Quanto vale um corrupto?

A pergunta que não quer calar é: Quanto vale um corrupto? Espécie em extinção, o corrupto é um animal de altíssimo valor. Não está à venda lojas de animais.

Nem IBAMA, nem Greenpeace, nem WWF, nem nenhuma outra ONG ou instituição pública ou privada, dispõe de um espécime, para vender. Os que existem nessas e noutras organizações ou instituições não estão à venda. É de uso particular... e são muito valorizados em virtude daquilo que produzem...

Nos partidos políticos existem vários, mas devido ao seu alto valor, não estão à venda, pois além de seu valor pessoal, são altamente lucrativos. No executivo existem inúmeros, muito bem escondidos, mas nem prefeito, nem governador nem presidente da república quer ficar sem ele, caso contrário as finanças ficariam abaladas. No legislativo existem vários, mas são muito valiosos para serem colocados à venda e são usados para muitas finalidades, altamente lucrativas. No judiciário são usados para construir prédios, para vender sentenças, para vender liminares, que muitas vezes são caçadas por outros da mesma espécie...

Mesmo na iniciativa privada esse animal existe. Algumas empresas não existiriam sem eles. Já se criaram muitos nas empresas que prestam serviços ou produzem obras públicas. Atualmente se espalharam por outras empresas sendo bastante encontrados em empresas prestadoras de serviço ou de publicidade.

É um animal de alto valor. Mas seu valor não se origina de sua apresentação física; mesmo porque seu aspecto físico não importa por isso não importa se é gordo ou magro. Não importa se é feio ou bonito. Não importa se é novo ou velho – muito embora os mais velhos possuam mais experiência de trabalho e por isso possuem um valor maior. Ou seja, seu aspecto físico praticamente não conta (aliás ele nem deve ser conhecido! Caso se torne conhecido perde o valor: começa a dar prejuízo!). Seu valor se deve ao seu poder de gerar riqueza. Aqueles que produzem mais riqueza são mais valiosos. Já os que só servem para fazer contato têm pouco valor.

Mas, como disse, estão em extinção e, por esse motivo, estão mais valorizados que antes. Seu valor, entretanto, não se expressa em reais, por ser nacional. Nem em dólar, por ser verde. Nem em euro, por valer mais. Seu valor se deve ao seu poder de gerar mais...

É verdade que alguns andaram sendo caçados. Mas não foi por isso que entraram na lista de extinção.

Também é verdade que encontraram pegadas de alguns nalguns diários, em notas fiscais incineradas. Da mesma forma que haviam sido localizadas suas pegadas em restos de campanha em épocas de caça-marajá. Mas aquele que viu sua pegada morreu... depois de quase oito anos de governo foram vistas algumas pegadas de alguns, numas tais ilhas paradisíacas... mas não foram localizados, efetivamente. Parece que os que os procuravam caíram em suas garras ao preço de algumas malas... e os valores nunca foram localizados, nem se fez muita questão de encontrar; também não se fez muita CPI para isso...

O fato é que hoje entraram na lista de extinção. De um lado pela periculosidade de seu trabalho. Contaminaram-lhes as cuecas e as malas e as contas bancárias. Sofreram a ação de grampos, filmadoras, “cepeis”, secretárias. Alguns, é verdade, se preveniram. Tomaram uma vacina chamada de “habeas corpus preventivo”. Mas isso só serviu para evidenciar sua culpa. Desculpe, corrijo-me, serviu para evidenciar que os pobrezinhos estão contaminados. Se não estivessem “conta-minados” não precisariam dos tais “habeas” preventivos. Dariam os depoimentos e sairiam de cabeça erguida...

Por outro lado entraram em fase de extinção por um quê de moralidade e de cidadania e de indignação e de decepção e de esperança e de desespero e de vergonha e de mais uma porção de coisas que anda passando pela cabeça da virtuosa população brasileira.

E a população acabou descobrindo o real valor desse animal em extinção. A população descobriu que esse animal, como já disse acima, vale muito. E, talvez, para evitar maiores prejuízos, a população está pensando em domesticá-los.

Veja como esses espécimes são valiosos. Cada um deles: Vale a honra. Vale a cidadania. Vale a nacionalidade. Vale a fidelidade partidária. Vale o tamanho da fila no falido hospital público. Vale a vida dos que morrem nas filas sem serem atendidos. Vale a bala perdida nas grandes cidades. Vale o desemprego. Vale o baixo salário mínimo. Vale a dignidade. Vale a falência de um país. Vale a morte de um sonho. Vale a falência das chamadas instituições democráticas (poder-se-ia dizer autoritárias, fascistas ou nazistas: as instituições falem com sua presença). Vale o descrédito quanto as utopias. Vale o descrédito do capitalismo. Vale a educação pública abandonada. Vale a morte da segurança pública. Vale cada um dos buracos nas vias públicas (ruas e estradas por esse Brasil a fora). Vale cada acidente rodoviário por falta de sinalização. Vale a falta de vaga nas universidades. Vale a falta de professores. Vale a falta de verba para a pesquisa. Vale. Vale. Ou isso não vale?

Por esses e por outros valores é que a população, que não é esse animalzinho valioso, resolveu domesticá-lo. A população brasileira vai tomar nas mãos seu destino e dizer não à “arquia” e começa a pensar na anarquia para não elegê-los, pois não adianta trocá-los de quatro-em-quatro anos. A população não quer mais ser passada para trás com discursos demagógicos, populistas, racionais.... A população brasileira não quer mais esse animal solto.

E, apesar de toda maldade humana, apesar de o ser humano preferir o isolamento, precisa criar condições de vida social e sociável que se paute na confiança. Mas para recriar isso precisa domesticar o bicho.

E ao domesticá-lo ele se extinguirá, pois as relações serão, a partir de então, solidárias; sem presença de corrupto, de qualquer natureza, de qualquer instituição. E, então, sem sua presença nas instituições que só sabem alimentá-lo, ele se extinguirá por falta da alimentação que deixará de verter dos cofres públicos.

E a população, viverá feliz... até surgir outro problema!

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador.

Rolim de Moura – RO.