Quase peixes.

A água, em dois de seus principais estados encontrados na natureza, influencia e caracteriza fortemente os diversos ecossistemas da Amazônia. A começar pelo clima da região, denominado que é de pluvial, quente e úmido. No estado líquido aparece como pluviosidade e no gasoso como umidade.

                Estima-se que a pluviosidade – quantidade de chuva caída em determinado lugar e em determinado tempo – está em torno de 2.200 milímetros de chuva, em média, por ano. Se pudéssemos guardar todas essa água das chuvas caídas em um metro quadrado de terra, em um ano – para isso acontecer a água não poderia evaporar; as plantas, os animais e o homem não a utilizariam em seus metabolismos e atividades vitais; não vazaria para os igarapés e rios e não se infiltraria para as camadas profundas  do solo – teríamos uma coluna de 2,20 metros de altura, ocupando os mais de 5 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia! Na impossibilidade de satisfazer estas condições teóricas, mesmo assim, essa enormidade faz existir na Amazônia a maior bacia hidrográfica do mundo, representando 15% de toda a água doce na forma líquida do planeta!

                A água gasosa, chamada de umidade relativa, presente na atmosfera da Amazônia, é em média de 80%. Isto tudo, favorecido pelas sempre ou quase sempre elevadas temperaturas, permite a existência de uma grande quantidade de fungos e bactérias, que encontram aqui, condições propícias para se reproduzirem, crescerem e se multipicarem.

                Vivendo neste ambiente, o homem branco, ao contrário do índio, muitas vezes demonstra ainda estar pouco adaptado à esta condição de domínio absoluto da água. Embora o belenense, por exemplo, cultive ou cultivava a apologia da chuva da tarde, como marcadora de encontros e despertadora de muitos eventos, até hoje não desenvolveu hábitos, costumes e estratégias que demonstrem o seu reconhecimento da importância da água no seu dia-a-dia. Suas casas na maioria das vezes, não apresentam como deveriam ter, vastos beirais; os abrigos das paradas de ônibus, pouco ou nada protegem das chuvas e do sol inclemente; é raro as pessoas terem o costume do uso do guarda-chuva ou da capa; quando começa a chover, presenciamos cenas de correria das pessoas pegas de surpresa, tentando encontrar algum abrigo; muitas vezes atividades são adiadas ou prejudicadas, pelo simples fato de terem sido programadas desconsiderando o período do dia e a época do ano que iriam se realizar.

                Sonha-se em ter um carro, porém, pouquíssimos pensam em pilotar um pequeno barco ou uma moto aquática por entre os vastos rios e igarapés que nos rodeiam. Demos às costas para os rios e para as baías, mas reclamamos de mais estradas e pela conservação das existentes.

                Vivemos em um “continente-água”, somos quase peixes, mas a água nos é cara e, pior ainda, considerada como um líquido precioso...