Quando O Controle Se Transforma Em Ilusão
Por Gisela Kassoy | 13/06/2006 | SociedadeOs gerentes de antigamente devem se lembrar dos tempos do POC, acróstico para Planejamento, Organização e Controle, oriundo da idéia que as coisas basicamente aconteceriam conforme o planejado. Era isso mesmo: com um bom planejamento, e se a turma fizesse as coisas direito, tudo daria certo. As premissas eram essas e nem sempre funcionavam, mas dava para se basear nelas.
Mas o mundo muda. E muda cada vez mais e mais rapidamente, a ponto de corrermos o risco (ou a certeza) de vê-lo mudado quando formos conferir os resultados de nosso planejamento.
Além disso, somos forçados a trazer soluções novas, que nunca foram testadas e que portanto poderão trazer resultados e reações imprevisíveis.
E as pessoas, estão acompanhando esta nova forma de pensar e agir? Como fica a idéia de controle, num mundo com tantas variáveis que não podemos controlar?
Médicos e psicólogos já notaram uma das conseqüências da ilusão de poder controlar o incontrolável, que é o chamado burn-out, o stress típico de quem depende de variáveis externas para obter sucesso.
Educadores, vendedores e demais profissionais cujos resultados dependem do comportamento de outras pessoas talvez estejam mais treinados a administrar imprevistos, mas a surpresa acontece também quando lidamos com estratégias de marketing, lançamento de produtos, decisões de carreira e investimentos financeiros.
É possível ser bem sucedido num mundo assim? Sim, desde que mudemos nossa forma postura e aceitemos que certas variáveis são mesmo incontroláveis. Veja como:
Entenda a Diferença Entre Ser Gerente e Ser Gestor: No Aurélio, trata-se de sinônimos, mas no mundo das organizações, o gerente é mais um administrador, enquanto o gestor é aquela pessoa que, conforme os objetivos da empresa, cria um ambiente propício para que coisas aconteçam e lida criativamente com o acontecido. Faça uma lista de suas tarefas de gerente e suas tarefas de gestor, e adapte sua forma de atuação para cada um dos casos.
Esqueça o Erro, Pense em Surpresas: Recentemente a revista Exame fez uma matéria sobre a transformação de imprevistos em vantagens. Um exemplo foi o Shopping Frei Caneca, planejado para ser um Shopping tradicional que acabou tendo que se adaptar ao público gay, freqüentador da região. Houve um erro de previsão? Ou nós é que temos que mudar a visão de erro? Se passarmos a ver o inesperado como novidades, teremos agilidade para nos adaptarmos às circunstâncias. Foi o que fez a direção do Shopping ao direcionar suas lojas para esse mercado. Clay Carr, autor do livro O Poder Competitivo da Criatividade chama a habilidade de aproveitar fenômenos como o exemplo acima de Administração da Surpresa, uma habilidade que teremos de desenvolver cada vez mais.
Não Tema a Frustração: Um dos brinquedos favoritos da minha infância era o João Bobo, desenvolvido para que as crianças tentassem derrubar, mas que nunca tombava. Pelo contrário, quanto mais violento o golpe que ele levava, mais rapidamente ele se levantava. Pois o João Bobo era muito esperto! Em vez de evitar os tombos, o que ele fazia bem era se recompor para voltar a ficar em pé. Quem deixa de arriscar por temer o erro e a frustração não se dá nem a chance de acertar nem a de vivenciar uma boa surpresa. Como já foi mencionado antes, num mundo mutante os fatores negativos podem rapidamente se transformar em oportunidades.
Planeje, Crie Métricas. Acima de Tudo, Monitore: Contar com o imprevisível não significa deixar os fatos ocorrerem ao sabor do vento. Pode parecer um paradoxo, mas nunca se deu tanta importância ao planejamento, bem como às métricas que avaliarão os resultados. A diferença é que as métricas não existem apenas para avaliações: a função delas são o monitoramento, os ajustes, o aprendizado, cada vez mais sofisticados e mais atentos às variáveis externas.
Erre Rápido e Erre Direito: Alexander Mandic, um bem sucedido empresário brasileiro do mundo da internet fala em errar rápido, ou seja, a capacidade de reagir rápida e eficazmente ao inesperado. Podemos pensar também em errar direito, ou seja, termos planos B, C e D e criarmos rapidamente um plano E.
Aceite os Presentes Que O Mundo Dá: Cada vez mais, as coisas acontecerão de forma diferente de nossas previsões. Aceite e permita-se surpreender. É como acontece com os filhos: nem sempre eles puxam os olhos do pai e o nariz da mãe, mas trazem alegrias que a nossa fantasia jamais imaginaria.