Quando um Homem Chora

Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo | 24/01/2011 | Saúde

Quando um Homem Chora

O título da reflexão presta-se, perfeitamente, a uma pergunta que se pode colocar a qualquer pessoa. Analisada a epígrafe, sem mais pontuação, pode conduzir a várias interpretações, algumas das quais a que se pretende ligar a uma fraqueza do género masculino, segundo a qual: "Chorar é próprio das mulheres". Várias são as circunstâncias que, tal como na mulher, também levam um homem a chorar.
Se se der por adquirido, que as mulheres choram mais facilmente do que os homens, significaria isso que elas são mais sensíveis, mais sentimentais e mais vulneráveis? Neste caso as mulheres quando choram, constituem a regra e os homens a excepção?
É verdade que se ouvem muitos homens a dizer que não choram, que por isso mesmo são fortes, que não são piegas, que não se comovem facilmente. Será que tais homens não têm sentimentos, (se bem que o não chorar não significa, necessariamente, falta de sentimentos), mesmo em situações-limite ou é apenas uma "capa" de pseudo-virilidade?
Pensa-se que, cada vez menos, o homem não deve ser excepção, mas, pelo contrário, integrando a regra. De resto, aceito sem quaisquer complexos que chorar pode significar um forte sinal de emoção, de sensibilidade, de alegria, de tristeza, em circunstâncias bem definidas.
Naturalmente que pelo facto de um homem chorar, perante uma determinada situação da sua vida, ou em face de grandes acontecimentos e outro não ter igual comportamento, isso não significará que um tem sentimentos e o outro é insensível. Cada pessoa reage de forma diferente a acontecimentos idênticos.
A sociedade preconceituosa ainda ridiculariza o homem que chora, pelo menos quando não conhece os motivos que o levam a chorar (praticamente, exceptuam-se aqui a morte de um ente querido, a doença grave de um familiar ou de uma amigo, a perda de emprego e mais algumas situações), mas o homem também tem sido culpado no alimentar tal preconceito, na medida em que ele foge à exposição pública do choro e, quantas vezes, chora às escondidas, em privado, porque tal comportamento lhe tem sido incutido por uma cultura machista, ou seja, "um homem que chora, é fraco"
A inexistência de estudos científicos sobre a fundamentação que explica as razões do homem chorar, para além das abordagens empíricas, deixa margem para diversas interpretações, umas favoráveis, no sentido de que ao homem se reconhece iguais razões para chorar, tal como à mulher; outras que apontam a mulher como mais vulnerável ao choro, desde logo pelo sua constituição maternal.
A dimensão sentimental na mulher e no homem não pode ser quantificável em função do género, de maior ou menor sensibilidade, respectivamente. Mulher e homem fazem parte de um todo que se conjuga em plenitude, que ambos sofrem e se alegram nas diversas situações da vida, aliás: "Ante as lágrimas de um homem, toda e qualquer mulher é mãe, aninhando no seu ventre aquele que, ao chorar, transforma-se em doce e indefeso menino" (Autor Desconhecido)
Considero que chorar é uma reacção muito sentida, algo que nos atormenta ou nos alegra. Em qualquer das situações, é a expressão máxima de sentimentos, que ultrapassam, quase sempre, a racionalidade de uma sociedade preconceituosa, egoísta e materialista. Aceito a máxima, segundo a qual: "Razão sem sentimento poderá ser fria; sentimento sem razão, é cego."
Quem ridiculariza um homem que chora, pode revelar desde logo ser uma pessoa insensível, auto-convencida de possuir valores exclusivos do seu próprio género (feminino ou masculino) e não universais, demonstrará ser uma pessoa incapaz de compreender situações e problemas alheios, uma pessoa que, pretensiosamente, deseja enquadrar-se num determinado grupo que eu diria "pseudo-estóico" A família, a comunidade e o mundo, poderão dispensar pessoas com tais características.
O homem que chora, que vive sentimentos próprios e sente no espírito a dor, as emoções alheias, os problemas, que reconhece a sua incapacidade, momentânea, para os resolver, ou que depois de resolvidos se emociona e chora, demonstra que está no caminho certo, porque: "o pranto de um homem revela que a emoção, implacável, rompe as comportas do machismo e desce então em incontroláveis correrias."
Ao longo da vida e com o decorrer desta, naquela idade mais experiente, mais prudente, e mais sábia, as emoções são mais fortes, porque olhando-se para trás, verifica-se que muitas situações ficaram por resolver ou foram mal resolvidas e, perspectivando-se o futuro, conclui-se que o tempo disponível será cada vez menos.
A angústia aperta, a emoção como que nos sufoca e o choro é inevitável. Na verdade: "só um homem verdadeiro poderá mostrar suas emoções. Não vejo nada de errado quando um homem chorar. Ele está mostrando seus sentimentos interiores."
Os caminhos da vida levam muitas vezes a situações verdadeiramente incontroláveis, onde as mais diversas e inacreditáveis situações surgem, sem que, num determinado período de tempo e espaço definido, seja possível encontrar uma solução. Aqui, os alegados "amigos" não comparecem, mas os verdadeiros, aqueles que sentem por nós um sincero "Amor-de-Amigo" são os que, realmente, nos ajudam, com o que têm e o que não têm. Com estes amigos, sejam homens ou mulheres, então: "Se o homem chorar perante um amigo, o momento é solene e é segredo. Só os verdadeiros amigos podem contemplar as lágrimas de um homem." (Salomé, 18/07/2007)
Se é certo que chorar faz bem, enquanto alívio para as mágoas, não é menos verdade que o homem, enquanto pessoa, dotada de sentimentos, igualmente e tal como na mulher se entristece, sente bem fundo na sua consciência, alma ou espírito, as palavras, atitudes e os comportamentos que lhe são dirigidos e, tanto mais magoam quanto maior é a amizade de quem as provoca.
É verdade que em muitas circunstâncias o homem não chorará em público, uma vezes por vergonha, outras porque consegue reprimir o choro, todavia, quando a tristeza é bem profunda, quando a dor é muito intensa, ele acaba por manifestar essa dimensão tão nobre quanto outra igualmente sublime.
"Um homem que pode chorar, é um homem que não tem medo de saber o que sente. Um homem que pode chorar é um homem que pode se atrever a mostrar o que sente. Um homem que pode chorar sabe que os sentimentos vêm em tez mais clara e escura. Um homem que pode chorar é um homem que reconhece a sua própria vulnerabilidade."
O homem não é mais forte nem mais fraco do que a mulher, apenas poderá reagir de forma diferente, seja em circunstâncias iguais ou diversas. Considero muito digno que o homem chore quando não consegue reprimir certos sentimentos e os revela através do choro e muito lindo quando nesta convulsão é assistido, consolado e fortalecido por uma mulher: seja esposa, amiga, colega. O contrário é igualmente maravilhoso.
Portanto, quando um homem chora, ele está a revelar sentimentos bem profundos, sejam de amor, de ódio, de preocupações que ainda não conseguiu superar, de impotência para resolver certos problemas, mas que na verdade não constituem qualquer vergonha, bem pelo contrário.

Bibliografia

BÁRTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2002). "Silvestre Pinheiro Ferreira: Paladino dos Direitos Humanos no Espaço Luso-Brasileiro" Dissertação de Mestrado, Braga: Universidade do Minho, Lisboa: Biblioteca Nacional, CDU: 1Ferreira, Silvestre Pinheiro (043), 342.7 (043). (Publicada em artigos, 2008, www.caminha2000.com in "Jornal Digital "Caminha2000 ? link Tribuna"); (Exemplares nas: Universidade do Minho, ISPGaya; Bibliotecas Municipal do Porto e de Caminha; Brasil ? Campinas SP: UNICAMP, PUC, METROCAM, UNIP; PUC, Municipal Prefeitura de Campinas)
BARTOLO, Diamantino Lourenço Rodrigues de, (2009). Filosofia Social e Política, Especialização: Cidadania Luso-Brasileira, Direitos Humanos e Relações Interpessoais, Tese de Doutoramento, Bahia/Brasil: FATECTA ? Faculdade Teológica e Cultural da Bahia: (1. Curso Amparado pelo Decreto-lei 1051 de 21/10/1969. Exemplares em Portugal na Biblioteca Municipal de Caminha; Brasil: Bibliotecas do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas;
CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis. Trad. Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.



Venade ? Caminha ? Portugal, 2010
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
bartolo.profuniv@mail.pt
Mestre em Filosofia Moderna e Contemporânea
Universidades: Minho/Portugal; Unicamp/Brasil
Doutor em Filosofia Social e Política
Faculdade de Teologia e Cultura da Bahia -Brasil
Professor-Formador