PSIQUISMO  DE  PROFUNDIDADE 

Referida questão, do psiquismo de profundidade, se iniciara, salvo melhor juízo, com o gênio psicanalista Sigmund Freud; para ele, tal psiquismo reflete o conteúdo mais íntimo e mais primitivo de nossa personalidade, juntamente com libido e outras formas de satisfação e prazer; e sugere, mais ainda: instintos e repressões diversas provocadas pelo nosso psiquismo, ou, o que se conhece por ego existencial. Assim, para Freud, nossa mente se explicitaria como sendo composta por três níveis distintos entre si, porém intercomunicantes: 

-Superego: conteúdo de moralidade, do lado superior da vida;

-Ego: patenteando razão, nosso consciente; e

-Id: conforme ditames supracitados. 

Todavia, Freud desconhecia a Alma, o Espírito independente. E ignorava também um princípio fundamental da existência humana: a reencarnação. E, portanto, se a proposição psicanalítica freudiana representou uma revolução positiva ao pensamento da época, a mesma falhara a um seu contexto mais geral, devendo, pois, ser ampliada e corrigida em muitas de suas ilações; e o fora, certamente, por muitos que se lhe seguiram a picada então iniciada. Na obra xavieriana, por exemplo, vemos o aprimoramento da temática em questão, onde se lhe acrescenta o Espírito imortal palingenésico, sendo tal concepção, entrementes, composta por aqueles mesmos compartimentos psíquicos, que ganham denominações de: 

-Super-Consciente;

-Consciente; e

-Subconsciente. 

Ocorrendo que o Espírito, em reencarnando, acaba por remodelar o fundo do seu caráter na nova personalidade psicofísica do mundo, em função da dinâmica progressiva das coisas que, lentamente, vai nos mudando para melhor.

Sendo tais mudanças, e progressos, pois, proveniente das influências benéficas dos agentes educacionais do lar, da escola, do meio social, enfim, de sua nova perspectiva humana, sua nova vida não tão só bio-fisiológica, mas, sobretudo intelectiva e moral. Entretanto, as aquisições do passado são, de alguma sorte, imorredouras, e daí, para a maioria de todos nós, o seu recordar instintivo de labores pretéritos, de observações já encetadas, a emergirem de forma mais ou menos intensa nas telas mnemônicas da nova e presente constituição cerebral. Ora, quem poderá esquivar-se das idéias inatas, das impressões nítidas de que já pudera embalar outras vidas, em outros tempos, em outros lugares? Quem, em sã consciência, poderá dizer que nunca se sentiu envolto por sensações estranhas, idéias vagas e imprecisas, ou muito precisas, de um passado distante, outrora experimentado?

 

Tais impressões, distantes ou mais recentes, indicam terem sido realmente vivenciadas, pois tais registros estão  assimilados em nós mesmos e, portanto, registrados na memória profunda e imponderável do Sub-Consciente, onde além de aptidões e conhecimentos adquiridos, se os houve, lograremos encontrar, igualmente, a origem dessas sensações, estados de espírito enobrecidos uns e menos dignos outros.

 

Com isso, o presente viver, o nosso hoje, não teve seu início no berço, ou, mais especificamente ainda, não teve seu início pela união dos gametas no seio do vaso intra-uterino, e sim, no longínquo e mais distante ontem de eras passadas, pois que o homem é um Ser palingenésico que se liberta pouco a pouco da ignorância de si mesmo para religar-se à Sabedoria do Amoroso Pai, a Inteligência Cósmica Universal. Assim, tudo quanto possa aflorar do Sub-Consciente, tantos estados inexplicáveis, explica-se pela individualidade que já viveu outras vidas, outras experiências, e que ainda regressa para completar seu destino, seus trabalhos interrompidos, sua infinita missão de crescer pela eternidade.

 

Pensar diferente, argüindo que temos tão só, e, uma única existência no mundo, para, então, sermos julgados para sempre, é até compreensível em face do primitivismo humano, que se estende às mais diversas crenças e religiões, todas elas em sua infância interpretativa das coisas, e que amanhã, por contínuos progressos, haverá de acatar idéias mais amplas e mais coerentes de um Ser que é resultado de suas transmigrações, visando constante evolver. Ora, se o Ser recorda, se o Eu pressente diversamente, o fato do pré-sentir, ou do pré-existir, constitui a própria base espiritual do Ser, do Eu que recapitula, rememora e está de retorno ainda para novas expansões do saber, da virtude que cresce, da sensibilidade que se amplia, do coração que se dilata.

 

O presente viver, portanto, tem a mais profunda conexão com a história passada da humanidade, com o pretérito de cada Ser, cada Individualidade social. O hoje, sem dúvida, esteve e está solidário com o ontem, e, no seu viver, vai lançando suas conexões com o futuro, com o amanhã de todos nós. Se a colheita do hoje tem suas raízes plantadas no antanho, não é menos certo que os frutos do amanhã dependerão dos nossos presentes esforços.

 

Alguns autores de tão fascinante tema, do psiquismo de profundidade, não hesitam em afirmar, com razão, que dita região mental é quem dirige, sem que o percebamos, a esmagadora maioria dos nossos atos, explicitando nossas tendências numa maneira especial de ser e de viver, revelando nossas conquistas boas ou más, extraídas do cadinho das múltiplas experiências, onde colhemos o que plantamos de nossa boa ou tortuosa caminhada. Todavia, será inadiável explanar que o esquecimento do passado, enquanto na carne, que, afinal, trata-se de um esquecimento parcial e passageiro, vem a ser, na verdade, o mais perfeito mecanismo do processo palingenésico, sendo, por isto mesmo, providencial e mui benéfico ao Ser que reinicia sua nova condição humana.

 

Notemos que, perpassando os olhos pelas páginas da história, desde remotíssimas eras, verificamos o quanto houve de progressos sociais, culturais, científicos e tecnológicos até a presente Era da Informática, da Astronáutica e das Ciências mais avançadas do mundo. Mas vemos também um penoso quadro de tragédias, de devastadoras paixões, de sangrentas guerras, de animalescos crimes, mesmo de religiosos, que tanto enlamearam e enlameiam a dignidade humana. Que proveito, pois, teríamos nós com a lembrança constante de nossos erros, episódios tão tristes e tão desprovidos de racionalidade? Onde a paz e o equilíbrio para o bom relacionamento social, para o trabalho, para a salutar convivência familiar, se tivéssemos a posse integral do nosso tortuoso passado?

 

Com efeito, a lembrança minuciosa do nosso pretérito, sobretudo de nossas faltas, traria graves inconvenientes às relações sociais, nos entravaria o progresso, nos levaria à loucura neste mundo já tão louco sem as lembranças de antanho. Recomeçando a vida sem suas penosas lembranças, o homem é mais senhor de si, o que não quer dizer que não tenha alguma intuição, pois que tem, de suas experiências transpostas, tendências inatas de sua natureza palingenésica.

 

Portanto, Freud não errou! Apenas precisa, como tudo em nosso mundo, ser retificado e ampliado em suas perspectivas onde o Ego representa a ponta do iceberg mental, e o Id, as profundidades de eras transcorridas por nós mesmos, abarcando os mais diversos “sujets” do passado e mostrando-nos a ampla epopéia de um Ser divinamente histórico, que todavia tem, diante de Si mesmo, o infinito consciencial de sua Angelitude que, trabalhando, conquistará!

 

Articulista: Fernando Rosemberg Patrocinio

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