinito para o finito homem, é apresentar o evento Jesus Cristo como a Resposta concreta ao afã de felicidade que está no seu mais íntimo e que precisa ser saciado.

 

CONCLUSÃO:

         Se podermos compreender a modernidade como relacionamento, atitude com o tempo presente, necessariamente tudo isto tem um contexto que vem desde os tempos remotos até  nossos dias como mudança e transformação da realidade. Assim sendo, “a modernidade, seja qual for a época de que date, é sempre inseparável do enfraquecimento da crença e da descoberta do pouco de realidade  da realidade, associada à invenção de outras realidades” (Lyotard).

         A modernidade se define por um determinado conjunto de características que marcaram uma forma particular de agir e de se relacionar com o tempo presente, isto é, a modernidade é atual, são realidades vividas e experimentadas na história por grupos e indivíduos em um determinado momento da atualidade. Resta-nos saber integrar essas experiências de modernidade com a experiência de libertação proposta por Jesus Cristo e buscar um sincero diálogo. Caminhar seguindo as pegadas daqueles que viveram intensamente, porque viveram apaixonados pelo significado de ser e experimentaram a Presença do Infinito em suas vidas, é ainda a garantia de que poderemos “aferrar” o Absoluto.

        

BIBLIOGRAFIA:

1 . FOUCAULT, Michel, Was ist Aufklärung?, in: Eva Erdmann u. a. (Hrsg.), Ethos der Moderne. Foucaults Kritik der Aufklärung, Frankfurt/Main u. a. 1990. S. 35–54

2 . FOUCAULT, Michel,  Qu’est-ce que les Lumières? in: ders. Dits et Ecrits 1954–1988. Band 4: 1980–1988. Herausgegeben von Daniel Defert und François Ewald. Gallimard, Paris 1994 S. 679–688

3 . MAIA, Antônio Cavalcante, “A questão da Aufklarung: mise  au point de uma trajetória”, in <<Portocarrero, V e Castelo Branco (Orgs.), ‘Retratos de Foucault’>>, RJ, NAU, 2000, pp. 264-295.