QOHÉLET

Qohélet, ó sábio rei
Faz descer sobre mim
Tua sabedoria
Faz-me ver tua Ilusão
Faz-me perder de razão.



Mostra-me, Qohélet
Faz-me ver o que não vejo
Mostra-me que tens razão
Na tua Magnificente Ilusão



Mostra-me, Qohélet
Que tudo é aparência
Que tudo o que é, não é
Mostra-me?



Mostra-me, Qohélet
Que não vale a pena
Correr atrás do Vento.



Mostra-me,
Que nada há de proveitoso
Debaixo do Sol.

Mostra-me,
Que tudo é igual
Que tudo sempre permanece.



Diz-me, Qohélet
Que estar aqui
Ou não estar
É indiferente.



Diz-me, Qohélet
Que no Mundo
Tal como o Homem
O tempo é indigente.



Por favor, Qohélet
Mostra-me...
Que viver é uma pena
Que a virtude e o pecado
Têm por fim o mesmo FADO.



Por favor, Qohélet
Sacia minha vista
Mostra-me a verdade escondida
Mostra-me o existir que não existia.


Diz ao meu coração
Que não conheça
Nada mais do que Ilusão.



Diz-lhe, por favor, Qohélet
Que não há maldição
Maior do que o Amor
Diz-lhe que tanto pesa
Ser justo ou pecador.



Diz-lhe, Qohélet
Que não busque Salvação
Que conhecimento e sabedoria
São uma tremenda Alegoria.



Ó Qohélet?
Se tudo isso é sabedoria
Então eu não quero saber
Prefiro ficar em agnosia.



Ó Qohélet?
Não quero tua sabedoria
Quero viver de ilusões
Quero sentir a noite fria
E lutar por minhas paixões.

A Natureza não é Ilusão
Mesmo que o digas
Ó justo rei.



Quero morrer como um soldado
Pois me pesa teu pensar?
Mesmo com destino desgraçado
Nunca viverei sem Amar.



Deixa-me doer
Deixa-me sofrer
Deixa-me amar
Deixa-me viver
Deixa-me lutar...



Mas por favor, Qohélet
Realiza minha maior Ilusão
Que é morrer do coração.



Prefiro a glória à vida
Prefiro a Vida à morte
Prefiro o dia à noite volvida
Prefiro a certeza à sorte
Nem que seja a certeza da Morte.


Quero viver Qohélet
Quero viver...
Quero me perder
Mesmo que nunca
Me volte a encontrar.



Não acredito no que me dizes
Não acredito no que me dizem
Eu acredito mesmo sem acreditar
Acredito que a vida não é um mito
Eu acredito...
Muito...
Eu acredito.



Não há memórias, dizes tu
Pois eu te digo,
Tenho memórias futuras
De saudades há muito passadas.



Foste quem estudou,
Foste quem explorou
Com todo o teu conhecimento
Tua visão para sempre se ofuscou.





Esqueceste o sentimento
Acabaste por não viver
A viva verdade do momento.



Não te entendo
Não te quero entender
Enquanto houver uma nesga de Sol
Quero viver, quero sofrer, quero morrer.



Conta-me mais Qohélet
Que quero aprender
Diz-me que viver não é viver
É apenas existir e não ser.



Ó Qohélet
Como detesto tua sabedoria
Se assim fosse
Deus,
O Mundo
Não Ergueria.



Se tudo é negação
E neste mundo não há perdão
Preferia antes ser um nado morto
Ou talvez um simples aborto
Para me redimir da Salvação.
De tanto conheceres
E amares a sabedoria
Esqueceste de ver
E olhar a luz do dia.



Se tudo é Ilusão
Porque me concedeu
Deus tal maldição?



Se tudo é Ilusão
Diz-me então
Meu caro Qohélet
Porque me dói o coração?



Se tudo é Ilusão
Diz-me que nada vale a pena
Diz-me que tudo é em vão
Até mesmo as preces da Oração.



Dizes, Qohélet
Que tudo é Ilusão
E correr atrás
Do vento.
Pois eu te digo,
Invejo-lhe a Liberdade...

Quero correr
Quero saltar
Quero trepar
Quero cair
Na Ilusão
De o Alcançar.



Digo-te, Qohélet
Que o torto também se endireita
Ou esqueceste que toda a Vida
Nasce em espiral,
Seja Homem
Planta
Ou Animal?



Digo-te, Qohélet
Que também o falho
Se pode completar...
Deus criou o certo
Mas também o falho
E só falha
Quem tenta acertar.



Conheces a eternidade do coração
Mas não a sentiste
Pois teu saber
Esterilizou tua emoção.

Por pensares demais
Não viste a vida
Que todo o dia
Por tuas mãos escorria.



Não vês, Qohélet
Que as palavras
Nunca se gastam
Porque a Vida
Fala outra língua
Todos os dias?



Não vês
Que a Palavra
É Deus
E o Som é o Amor?



A vida não é uma tarefa ingrata
Que Deus deu aos homens e os oprime.
Como podes tal dizer?
A vida é Gratidão,
Deus jamais oprimiria
A obra da sua Criação.





Por aplicares tão profundo
Teu coração na busca
De conhecimento e sabedoria
Esqueceste a alegria
Do viver de cada dia.



Não percebeste, Qohélet
Que lutando pelo saber
Lutando por conhecer
No Fim
Corre-se o risco
De deixar de ver?



Não vês, Qohélet
Que o mar
Não se enche
Com a água dos rios
Para que o Homem
Possa a cada dia
Saciar sua sede
De vida?



Nem o ouvido, Qohélet
Nunca se sacia
Da Palavra,
A boca quer sempre
De novo dize-la,
E de cada vez é Nova.


Todos os dias
Surge um novo
Mundo,
Todos os dias
A cada segundo
Deus nos cria (de novo)
Todos os dias
Todos os dias.



Ilusão das Ilusões
Tudo é Ilusão
Dizes tu
Filho de David
Salomão de Salomões.



Real ou Ilusão,
São só Palavras
Que importa
Saber se a vida
É verdade
Ou afinal
É mentira?
Nada,
De nada importa.


Que importa se Tudo é Nada?
Que importa se Nada é Tudo?
Nada,
De nada importa.


Todas as coisas que sucedem
Não sucedem sempre debaixo
Do mesmo Céu,
Pois também o Céu
Não é sempre o mesmo.



O Sol de cada dia
Não é o mesmo
É outro, Qohélet
Outro que Renasceu,
Ressuscitou.



Dizes que o sol
Nasce e põe-se
Visa o ponto
De onde volta
Ao mesmo lugar...



Pois eu te digo, Qohélet
Não há dois pontos iguais
E o que nasce e põe-se
Não é o mesmo
Sol de todos os dias.





Qohélet
Não há dois dias iguais
Não há dois sóis iguais
E é o soprar do vento
Que transporta o ar
Novo de cada dia
A estes seres mortais.



Que importa saber
Se há Ilusão na Felicidade
Ou se é mesmo Realidade?
Nada,
De nada importa.



Que importa se nos fere
A Ilusão da Felicidade
Ou a Ilusão da Verdade?
Nada,
De nada importa.



Esqueceste-te de ver
Que a luz do sol
Não é sempre igual
Que o Azul do céu
É sempre desigual.



Por favor, Qohélet
Perdoa-me,
Não te quis escarnecer
Afinal somos filhos
Do mesmo Ser.



Apenas eu não quero,
Não quero
Pensar,
Pensar em pensar...
Quero viver.



Ilusão ou Realidade
Dois extremos
Da mesma verdade.



Que importa saber
Que tudo é Ilusão
E correr atrás do vento,
Ou que nada de novo
Acontece debaixo do céu?
Nada,
De nada importa.





E também, Qohélet
Também a noite
Não é sempre escura
Pois por vezes a Lua
Se ilumina de púrpura.



Ó filho de David
Como podes dizer
Que não vale
A pena viver?



Esqueceste que
Foi Deus
Quem criou
A existência?



Não é Deus
A Verdade
O Amor
E a Vida?



Deus não é Ilusão
Deus é Real
Deus é Viver.


Esqueceste de ver, (Qohélet)
De ver,
De ver com olhos de ver
De ver sem pensar
De ver sem conhecer
De ver pela primeira vez
De ver de Novo.



Qohélet
Falhaste ao Pensar
Falhaste ao Conhecer
Perdeste a vontade de Amar
Perdeste a vontade de Viver.



Ó Qohélet
Ter a tua ilusória sabedoria
E ter a sabedória Ilusão disso...



A vida é real, Qohélet
Mas em parte
Tens razão,
É Real
Mas é como
Uma Ilusão.




Não, não é Ilusão
É Real
Mas só para quem
A vive com o Coração.



Se amasses,
Ó Qohélet
Se amasses
Tua Ilusão,
Se a buscasses
Do Fundo
Do coração
Verias
Que não,
Que não
Tinhas razão,
Que tudo
É Real
Nada é Ilusão.



Se amasses,
Ó Qohélet
Se amasses
Verias
Como tudo
É Real
Que nenhum
Dia é igualdade
Que o Mundo
É eterna novidade.
Ó Qohélet
Quem sou eu
Para te ensinar
O que seja?
Ninguém,
Ninguém.



Mesmo que
Minha Alma
Não veja
Sempre terei
O olhar
Para me consolar.



Ó Qohélet
Quem me dera
Acreditar
Que a vida
É Ilusão
Ou talvez
Um sonho
E dele
Não mais
Acordar.






Ai, se assim fosse, Qohélet
Não sofreria meu coração
Nem serviria de nada a razão...
Mas dói, Qohélet
Por vezes a Vida dói,
Por vezes o Amor dói,
E a Dor
Essa
Não cabe
Na tua Ilusão,
Não cabe,
É soberana,
É Realidade.



Ó Qohélet
Até mesmo
Um cego
Teria visto
Mais que tu.



Se tiveste frio
Se sentiste medo
Se sentiste insegurança
Ou mesmo choraste
Então viveste...
É essa a Verdade
Tiveste parte na Realidade.



Qohélet
Se o Mundo é Ilusão
Então também é
Maldição.



Não,
Não é maldição
A maldição está
Nos homens,
Não no coração.



Não vês, Qohélet
Que o Mundo
É movimento,
Está em movimento?



Pensas que o movimento
É Ilusão?
Não,
Não é, Qohélet
A Ilusão não move,
A Ilusão engana o homem.



Este movimento
Que tudo move
Quem o pôs em marcha?
Foi divino dedo
De Deus, Qohélet.
Foi Ele,
Só Ele.



Não há maior Ilusão
Do que a própria Ilusão,
Não te iludas,
Os sentidos enganam-nos
Mas o Mundo é Real
Não foi feito pelo Mal.



Na Realidade está
A Verdade
A Justiça
A Felicidade
E a Vida.



A Ilusão de que
Tudo é Irreal
É culpada
Pela reprodução
Do Mal.





A Ilusão
Mata o Amor,
Ó, e sem Amor
Qohélet,
Mesmo que seja
Ilusão
De amar,
Não quero
Aqui estar,
Não quero viver.



O Poder sim
A Sabedoria sim
O Conhecimento sim,
É Tudo mera Ilusão
Mero engano,
Torna-nos Pedra
Mata o Coração.



O Coração é Imortalidade
As Ilusões são Temporaneidade
Mas no Amor está a Eternidade.



O Homem não é só carne, (Qohélet)
O Homem não é carne,
Na carne há Ilusão
Mas a essência
É que é realização.
Dizes, Qohélet
Que aplicaste teu
Coração
A conhecer
A sabedoria
E a insensatez.
De que te valeu?



Não foste menos
Do que um louco
Nem mais que
Um insensato.



Essa tua ânsia
De Sabedoria
Não foi mais
Do que pura
Ignorância.



Na muita Sabedoria
Há muita arrelia
E o que aumenta
O Conhecimento
Aumenta também
O Sofrimento?



Jamais a verdadeira Sabedoria
Jamais o verdadeiro Conhecimento
Será Agonia ou Sofrimento.



O Sofrimento e a Agonia
Advém da falta de Conhecimento
Advém da falta de Sabedoria.



Deus com Sabedoria
Criou o Mundo
Em perfeita harmonia.



Como podes dizer
Que aquilo
Com que Deus tudo criou
Causa aos homens
Arrelia e sofrimento?



Na Verdade, Qohélet
Nunca atingiste
Sabedoria
Nunca atingiste
Conhecimento.



Pois tudo isso
Não é Real,
Foi tua real
Ilusão.



Só Deus é detentor
De Sabedoria
Só Ele sabe,
Só Ele conhece,
Tudo aquilo
Que a Humanidade
Desconhece.



Foste Rei
Mas foste homem
Portanto
Nunca soubeste
Nada
Nunca conheceste
Nada
Pois só no fim
A verdade
Será Revelada.



O segredo, Qohélet
Talvez seja
O livre-arbítrio.
Acreditaste que tudo
No Mundo era Ilusão
E Foi,
Para ti,
Para ti foi.



Eu acredito
Que tudo
No Mundo é
Real
E para mim
É?
Eu acredito.



Todas as realidades
Ou Ilusões
Deste Mundo
Unir-se-ão
Num mesmo
Ponto,
O Uno
Mais profundo.



O segredo, Qohélet
Talvez seja,
Talvez esteja
No livre-arbítrio,
Pois tudo foi feito
A uma só mão,
A mão de Deus.



É essa mão
Que nos dá
A possibilidade
De acreditar
Que tudo é
Realidade
Ou Ilusão?
E tudo É.


Ó Qohélet
Teu saber é ignóbil
Enfraquece a incerteza
Não pensar tem mais pureza
Num simples olhar a Natureza.



Não percebeste
Qohélet
Que todo o Ser
Tem dentro
A eternidade
Num recordar
De Saudade?



O Homem pode envelhecer
Mas a Recordação
Não envelhece
Não morre,
Para sempre permanece.



A Vida não é um Inferno
A Vida não é uma Tempestade
De Inverno,
Viver é alegria, é um sorriso
É uma cópia do Paraíso.