A paixão e o amor fazem parte da vida humana.
Alguém que atinge a pré-adolescência já é capaz de perceber isso na prática.
Não importa se alguns se apaixonam mais que outros; ou se alguns amam mais que outros,
Não importa se alguns demonstram mais os sentimentos que outros.
Atingindo certa altura da vida, as garras da paixão, ou os laços do amor irão lhe alcançar.
Resistir é perca de tempo.
Mas uma certa pessoa, passando por amores e paixões, viu-se em uma encruzilhada:
Por um lado, seguir vivendo de acordo com sua essência, de alguém que ao se apaixonar, ou ao amar alguém, demonstrava esse sentimento de diversas maneiras.
Por outro, mudar o que até então tinha sido, deixar de ser um apaixonado, um romântico, alguém fiel aos seus sentimentos; e passar a ser um cafajeste... um canalha.
O canalha é o vampiro do amor. Suga todo o sentimento possível de outra pessoa, até o ponto de larga-la por aí, tornado ela uma pessoa iludida, dependente, carente.
O canalha, o cafajeste se apropria dos sentimentos da outra pessoa, os manipula ao seu bel prazer, faz da pessoa um objeto em suas mãos.
O que importa é a satisfação dos desejos do canalha, não a satisfação dos desejos da pessoa.
Ele, então, decidiu mudar, decidiu arriscar. Lançou-se na escuridão do mundo da canalhice, e foi atrás das primeiras vítimas.
Abandonar o que se é, ou ao menos mascarar temporariamente não é fácil. Exige preparo, disciplina, esforço.
Nosso moço foi a alguns lugares, alterou um pouco a aparência, mudou um pouco a postura, o caminhar, o jeito de falar.
Começou a utilizar o seu conhecimento para impressionar as moças ao seu redor.
Deu certo.
Uma, duas, três moças ao seu redor em uma só noite. Sem apego sentimental, sem musas inspiradoras, apenas alvos para o abate do cafajeste.
O mundo desse rapaz passou a ter uma companhia íntima: a ilusão.
Não mais dele em relação a alguém, mas sim das moças que passaram a ter interesse nele, sendo alvos das palavras e atitudes do nosso rapaz, que mascaravam suas reais intenções para com elas.
Porém, mesmo obtendo certo êxito na sua mudança de romântico para canalha, seu interior pulsava. Seu lado romântico desejava aparecer, ser expresso em palavras, em textos, em canções.
A vontade de fidelizar o sentimento a uma só pessoa, fazendo dela alguém com status diferente de todas as moças do mundo, pulsava no seu interior.
Tarefa difícil nosso rapaz teve de controlar isso.
Mas o canalha não é um ser imune às garras da paixão ou aos laços do amor.
Ao se deparar com alguém tão canalha quanto,
Ou com alguém que faça o coração da pessoa bater mais forte; mais rápido, o preparo, a dedicação em ser um vampiro do amor, pode ir para as cucuias.
E foi o que aconteceu com nosso camarada.
Seu tempo de cafajeste parecia começar a terminar, ao se encontrar com uma certa dama.
Cabelos esvoaçando com o vento
Olhar misterioso
Modo de se portar elegante
Ele ficou atônito.
Olhar para ela parecia algo difícil
Pois na fitada dos seus olhos à sua pessoa
Uma vontade enorme de abrir um sorriso
De chegar junto a ela como alguém normal era grande.
Mas ele não podia fazer isso, ao menos não mais.
Ele era alguém que brincava com os sentimentos das pessoas.
Não poderia mais ser presa do romance sincero e genuíno.
O que ele faria a partir de então?
Suas saídas não estavam mais dando certo.
Algumas moças o circundavam, mantinham contato.
Eram presas fáceis à sua manipulação.
Mas ele não conseguia mais repetir o desempenho de outrora.
Cada vez que uma moça se aproximava dele
Apenas uma aprecia na sua mente,
E era ela.
O que fazer com esse retumbante desejo de se achegar a ela?
Ou ele largava toda sua tentativa de se tornar um brincante de sentimentos alheios
Ou ele teria de lutar consigo mesmo, beijando, acariciando, tocando diversas peles e lábios, porém não podendo tocar o íntimo de nenhuma delas, já que a única que seu corpo tanto desejava, não estava lá.
Não dava para ser um cafajeste, um canalha com a sua musa
Seu corpo não permitia.
A vontade era logo deixar todas as moças possuídas para trás, e buscar lutar, batalhar pelo amor dela, da sua musa.
Não se podia brincar com os sentimentos dela, pois a sua vida era praticamente a vida dele.
Brincar com os sentimentos dela, seria ferir os sentimentos dele.
Nosso rapaz percebeu como é duro tentar ser um canalha, ainda mais quando se é romântico por natureza.
Toda canalhice sucumbe ao se deparar com alguém que faça despertar a paixão, o amor em alguém.
A paixão é violenta, e o amor é duradouro. Ambos podem levar alguém que brinca com os sentimentos de outras pessoas, a virar alguém dócil e manso, associando os termos gostar e querer a uma só pessoa.
Ele se deu mal, falhou em sua missão. Pois ao tentar se aproveitar da liberdade de conquistar a muitas, foi preso, conquistado pelos braços, pela voz, pelo olhar de uma só pessoa.