Da mesma forma que ocorre com o processo psicoterapêutico de adultos, o terapeuta, ao lidar com crianças, terá que lidar com as contingências em vigor na sua vida. Para isso, atuará basicamente de três formas:

  1. reforçando padrões de comportamento considerados adequados já existentes no repertório da criança;
  2. procurando extinguir os padrões inadequados de comportamentos da criança;
  3. instalando padrões de comportamentos adequados e desejados no repertório da criança, os quais ela ainda não possui.

Para obter estes resultados, o terapeuta apresenta ao seu pequeno cliente um novo ambiente e uma nova forma de responder a ele, no qual as consequências para cada resposta que essa criança emite são apresentadas de forma contingente, de acordo com sua adequação à situação vivenciada durante a terapia. Porém, o terapeuta não conseguirá obter resultados eficazes e duradouros se o ambiente no qual a criança vive não obedecer às mesmas “regras” que o ambiente terapêutico do consultório propõe e apresenta à criança. Desta forma, o terapeuta que a atende precisará contar com aliados que estejam presentes no ambiente de seu pequeno cliente. Isso implica na necessidade de o terapeuta atender também as pessoas que são importantes em seu convívio, tais como pais, avós, tios, babás, professores, e outras pessoas que convivam com a criança e interajam com ela de forma significativa.

Num primeiro momento da terapia, o atendimento aos pais/responsáveis é fundamental para que o terapeuta possa identificar e manejar as contingências que instalaram e mantêm os comportamentos e sentimentos da criança considerados como problema. No decorrer do processo psicoterapêutico, os pais/responsáveis devem ser atendidos periodicamente, para que possam ser orientados em como lidar com a criança. Tais orientações envolvem (1) a explicação das contingências que mantêm/produzem os comportamentos inadequados da criança, (2) a maneira correta de contingenciar (dar consequências adequadas a)  seus comportamentos e (3) os comportamentos e sentimentos inadequados, déficits e/ou excessos comportamentais e “sentimentais” que os próprios pais possuem, que interferem na maneira pela qual a criança se comporta.

Entretanto, apenas a orientação não é suficiente para alterar o repertório comportamental dos pais. O terapeuta precisa instalar novos repertórios de comportamentos e sentimentos nos pais/responsáveis, para que as contingências do ambiente no qual a criança vive sejam alteradas e, desta forma, se reproduzam no seu ambiente cotidiano (que chamamos de “natural”) as contingências adequadas que o terapeuta apresenta à criança durante as sessões. Para isso, o terapeuta deve:

  • descrever para os pais as contingências que mantêm ou instalaram os comportamentos-problema da criança;
  • descrever as contingências que instalaram ou mantêm os comportamentos inadequados (tanto excessos quanto déficits comportamentais) dos próprios pais;
  • descrever as contingências atuais (o que acontece, o que os pais podem observar em seu filho) e futuras (o que poderá ocorrer se as contingências atuais se mantiverem desta forma);
  • oferecer modelos de comportamentos e sentimentos para os pais atuarem em diversas situações;
  • apresentar regras para a emissão de novos comportamentos e sentimentos.

Assim, a psicoterapia de crianças constitui-se em um processo que se constrói com base na interação entre o terapeuta, os pais/responsáveis e a criança. Por meio dessa interação, o sofrimento da criança diminui e ela se fortalece, adaptando-se ao seu ambiente. À medida que seus comportamentos e sentimentos são adequadamente consequenciados, a criança aprende como lidar com as mais diversas situações e amplia seu repertório comportamental de forma assertiva e adequada, com o apoio daqueles que lhe são importantes.

 

(Este artigo configura-se na opinião da autora, baseada em sua prática clínica no atendimento psicoterápico de crianças e orientação de pais. Não pretende esgotar a discussão acerca deste tema, nem ser apresentado como material de revisão bibliográfica sobre o assunto - embora o cuidado com o rigor no uso de termos técnicos da área da Psicologia tenha sido utilizado).